Terroir Dourado

Produzidos na cenográfica região de Millahue, a partir de recursos enológicos de alta precisão e conceitos holísticos, os tintos da Viña Vik impressionam pela elegância europeia mas sem abrir mão da expressão e sotaque chilenos Espetado

Produzidos na cenográfica região de Millahue, a partir de recursos enológicos de alta precisão e conceitos holísticos, os tintos da Viña Vik impressionam pela elegância europeia mas sem abrir mão da expressão e sotaque chilenos

 

Espetado no centro do mapa do Chile, bem no “quintal” de Santiago, a pouco menos de duas horas da capital, o Valle de Colchagua é uma das mais antigas e famosas rotas do vinho daquele pródigo país andino, conhecido pelos múltiplos terroirs. Em uma faixa transversal que liga a Cordilheira dos Andes ao Pacífico, com distância contínua de apenas 120 quilômetros, semeiam-se parreiras, desde meados do século 19. Paraíso das cepas tintas, lá se perpetram alguns dos melhores Carménère, Cabernet Sauvignon, Syrah e Malbec chilenos.

 

Pois bem: também nesse ponto do país se esconde a sub-região do vale de Millahue (ou “sítio de ouro”, no idioma nativo mapuche), lugar de paisagem cenográfica e terroir ideal apinhado ao norte de Apalta, onde, desde 2006, florescem 400 hectares de vinhedos de qualidade excepcional pertencentes à Viña Vik — uma moderníssima bodega de vinhos-butique (com produção limitada), do multiempresário norueguês Alexander Vik.

 

Cultivados a partir de recursos enológicos de alta precisão e conceitos holísticos, as variedades Cabernet Sauvignon, Carmenère, Cabernet Franc, Merlot e Syrah são colocadas à disposição de um tarimbado trio de enólogos liderado pelo francês Patrick Valette (ex-ChâteauPavie, um dos Premier Grand Cru de Bordeaux, e ex-Rutherford Wines, de Robert Mondavi (EUA).

 

O resultado? Vinhos multicastas únicos, de paladar e perfil europeus, próximos aos vinhos-conceito de Bordeaux, sem prescindir, contudo, de identidade e sotaque singulares expressos pelo terroir local, que enfatiza a fruta. Localizado em um sítio recortado por vários desfiladeiros, as vinhas da vinícola Vik espalham-se por 12 pequenos vales. Há grande variedade de solos, todos pobres, com diferentes microclimas e distintos climats (este último é um conceito restrito, a partir do qual as características do solo de uma parcela diferem-se a poucos metros da outra).

 

 

Com pouquíssima chuva durante o ano todo, os dias em Mallhue apresentam temperaturas moderadas e constantes, com excelente exposição solar e aos ventos, e noites muito frias. No “vale dourado”, a gelada brisa costeira chega na madrugada, vinda do Pacífico pelo caminho formado pela montanha Los Lazos e atravessa toda a propriedade da Vik, resfriando os vales e prevenindo a desidratação das uvas. Touchée! Com isso, reduz-se de modo natural o aparecimento de fungos nos cachos.

 

Tais peculiaridades foram minuciosamente estudadas pela solerte equipe de Valette a fim de determinar a escolha das castas plantadas em cada quartel, já que o objetivo do dono, o ultraexigente e perfeccionista Alexander Vik, sempre foi o de produzir, a partir do começo do projeto, o primeiro Premier Grand Cru sul-americano, um vinho de alta gama de classe mundial.

 

Com produção iniciada em 2006, a Vik utiliza o sistema de plantio por porta-enxerto de vários tipos, dependendo de cada microterroir. As videiras foram plantadas em sistema adensado (de oito a dez mil plantas por hectare), visando ao desenvolvimento de raízes mais profundas. A vinificação ocorre dentro de imponente construção de design futurista em arco precedido por um espelho d’água pontilhado com rochas de granito da região, assinada pelo inventivo arquiteto chileno Smiljan Radic.

 

No interior ficam abrigados modernos tanques de fermentação e equipamentos vinícolas de última geração, além de uma sala de barricas com mais de 1.600 exemplares de carvalho francês das melhores tanoarias europeias, como a Seguin Moreau, a Demptos e a Sylvain, em que o vinho costuma repousar sábia e pacientemente por 23 meses, antes de ser engarrafado. Concebida por meio de práticas enológicas bem definidas e recursos de sobra, a Vik utiliza, por exemplo, leveduras nativas, colheita noturna e seleção manuais, feitas cacho a cacho, apenas por mulheres, entre outros requintes de produção.

 

Além disso, prioriza o emprego de energia solar e reaproveita água da chuva – armazenada em um lago – para irrigar os 400 hectares de vinhedos. Ou seja, todo o projeto vinícola é baseado em conceito holístico de sinergia entre a terra, o homem, o clima e a alta tecnologia, unindo antigas e modernas maneiras de se fazer vinhos. “O mundo perfeito do vinho é o do equilíbrio”, costuma repetir como um mantra o enólogo-chefe Patrick Vallete, filho de pai francês e mãe chilena.

 

A primeira safra dos rótulos Premium da Viña Vik aconteceu em 2009 e, em seguida, essa bodega-butique produz a cada ano um único e exclusivo tipo de vinho: um refinado blend de corte bordalês que inclui a Cabernet Sauvignon (55%), Carménère (29%), Cabernet Franc (7%), Merlot(5%) e Syrah(4%), a partir das melhores variedades garimpadas nos 12 diferentes e representativos terroirs. E, como o método de trabalho holístico, perseguido pelos idealizadores, cujo princípio aristoté-lico assegura que “a soma é maior do que as partes”, esse multicastas chileno cumpre na taça o que efetivamente promete: ser maior do que as partes.

 

Ou seja: é um vinho de excepcional qualidade que apresenta no nariz notas de frutas negras, especiarias e tabaco, num rico caleidoscópio de aromas e texturas. Em boca, é longo e complexo, com taninos elegantes, já que a madeira, bem integrada, respeita a evolução dos aromas, garantindo de quebra um bom potencial de guarda (US$ 140).

 

Considerados dos dez melhores da América do Sul pela Forbes americana, os vinhos da Viña Vik são importados com exclusividade pela World Wine de São Paulo (US$ 140) (worldwine.com.br). Em tempo: a vinícola também dispõe, dentro da propriedade, de um hotel de luxo e um restaurante charmosíssimo.

 

Ousadia do arquiteto uruguaio Marcelo Daglio, o prédio de linhas futuristas com impactante fachada de titânio abriga 22 ultra confortáveis apartamentos decorados individualmente com obras de arte, murais e esculturas de artistas chilenos como Sebastián Valenzuela e Pablo Montealegre, além do sofisticado spa de vinho. Vale, portanto, a dica, seja pela qualidade dos vinhos, seja pela estadia de puro hedonismo.

 

Adega por Marco Merguizzo | Matéria publicada na edição 88 da Revista Versatille

 

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