10 perguntas para Michel Cheval, Managing Director da Montblanc Brasil

À frente da maison no país desde 2018, o executivo falou sobre luxo, tradição e tecnologia com exclusividade para a VERSATILLE

Por Raquel Drehmer

 

Quando se fala em Montblanc, a primeira imagem que vem à mente é, naturalmente, a de uma bela caneta-tinteiro. Hoje, no entanto, a maison alemã oferece muito mais que isso: lado a lado com seus tradicionais itens de escrita, relógios mecânicos e acessórios de couro estão produtos tecnológicos, como smartwatches e headphones. Em comum, o luxo e o design único que carrega 114 anos de história.

 

Michel Cheval, Managing Director da Montblanc Brasil, conversou com exclusividade com VERSATILLE sobre a união de tradição e tecnologia e garante: há espaço para todos, pois são produtos complementares, sem concorrência interna. E, otimista, observa que o mercado do luxo vai muito bem, apesar do momento de crise.

 

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VERSATILLE – No processo de expansão e modernização das linhas de produtos da Montblanc que observamos nos últimos anos, qual é a estratégia da empresa para manter o equilíbrio entre a tradição da marca e a abordagem voltada à tecnologia?

Michel Cheval: A Montblanc vem ampliando o seu portfólio e oferecendo variadas categorias de produtos porque somos uma maison múltipla, que avança com ousadia e criatividade no desenvolvimento de produtos que atendam todas as necessidades dos seus usuários. Queremos ser verdadeiros companheiros da vida dos nossos clientes.

Assim, o cliente Montblanc pode contar com os consagrados instrumentos de escrita, relógios de manufatura suíça, uma ampla oferta de artigos de couro, malas de viagem, acessórios e, mais recentemente, as novas tecnologias, representadas pelo smartwatch Summit, a experiência de escrita aumentada Augmented Paper e os headphones.

Em todos eles, é possível reconhecer os códigos de design, a qualidade de material e o fino artesanato que fazem do emblema Montblanc o selo final de desempenho, qualidade e uma expressão de estilo sofisticado.  Nosso objetivo é realmente combinar o melhor dos dois mundos, usando a última inovação tecnológica enquanto adicionamos elementos distintos do design de luxo. São produtos complementares, não há concorrência.

 

 

Na prática, qual é o resultado mais significativo desse movimento: a chegada de um novo público ou a adaptação do público tradicional às novidades?

 MC: Nossos produtos são criados pensando tanto no cliente que já é usuário e admirador da marca quanto naqueles que queremos atrair e conquistar. Como todos levam os códigos de design da maison, são facilmente reconhecidos como um produto Montblanc, satisfazem desde o cliente mais tradicional até as novas gerações.

 

Que lugar o público brasileiro ocupa no posicionamento estratégico global da Montblanc?

MC: O Brasil sempre foi importante para a Montblanc, tanto que a maison está presente no país desde o início dos anos 1990, de modo ininterrupto. Nessas três décadas, a expansão foi enorme, com a abertura de seis boutiques próprias em São Paulo, duas no Rio de Janeiro, e em Curitiba, Belo Horizonte, Cuiabá e Campinas, além de dezenas de joalherias credenciadas para distribuição, de norte a sul do país. Nossa história no Brasil é marcada pelo pioneirismo: fomos a primeira maison de luxo a estabelecer uma boutique própria no país, antes mesmo da boutique de Nova York!  Fomos os primeiros, também, a criar uma plataforma de e-commerce no Brasil, entre todas as marcas irmãs do grupo Richemont.

 

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A boutique repaginada do Shopping Pátio Higienópolis pode ser considerada um “símbolo de importância” do país para a marca?

MC: A modernização das nossas boutiques faz parte do projeto arquitetônico global, criado para unificar a identidade visual e o design de todas as boutiques da marca no mundo. Assim, não importa onde estiver, o cliente sempre saberá que se trata de uma boutique Montblanc, porque irá reconhecer nas cores, no mobiliário, nas vitrines, os códigos de design da Maison. Não estou autorizado a declarar a posição do Brasil no ranking global, mas posso afirmar que estamos entre os principais mercados.

 

A caneta continua sendo o “cartão de visitas” da Montblanc? Como manter o status de objeto de desejo de algo que vem sendo gradativamente substituído por dispositivos eletrônicos?

