Sir Peter Blake
Para marcar a remodelação do Mandarin Oriental Hyde Park, em Londres, o legendário artista pop criou uma peça única de arte pública que será enrolada ao redor do edifício pelos próximos nove meses
Para marcar a remodelação do Mandarin Oriental Hyde Park, em Londres, o legendário artista pop criou uma peça única de arte pública que será enrolada ao redor do edifício pelos próximos nove meses
“Espero que não cause um engarrafamento de trânsito”, graceja o padrinho da pop art ao falar sobre o mais recente trabalho. Medindo gritantes 64 metros de comprimento por 25 metros de altura (o equivalente ao tamanho de 38 ônibus ‘double-decker’, os londrinos ônibus de dois andares), Our Fans é uma colagem de quase cem das pessoas mais proeminentes de Londres, de Bryan Ferry e Helen Mirren a Paul MacCartney. É inteiramente apropriado que McCartney e Ringo Starr devessem aparecer: a cena da colagem faz reverência a um dos trabalhos de arte mais icônicos de Blake: a capa do álbum dos Beatles Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967.
O fato de ser uma colagem não é coincidência. Graduado no The Royal College of Art, Blake teve o primeiro contato com essa mídia ao descobrir o trabalho do artista alemão Kurt Schwitters, nos anos 1950. A partir daí, a colagem tornou- -se sua marca registrada.
Quase desde o início, Blake era conhecido por combinar imagens da cultura pop com obras de arte e era visto como uma figura significativa no movimento britânico emergente da pop art. Em 1961, seu trabalho foi exibido na exposição Young Contemporaries juntamente a artistas como David Hockney e RB Kitaj. Um ano depois, fez a primeira exposição-solo na Portal Gallery, em Londres. A produção de pinturas, esculturas, gravações e impressões é prolífica e, como Our Fans, demonstra que ele ainda consegue se divertir ao criar colagens de recorte. O artista conversou com Versatille sobre esse projeto.
VERSATILLE — Como foi compilada a lista de pessoas que aparecem no Our Fans?
PETER BLAKE — É uma multidão — atores, músicos, dançarinos, designers — fã do Mandarin Oriental. Muitos deles apareceram na campanha He’s a Fan/She’s a Fan e outros foram adicionados. Com sorte, as pessoas que passam tentarão localizar celebridades que reconhecem.
VERSATILLE — Qual foi a inspiração por trás da peça?
PETER BLAKE — Alguns dos meus primeiros trabalhos foram colagens de multidões. Essa peça está no espírito do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967. De fato, aquela não foi uma colagem do mesmo jeito que essa. Aquela foi construída como um trabalho de arte em tamanho real no qual cada cabeça foi cortada fora. Então foi fotografada e encolhida para mais ou menos 30 centímetros quadrados.
VERSATILLE — Foi complicado conseguir a composição certa?
PETER BLAKE — Agora, sou muito bom em posicionar pessoas. Penso sobre as linhas a seguir. Por exemplo, onde os ombros devem estar e a justaposição de cores. Algumas das imagens são apenas instantâneos de cabeças, então, elas vão todas para a fila de trás. As imagens de corpo todo ficam na fila da frente. As pessoas sentadas, tais como Whoopi Goldberg, ficam muito bem porque parece que estão na sacada do prédio.
VERSATILLE — Qual foi o processo de design por trás do trabalho?
PETER BLAKE — Um dos meus processos é fazer um jogo de ilusão. No passado, alguma coisa poderia ter sido pintada para parecer uma colagem com um efeito trompe-l’oeil. Com a colagem, o objetivo é tentar criar a mesma ilusão para fazer o trabalho parecer uma pintura. Frequentemente, quando estou trabalhando numa colagem, corto imagens usando tesouras ou um bisturi e, então, colo as imagens. Mas, para o projeto do Mandarin Oriental, trabalhei com um operador de computador. As imagens foram recortadas no computador e trabalhamos na colocação delas juntas. É um jeito muito mais fácil de movimentar coisas e fazer ajustes.
VERSATILLE — Quanto tempo demorou para você completar?
PETER BLAKE — No total, demorou mais ou menos 60 horas. Trabalhamos nela por cinco dias, e, mais tarde, voltamos e fizemos algumas mudanças.
Clique nas imagens para ampliar
VERSATILLE — Este é o maior trabalho de arte que você já fez?
PETER BLAKE — É, certamente, a maior peça desse tipo. Em 2013, fiz uma colagem similar para o Mandarin Oriental, em Hong Kong, quando o hotel estava celebrando o 50° aniversário. Apresentava imagens de 26 celebridades — fãs do grupo — feitas pela fotógrafa Mary McCartney, mas media mais ou menos 12 metros de comprimento. Peguei todas as imagens e, então, consegui por um leque na mão de cada um. Também, no ano passado, fiz o design Dazzle Ferry para o Tate Liverpool como parte da sua World War One Centenary Art Commissions. Aquele tinha 46 metros de comprimento. Em comparação, esse trabalho de arte é enorme. Tem 64 metros de comprimento. Mas trabalhei em uma escala pequena e então a colagem foi aumentada para um tamanho gigante.
VERSATILLE — Do que você gostou mais sobre estar envolvido neste projeto?
PETER BLAKE —É muito diferente do meu jeito usual de fazer as coisas. Uma colagem leva muito tempo. Tudo tem que ser cortado. Nesse foi mais o trabalho de arranjar as figuras e fazê-las ficar bem juntas. Assegurar que ninguém teve um ombro cortado ou uma perna faltando – essa é a habilidade necessária. Foi um projeto incrível.
VERSATILLE — E seu projeto atual?
PETER BLAKE — Estou trabalhando numa série de colagens baseadas na recente exposição na Royal Academy of Art, chamada Joseph Cornell: Wanderlust. Cornell foi um artista do século 20 que viveu e trabalhou em Nova York. Ele nunca viajou, mas sabia tudo sobre a Europa e a amava, então eu pensei em mandá-lo numas férias póstumas. Ele era um homem bem taciturno, então eu gostaria que ele se divertisse.
VERSATILLE — Pode nos contar mais sobre essa série de colagens?
PETER BLAKE — A primeira peça se chama Fancy Dress Ball. Eu extraí uma imagem de cartão-postal do Tower Ballroom, em Blackpool, e ampliei. Estou, agora, arranjando as figuras. Há uma outra, de Viena, chamado Blind Man‘s Bluff — dá pra ver o jogo em andamento na foto — e uma terceira retratando um mercado de pulgas em Paris. A série não é um trabalho como tal, embora as peças possam acabar sendo impressas. Faço muitos trabalhos de arte aplicada bem como de arte nobre, mas a colagem está sempre lá. E algo que faço constantemente.
VERSATILLE — Você tem um hotel Mandarin Oriental favorito?
PETER BLAKE — Só visitei o hotel de Londres, onde jantei no restaurante Heston Blumenthal, mas sou um grande fã do Mandarin Oriental Group.
VERSATILLE — Quais das outras propriedades do grupo você tem vontade de visitar?
PETER BLAKE —Não vou a Barcelona desde 1957, quando fui assistir a algumas corridas de touros. Gostaria de voltar. Também gostaria de ficar no Mandarin Oriental de Paris. Ambas as cidades são grandes destinos – gostaria de tirá-las da minha lista
ENTREVISTA por humberto rodrigues | Matéria publicada na edição 96 da Revista Versatille