Beam Suntory: a chegada de uma gigante nipo-americana das bebidas ao Brasil

Gigante dos destilados desembarca no Brasil com operação própria e apresenta linha de bebidas premium com DNA japonês respaldada por demanda global crescente

“For relaxing times, make it Suntory time.” A sentença é de Bob Harris, personagem interpretado por Bill Murray no clássico cult Encontros & Desencontros, de 2003. Uma década e meia depois, a frase sobre o rótulo japonês de uísque faz ainda mais sentido no Brasil, onde a Suntory – hoje, Beam Suntory – desembarcou neste ano para assumir as operações de suas marcas por aqui, até então tocadas pela Bacardi.

 

“A gente acredita que, embora eles tenham feito um excelente trabalho, com essa decisão teremos mais agilidade em executar nossa estratégia”, explica Walter Celli, presidente da gigante nipo-americana dos destilados aqui no País, além de Paraguai e Uruguai.

 

As operações brasileiras são apenas um braço da Beam Suntory, a terceira maior produtora de destilados do planeta. A empresa ganhou fôlego novo – e o nome duplo atual – em 2014, quando a japonesa Suntory Holdings adquiriu por US$ 16 bilhões a Beam Inc., responsável pela produção de rótulos como o uísque Jim Beam. O sucesso da marca de bourbon no Brasil, inclusive, tem a ver com a mudança da empresa por aqui.

 

“Nos últimos três anos, tivemos uma verdadeira explosão no mercado brasileiro”, afirma Celli. “Claro, partimos de uma base menor, mas desafio qualquer um a pensar em uma marca que triplicou de tamanho em três anos. Foi um crescimento bastante agressivo, e isso fez com que as atenções da empresa se voltassem para o Brasil como uma grande oportunidade.”

 

Outro motivo, segundo ele, foi a fé no futuro do Brasil. A decisão é analisada do ponto de vista das operações globais da Beam Suntory. Dados de 2018 mostram que 58% da receita da empresa são gerados no Japão (é, com folga, líder de mercado), enquanto nos Estados Unidos, país no qual é a segunda maior empresa de destilados, a parcela corresponde a 14%. A estratégia da companhia inclui expandir as operações para dez mercados internacionais que vão ser a grande locomotiva de crescimento da Beam Suntory no mundo. Além de nós, África do Sul, Coreia do Sul, México, Alemanha, China e Rússia estão entre os destinos escolhidos pela empresa.

 

Entre rótulos populares, como a tequila Sauza e o uísque Teacher’s, de grande penetração no mercado nordestino, passando pelos bourbons Jim Beam e Maker’s Mark, um queridinho dos bartenders, o portfólio da Beam Suntory no Brasil ganha adições preciosas, algumas das quais motivadas por uma das grandes febres do mercado de bebidas há alguns anos, o gim. Vindo da Espanha, país onde a febre pelo gim-tônica ganhou fôlego anos atrás e se espalhou pelo mundo, o Larios é um London Dry com caráter mediterrâneo que, além de bagas de zimbro, leva laranja e limão em sua fórmula.  “Acho que entra muito bem no Brasil em razão do clima”, aposta o executivo.

MADE IN JAPAN

 

O grande trunfo da chegada da Beam Suntory ao Brasil é o seu portfólio japonês. A princípio, três rótulos ganham espaço por aqui: o gim Roku, a vodca Haku e o uísque Chita. “Desde que os uísques da Suntory ganharam prêmios de melhores do mundo, os destilados japoneses ganharam uma projeção mundial para além do uísque”, conta Celli.

 

A fama do uísque japonês entre connaisseurs do destilado é uma história com capítulos bem peculiares. Quando Shinjiro Torii, o fundador da Suntory, começou a destilar a bebida em 1924, em Yamazaki, nos arredores de Kyoto, a inspiração vinha dos já tradicionais scotch whiskies. De cara, a ideia não pegou. Com isso, Torii se viu obrigado a refinar sua produção e criar um produto mais específico para o paladar japonês. A personalidade nipônica, antes pensada para satisfazer o público local, foi o que acabou por cativar adoradores pelo mundo afora.

 

Se em 2003 Encontros & Desencontros foi o verniz pop que consolidou o nome da Suntory para uma audiência mais ampla fora do Japão, o ano marcou também o início da ascensão global da marca dentro do universo etílico. Foi quando o single malt Yamakazi 12 anos ganhou a medalha de ouro no International Spirits Challenge, competição referência da indústria. Foi a primeira vez que um uísque japonês conquistou um prêmio dessa magnitude. De lá para cá, o Yamakazi e o Hibiki, um blended malt da Suntory colocado no mercado em 1989, faturam premiações ano após ano em suas mais variadas expressões de idade.

 

O sucesso de público e de crítica do uísque japonês gerou uma espécie de problema para a Beam Suntory que muitas empresas gostariam de enfrentar: a oferta limitada não consegue acompanhar a demanda crescente. Certos rótulos já são encarados como um investimento. Quando Jim Murray, referência global sobre uísque, declarou o Yamazaki Sherry Cask 2013 o melhor uísque do mundo no guia World Whisky Bible de 2015, as garrafas, à época vendidas por pouco mais de US$ 100, sumiram do mercado e passaram a ser encontradas à venda na internet acima de US$ 4 mil. A fama da expressão é justificada: em 12 anos de publicação, era a primeira vez que um uísque japonês batia os maltes escoceses no ranking.  “Todo produto japonês tem uma questão de alocação, porque o mundo hoje quer o uísque, quer o destilado japonês, e eles não têm um volume ilimitado”, admite Celli.

 

TRIO JAPONÊS NO BRASIL 

 

Os três rótulos que chegam ao Brasil, conta o executivo, apostam no DNA para conquistar o público. “Vodca, por exemplo, é uma super categoria estabelecida no Brasil. Só que ninguém ainda lançou uma vodca japonesa aqui. Isso é um diferencial. A gente podia chegar e lançar mais uma vodca do Leste europeu, polonesa, russa. Mas vamos lançar uma japonesa, que é totalmente diferente daquilo que a categoria tem como tradição.”

 

A vodca Haku, cujo nome significa branco, em japonês, é integralmente feita à base de arroz japonês. O terroir do país asiático também marca presença também no gim Roku: dos 14 botânicos que aparecem em sua composição, seis (ou roku, como se diz o número no idioma local do fabricante) são de procedência japonesa, como a flor e a folha de cerejeiras.

 

O Chita, por sua vez, apresenta outra faceta do uísque japonês. O destilado, produzido desde 2015, é o primeiro single grain da Suntory, feito basicamente a partir de milho. Curiosamente, trata-se do mesmo grão que dá a personalidade de bourbons como o americano Jim Beam. No fim, as taças e os copos brasileiros é que ganham nessa fusão nipo-americana. Saúde!

 

 

Para quem pensa em ir para o Japão em busca de uma nova vida, também poderá procurar empregos aqui.