MC: Sem dúvida, os instrumentos de escrita sempre serão o nosso “cartão de visitas”. É a categoria que nos identifica e leva a nossa marca para o mundo.  E sempre será objeto de desejo, porque está profundamente enraizada com o conceito de celebração, com os momentos importantes. Está presente na formatura, na assinatura de contratos, no casamento, nas grandes ocasiões, passa do avô para o neto, carrega a história da família.  A escrita à mão tem o poder de organizar os pensamentos, de refletir as emoções melhor do que qualquer teclado. Tem perenidade. Por isso, sempre haverá espaço para os instrumentos de escrita. Durante esse período desafiador que vivemos, o instrumento de escrita da Montblanc se confirma como uma aquisição segura. Especialmente nossas séries limitadas, que têm mercado entre colecionadores.

 

Caneta-tinteiro Montblanc Writers Edition Homage to Victor Hugo (Reprodução Instagram @montblanc)

 

E onde entra a escrita digital nesse contexto?

MC: A escrita digital tem um lugar garantido no cotidiano atual, por meio dos celulares, tablets e laptops. Está integrada ao mundo dos estudos e do trabalho. Por isso, a Montblanc criou o Augmented Paper, ou Papel Aumentado, que une os dois universos – online e offline – em um único acessório. Foi lançado em 2016, revolucionando a experiência da escrita. Tem o formato de um envelope feito de couro de bezerro italiano e inclui um digitalizador eletrônico, um bloco A4 e uma esferográfica especial da linha StarWalker. Por meio do aplicativo Montblanc Hub, os textos escritos à mão são digitalizados, podem ser compartilhados, alterados, arquivados. O aplicativo reconhece a escrita manual em 11 idiomas e digitaliza com perfeição as notas manuscritas.

 

Além da caneta, quais são, hoje, os top 5 objetos de desejo da Montblanc?

MC: A célebre caneta-tinteiro Meisterstück, um clássico desde que foi lançada, em 1924, continua no topo da lista. É o primeiro produto da Montblanc desejado por todo mundo. Depois vêm os relógios, com destaque para o Geosphere 1858, o smartwatch Summit 2, as carteiras e mochilas de couro e as abotoaduras, não necessariamente nesta ordem.

 

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Há espaço para qualquer frente da tecnologia no mercado de luxo? Hipoteticamente falando: podemos pensar, em um futuro indefinido, em computadores ou celulares da Montblanc, por exemplo?

MC: Nosso CEO, Nicolas Baretzki, sempre afirmou que não estamos competindo com empresas de tecnologia. Somos uma maison de luxo com um portfólio vasto. Quando entramos na categoria de tecnologia e na de wearables, nosso objetivo era garantir que aplicássemos os mesmos valores do luxo. Mergulhar no segmento de tecnologia foi um movimento lógico, a entrada neste mercado foi estratégica.

De todo modo, como bem explica Baretzki, luxo é criar uma peça que tenha verdadeiro significado e valor para seu proprietário. Continuamos a valorizar muito as habilidades dos nossos artesãos e a integridade de nossos projetos. Mas também evoluímos e estamos de olho no que vem a seguir na vida de clientes cada vez mais conectados. Chegamos à conclusão de que um relógio inteligente e um relógio mecânico tradicional podem coexistir na vida de seus proprietários. Um pode ser para sempre, o outro pode ter uma vida útil mais curta, mas ambos serão artigos de luxo equivalentes.

 

Qual é sua percepção do mercado de luxo, como um todo, neste momento? Há otimismo?

MC: Sou otimista, considerando o mercado do luxo de maneira global e aqui no Brasil, país com uma clientela local importante. Minha percepção é que a retomada do negócio de luxo já está acontecendo de maneira significativa e vai acelerar até o fim do ano, se não tivermos uma segunda onda com problemas sanitários. Vemos que as marcas reconhecidas, com tradição bem ancorada, produtos de qualidade e um design atraente, que construíram um vínculo relacional com seus clientes através de serviços adequados e personalizados, estão se destacando nesse período desafiador. Está sendo assim com o alto luxo, também.

 

 

Olhando para trás, quais são os três momentos mais memoráveis, em termos de negócios, da história da Montblanc?

MC: Penso que foi o lançamento da Rouge et Noir, em 1906, a primeira caneta-tinteiro antivazamento do mundo, abrindo caminho para a Meisterstück, em 1924, até hoje a número 1 entre os instrumentos de escrita. A aquisição da Minerva, uma tradicional manufatura de relógios suíços, com mais de 150 anos de existência, que deu para a Montblanc a expertise e o endosso para se estabelecer no restrito e exigente mercado de alta relojoaria. E o lançamento do smartwatch Summit, em 2017, que introduziu a maison no universo de produtos tecnológicos.

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