“Tropa de Elite mostra como a violência e a corrupção afetam nosso povo”, diz André Ramiro
Ator fala sobre novos projetos na televisão e no teatro e faz balanço sobre Matias, personagem do filme de José Padilha até hoje lembrado nas ruas
André Ramiro ficou conhecido do grande público há 11 anos no lançamento de “Tropa de Elite” interpretando Matias, um policial honesto e cheio de sonhos que acabou se tornando violento à medida que levava a cabo seus trabalhos à frente do BOPE no Rio de Janeiro. Até hoje lembrado pelo personagem, o ator se sente lisonjeado com o reconhecimento do público.
“Considero importante pra todo ator ser lembrado por um personagem que afetou positivamente as pessoas. Infelizmente, os problemas sociais (vistos no filme) serão atuais por bastante tempo enquanto nossos governantes não tiverem empatia e respeito pelo população brasileira”, contou em entrevista à Versatille.
Em cartaz com o musical “O Frenético Dancin’ Days”, de Nelson Motta, Patrícia Andrade e direção de Deborah Colker, o ator está enfrentando um duplo desafio: estrear no teatro e cantar para o público. “Foi um desafio com a dança e a voz. Mas, como sou rapper, levei minha experiência para o processo. Saí melhor não só como artista, mas como pessoa”, disse.
Confira o bate-papo logo abaixo:
André, você está no elenco de Ilha de Ferro, uma série ainda sem data de estreia, disponibilizada para um serviço de streaming, o Globoplay. Você vê esse novo nicho de mercado? Acha que é benéfico para o meio?
Estamos no século XXI, em meio a era moderna na qual a tecnologia está cada vez mais avançada, e isso reflete nas mídias. O mercado está se adaptando principalmente porque sabe que os jovens dessa nova era consomem mais produtos no computador e na internet do que na TV aberta. Como tudo na vida e toda mudança, temos prós e contras. No caso dos streamings, acredito que o desafio seja proporcionar valores de assinatura cada vez mais acessíveis pra que todos. Mas não deixem de assistir. A série está eletrizante. Foi um prazer trabalhar com Afonso Poyart, toda equipe e elenco.
Durante muito tempo, os atores nos diziam sobre a paixão por filmes e teatro. Agora muitos deles falam sobre séries. Qual a sua relação com seriados, de forma geral? Você tem algum favorito? Gosta de maratonar?
Tenho um profundo respeito pelo teatro e acredito ser importante pra todo ator viver essa experiência. O teatro dá mais tônus. É a base pra qualquer trabalho dramatúrgico mesmo em cinema, TV ou séries. No mais, sou eclético gosto de tudo que envolve dramaturgia. Gosto de assistir a boas peças, bons filmes, boas novelas e adoro maratonar séries. A última que maratonei foi ‘The Crown’.
Aliás, você está estreando no teatro com um musical, “O Frenético Dancin’ Days”. Como foi a sua preparação? Você já cantava?
Tenho quase 11 anos de carreira e até então não tinha tido a oportunidade de fazer teatro e me desafiar no palco. Foi a minha estreia. Tivemos dois meses de preparação e montagem do espetáculo com Deborah Colker e sua equipe. Foi um desafio com a dança e a voz, mas, como sou rapper, levei minha experiência para o processo. Aprendi muito com a Deborah e com todos os meus companheiros de elenco que me receberam com muito carinho e respeito. Gratidão a Deborah Colker, Nelson e Joana Motta, Alexandre Elias e toda equipe por ter me proporcionado essa vivência onde saí melhor não só como artista, mas como pessoa.
André, você ainda é muito lembrado pelo personagem Mathias, de “Tropa de Elite”. Em sua opinião, como o filme envelheceu? Você acha que os problemas apresentados no longa ainda são atuais?
Sim, sou muito abordado, lembrado pelo Matias e “Tropa de Elite”. Considero importante pra todo ator ser lembrado por um personagem que afetou positivamente as pessoas. Minha busca nesses 11 anos são novos desafios e personagens que tenham vidas e conflitos cada vez mais diferentes dos anteriores. Acredito que estou no caminho certo. O filme se tornou um dos clássicos no cenário nacional e internacional abordando nossos problemas sociais, segurança pública e corrupção em nossa base governamental. Infelizmente, esses problemas serão atuais por bastante tempo enquanto nossos governantes não tiverem empatia e respeito pelo população brasileira e não só interesses próprios. Pagamos um dos impostos mais caros do mundo e não somos ressarcidos à altura, não temos boa educação, não temos boa saúde, não temos segurança, não temos bons salários, não temos oportunidades iguais e nem projetos sociais que ajudem o jovem de baixa renda a se desenvolver e ser inserido no mercado de trabalho. Infelizmente.
Aliás, na internet, militantes chegam a dizer que Tropa de Elite expôs um lado fascista da sociedade. Alguns falam que o filme foi mal compreendido e até despertou em alguns fãs o desejo de violência nas pessoas. Como você toda essa discussão? A tortura é abordada e mostrada no filme de um jeito correto, em sua opinião?
Perdoem-me, mas, tortura do jeito correto? Se existe um jeito certo de torturar alguém desconheço e tão pouco acredito ou me identifico com esse tipo de prática. Senhores, com todo respeito e humildade que me cabem, minha referência é Jesus Cristo, que foi torturado e assassinado por pregar a luz, o amor ao próximo e o respeito às diferenças. Cristo disse “ame ao próximo como a ti mesmo” não “julgue ao próximo como a ti mesmo”. Isso define muita coisa pra mim. O filme “Tropa de Elite” é uma denúncia sobre a sociedade que criamos, a sociedade que temos. Mostra como a violência e a corrupção afetam nosso povo. Ele levanta uma questão e duas únicas perguntas “É essa a sociedade que queremos? O que estamos fazendo pra torná-la melhor?”.