Por que a Família Real precisa de Meghan Markle

Para se manter relevante no século 21, a realeza britânica precisa se atualizar. A convite da VERSATILLE, a coach (e fã de Meghan) Thais Roque mostra como a mais nova duquesa contribui para isso

 

Vou começar com um aniversário bobo, mas não desista de me ler! Em setembro, fez um ano que Meghan Markle fechou sozinha a porta do próprio carro, episódio que provocou enorme polêmica nas redes sociais. Sempre lembro esse caso e, quando comento com alguns amigos, as pessoas associam de imediato a uma nota de site de famosos que, alguns anos atrás, nos informou que Caetano Veloso havia estacionado no Leblon.

 

Exceto pelo fato de serem celebridades sobre rodas, as semelhanças param por aí. Porque o gesto de Meghan, embora pequeno, é apenas um dos muitos sinais do quanto ela representa o futuro da realeza. Eita, mas só de bater uma porta sozinha, amiga?

 

Explico: absolutamente tudo que o envolve a nobreza britânica é cercado de tradição. Ritual atrás de ritual. A rainha, por exemplo, usa sua bolsa para se comunicar com sua equipe, sabia? Se está interagindo com alguém e troca o acessório de braço é um sinal de que quer encerrar a conversa – mas, devido à grandiosidade do posto que ocupa, jamais cometeria a indelicadeza de cortar o papo. Um usuário do Twitter comentou, na época do episódio do carro de Meghan, que nunca tinha visto uma princesa fazer isso. Nos programas de televisão no Reino Unido, especialistas em protocolo ressaltavam que há funcionários cuja função é exatamente ocupar-se de abrir e fechar portas.

 

Para mim, o perfil da duquesa de Sussex (título que ela recebeu ao deixar a vida de atriz de Hollywood para se casar com o príncipe Harry) representa muito para as mulheres dos nossos tempos. No meu trabalho, lido com muitas delas diariamente, e percebo como precisamos ter na mídia exemplos femininos fortes, que não se conformam em levar a vida ouvindo gente dizendo que lugar ocupar ou que papel desempenhar. Meghan consegue demonstrar isso com posicionamentos sutis e atitudes casuais, como essa que comentei anteriormente.

 

 

Outros exemplos: em pouco tempo, a americana conseguiu o próprio perfil no Instagram – é, isso também não é comum por ali. Não correu para mostrar o filho recém-nascido, Archie, para os fotógrafos, respeitando um momento tão delicado. Foi editora convidada da edição de setembro da Vogue britânica, mês mais importante no mercado de moda – o tema era ‘Forças para a Mudança’ e o foco era comunicar que, identificando nossos pontos fortes, podemos ser ainda mais poderosa s juntos. Enquanto Kate foi a primeira figura real a usar a mesma roupa mais de quatro vezes publicamente e vestir marcas de fast-fashion, Meghan nos conta que está amamentando ao aparecer somente com roupas de botão, ou que apoia artesãos africanos ao usar um vestido de uma marca local com pegada sustentável em seu primeiro tour na África. Ao se negar ser capa de uma revista como a Vogue e pedir para ser sua editora convidada, Meghan mostra que sabe que não é um conto de fadas o que as pessoas precisam ver. Não é a história de uma mulher que teve ‘sorte’ em meio a 1 milhão. Não podemos subestimar essas ações, que têm alcance enorme e fazem refletir sobre o que é apenas convenção e o que é de fato construtivo; o que é capaz de promover mudanças efetivas para o futuro.

 

Embora as escolhas de Meghan nem sempre sejam vistas sem uma franzida de testa por parte dos mais tradicionais, sua chegada faz um bem e tanto à família real. As monarquias em geral não andam com a popularidade muito em alta, por isso acho que, nessa, a rainha Elizabeth e sua corte têm lá seu mérito – afinal aceitar uma não britânica, atriz, divorciada e cheia de causas a defender é uma clara demonstração de flexibilidade, de compreensão dos novos tempos, que pedem diversidade.

 

Acredito que Meghan é o futuro da realeza porque já viveu problemas concretos, que grande parte da população enfrenta diariamente, e sabe as mudanças de que o mundo fora da corte precisa, por isso existe tanta força nas bandeiras que levanta – nelas, há uma profunda verdade. Sua experiência em Hollywood mostrou-lhe o que dar à mídia para que suas causas ganhem maior dimensão – coisa que lady Di, mãe de Harry, fazia com maestria. Aliás, é comum as pessoas traçarem paralelos entre elas. Para mim, faz sentido. Eu tinha uns 7 anos de idade quando vi uma imagem dela com uma criança paquistanesa doente no colo. Depois de adulta fui entender por que isso me marcou tanto: mostrava uma princesa, figura normalmente inatingível e intocável, inserida na vida de carne e osso. Agora só falta encontrá-los ao vivo. Recentemente eles foram a um pub com Archie em um bebê-conforto. Ótimo. Quanto mais frequentarem lugares acessíveis aos não reais, mais fácil ficará para mim.

 

Harry, por sua vez, nunca foi um príncipe convencional. Sempre tentou quebrar regras. E não é que ele encontrou uma mulher parecida, e que já tinha ciência de sua missão antes de conhecê-lo? Imagino que isso tenha sido a primeira grande atração entre os dois, além da física, é claro. Com Meghan, é possível aprender que pequenas manifestações falam mais do que mil palavras. Que não precisamos lutar gritando mas, sim, viver as nossas crenças com convicção. Aprendi também que as pessoas se conectam com a verdade – porque a verdade sempre sobressai, como diz a escritora Elizabeth Gilbert.”

 

PERFIL  por Thais Roque| Matéria publicada na edição 113 da Revista Versatille

 

 

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