“1945”: o filme sobre o período Pós-Guerra que você precisa assistir

Conversamos com os mentores húngaros por trás de obra que trata de período pouco explorado da Segunda Guerra Mundial

Neste mês, estreia o filme húngaro 1945. Dirigido por Ferenc Török, a obra traz ao público uma visão sobre os três primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial, uma época pouco explorada nos livros de história e na própria indústria do audiovisual.

 

O filme foi lançado originalmente em festivais de cinema internacionais ao longo de 2017, e conquistou alguns prêmios – entre eles, o do Festival de Berlim, um dos mais relevantes do mundo.


A história é baseada no conto de Gábor T. Szántó, “Hazatéres” (“De volta ao lar”, em tradução livre). A trama passa em um vilarejo na Hungria, logo após o final do Holocausto, quando muitos judeus voltavam às suas cidades. O enredo explora as possíveis tensões e reações dos moradores destes vilarejos com a volta dos antigos vizinhos, perseguidos e exterminados durante o conflito.

 

A adaptação para o cinema foi escrita a quatro mãos, uma parceria entre Szántó e Török. Em uma recente visita a Nova York para o lançamento do filme, tive oportunidade de conversar com os dois sobre a produção. Confira abaixo o resultado da entrevista:

 

Como começou esse projeto? O que fez vocês adaptarem o conto para um filme?
Gábor – Quando lancei “Hazatéres” em 2003, muitos falaram que era um conto cinematográfico. E fiquei com essa ideia na cabeça e falei para Ferenc, que é meu vizinho. Ele estava curioso sobre a época, sobre essa primeira reação do pós-guerra. Ele conseguia ver o conto como um Western, e logo começamos a trabalhar no roteiro.

 

Há muitos filmes sobre o Holocausto, o Pré-Guerra e até sobre a Guerra Fria, mas pouco sobre o período do filme. O que chamou a atenção de vocês sobre essa época?
Gábor –
 Eu sempre tive curiosidade sobre essa época, a vida judaica pós-Holocausto. Me parecia que havia um vazio na história. Poucos escrevem a respeito, e poucos querem se dar conta que houve uma vida após o Holocausto na Europa muitas vezes difícil e conflituosa entre os sobreviventes e a população local.

 

Török – Eu sentia a necessidade de contar essa história. Acho que muita gente tem curiosidade e quer saber mais sobre essa época, e há pouca informação a respeito. Falta um link entre a guerra e o regime comunista. Quando apresentamos o filme em outros países como França, Bélgica e Holanda a reação do público foi “Essa é a nossa história também”. É sobre um vilarejo húngaro, mas é uma história universal.

 

Gábor – Acho que entre as grandes narrativas do Holocausto e depois da ditadura comunista, estes três anos de transição não pareciam tão relevantes. Mas essas pequenas histórias, histórias de pessoas, do dia-a-dia, contam muito sobre a sociedade e o verdadeiro drama que os judeus sobreviventes passaram ao encontrar as pessoas que tomaram posse de suas propriedades quando foram deportados.

 

Qual foi a maior surpresa na produção do filme?
Gábor – Como o estado fez com que a sociedade se envolvesse no sistema. Esse foi um elemento-chave, porque o leste europeu era muito pobre. O estado deixava a população tão fragilizada que parecia não ter outra opção. E era muito difícil ir contra o regime, ou negar uma propriedade oferecida pela metade do preço, ou até de graça, em uma economia ruim. Isso foi tanto no regime nazista quanto n comunista. Houve redistribuição de propriedades e muita gente morreu, ou foram brutalizados ou enviados a campos de trabalho e prisão. Os dois regimes foram muito cruéis.

 

Török – Para mim, foi surpreendente ver as histórias de resiliência. Essas pessoas perderam tudo: dinheiro, família, propriedade. Mas sempre havia uma necessidade de seguir em frente, ficar no país e reconstruir, ir para Israel e ajudar a construir o país ou emigrar para as Américas. Eram escolhas muito grandes, feitas sem ter tido tempo de lidar com as perdas.

 

Imagino que este seja um tópico um tanto tabu na Europa. Como foi trabalhar isso e apresentar o tema para o público?
Török –
A verdade é que parte da população se sentia culpada. Era difícil ver a sua própria participação naquela tragédia. E isso era deixado em segredo. Não se passava a história adiante,  contá-la para os filhos e netos. Hoje, quase setenta anos após este período que estamos falando a respeito, fazemos as perguntas básicas sobre a época.

 

O público europeu, principalmente, respondeu muito bem ao filme. Ao que vocês atribuem essa receptividade do público?
Gábor – É uma história bastante singular, filmada de uma forma diferente. O personagem central é interessante. A história dá voz às experiências pessoais do público, seja numa cidade pequena no México, na Turquia ou no pós-guerra da Europa. O filme não é apenas sobre a época, mas sobre a estrutura de poder de uma sociedade e o comportamento humano. Estes são tópicos universais.

 

O filme foi lançado em 25 países, e foi extremamente bem recebido pelos críticos e nos festivais de cinema, vocês foram chamados para palestras no mundo todo. O que deixou vocês mais surpresos com o sucesso da obra?
Gábor –
 Acho que o mais importante é que o filme abriu as portas para debates e mais estudos sobre o fenômeno que aconteceu no pós-guerra. Com isso, hoje estamos vendo mais pesquisas e artigos serem publicados. Viu-se que havia a curiosidade sobre a época e espaço agora para este diálogo.

 

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