Por dentro do novo MASP

Previsto para janeiro de 2024, anexo irá viabilizar mais visitantes e exposições e promete ser um marco cultural para São Paulo e Brasil

Maquete do Edifício Pietro Maria Bardi, adjacente ao Masp
Maquete do Edifício Pietro Maria Bardi, adjacente ao Masp (Divulgação/Metro Arquitetos)

Quem caminha pela Avenida Paulista já se atentou: em certa altura do cruzamento com a Alameda Casa Branca há um prédio abandonado, ao lado do cartão-postal de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo (Masp). A construção, de aparência inacabada, é o Edifício Dumont-Adams, que foi, no passado, uma morada luxuosa, glória que durou até meados dos anos 1990. Fato curioso: em 1968, o prédio foi o pano de fundo de fotos da rainha Elizabeth II, quando esteve na inauguração da segunda sede do Masp, após a transferência da Rua Sete de Abril.

 

Hoje, o prédio está em processo de transformação para se tornar o novo anexo do Masp, e foi rebatizado de Edifício Pietro Maria Bardi, uma homenagem ao falecido fundador e ex-diretor do museu, esposo da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. A expansão dá um desfecho para o imbróglio da restauração do prédio vizinho do museu, que sucede desde os anos 2000, quando o edifício foi adquirido, na gestão do arquiteto Júlio Neves. 

 

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Com a ampliação do espaço, possibilitada pelo novo anexo, a área do museu ganhará 6.945 metros quadrados, divididos em 14 andares e também uma passagem subterrânea, que interliga o projeto arquitetônico modernista de Lina ao edifício Pietro. A inauguração está prevista para janeiro de 2024. À frente do projeto de expansão estão o antigo diretor, Júlio Neves, e os sócios do Metro Arquitetos, Gustavo Cedroni e Martin Corullon. A dupla tem contato direto e bem-sucedido com a instituição desde 2015, quando o escritório que comanda foi responsável pelo redesenho dos conceituados cavaletes de vidro criados por Lina, que pôde retornar após 20 anos, em 2016, para as galerias − as peças icônicas podem ser vistas na mostra Acervo em Transformação. 

 

O valor do projeto é de 180 milhões de reais, financiado por doações de pessoas físicas, sem incentivos da Lei Rouanet, o que se torna um marco de confiança no espaço, que será um dos mais modernos em questão de infraestrutura museológica da América Latina. 

 

O projeto inclui melhorias técnicas, que auxiliarão no trabalho do Departamento de Conservação e Restauro, e irá permitir o aumento da capacidade de visitantes ao museu, além de ampliar em 66% a área expositiva, com cinco galerias e duas multiuso, que contarão com rigoroso controle de temperatura e iluminação para receber as exposições temporárias. Francis Bacon [1909-1992] é o artista que triunfa como nome da primeira mostra no futuro edifício Pietro, em 2024. Para Renata Abrantes Baracho, coordenadora do programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (PACPS) da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é necessário que os museus optem por recursos tecnológicos para melhor inclusão dos visitantes. “No momento em que democratiza o acesso ao celular, o visitante terá mais participação e interação com as obras, e sairá apenas da observação”, diz Renata. 

 

Gustavo Cedroni (à esq.) e Martin Corullon, sócios do Metro

Gustavo Cedroni (à esq.) e Martin Corullon, sócios do Metro (Divulgação/Metro Arquitetos)

 

Com o objetivo de o anexo manter o padrão da instituição e realizar mostras com obras do século passado, foi necessária uma boa equiparação tecnológica: “O esquema do sistema de iluminação não é nada novo, mas estamos implementando em melhores condições. Por exemplo, a pele metálica de chapa perfurada na fachada protege as obras do sol e permite um melhor controle de temperatura“, detalha Martin Corullon. Mudanças aparentes poderão ser vistas de imediato entre os visitantes do espaço, porque a atual bilheteria não irá ocupar o vão livre dos pilares vermelhos de Lina. A venda de ingressos estará disponível no primeiro subsolo, que terá passagem para o térreo, onde estará um café e restaurante. No momento, o Masp conta com o premiado restaurante A Baianeira, da chef Manuelle Ferraz, no segundo subsolo. 

 

Com preocupações que visam o hoje e o amanhã, a extensão do museu irá desafogar as dificuldades de expor o acervo de mais de 11 mil peças, já que o espaço atual comporta apenas 1% do conjunto das obras. “Atualmente, a programação do museu tem um cronograma apertado, e esses espaços vão proporcionar um respiro maior no calendário e uma melhor organização na narrativa das exposições”, diz o diretor artístico da instituição, Adriano Pedrosa.

 

A construção vertical, oposta da vizinha, será mais uma dentro do circuito cultural verticalizado da Avenida Paulista, como a Japan House, o Instituto Moreira Salles e o Sesc. Na elaboração do projeto, foram estudados o Whitney Museum of American Art e o New Museum, situados em Nova York, assim como o novo anexo do Tate Modern, em Londres, a fim de criar novas projeções de circulação vertical para os visitantes e, igualmente, formas de expor. “Existirão três elevadores públicos e um de grande circulação para transporte de obras e pessoas, além de duas escadas com vidros corta-fogo, o que possibilitará circulação com vista para a via e entrada de luz natural”, adianta Corullon.

 

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Na companhia de muita pesquisa técnica na construção e mediação do espaço, o vizinho do Masp vai criando sua forma física e também imagens no imaginário dos pedestres e futuros visitantes. De forma simbólica, será o reencontro de Lina e Pietro, que ocorrerá pela ligação subterrânea da Avenida Paulista − a nós, cabe esperar um pouco mais de dois anos. 

 

Por Gabriela Amorim | Matéria publicada na edição 121 da Versatille

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