O brasileiro por trás da maior coleção de peças desenhadas por Gianni Versace

O artista plástico Alexandre Stefani fala sobre a paixão por Gianni Versace e como sua coleção se tornou uma das mais importantes do mundo

Em editorial, Alexandre Stefani posa ao lado das modelos Bruna Monrine (à esq.) e Laura Iside (à dir.) com peças Versace
Em editorial, Alexandre Stefani posa ao lado das modelos Bruna Monrine (à esq.) e Laura Iside (à dir.) com peças de sua coleção (Waldir Évora e Giovanna Iselle | Stylist: Alexandre Stefani)

Desde sua infância, Alexandre Stefani (50) sempre se interessou pela natureza e pela arte. Nascido e criado em São Paulo, ele seguiu a carreira de artista plástico. Uma de suas maiores paixões, no entanto, veio na adolescência e tem nome e sobrenome: Gianni Versace.

 

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Tudo começou durante um intercâmbio na França, aos 17 anos, após concluir o ensino médio. Durante um passeio, entrou em uma loja com catálogos cheios de ilustrações e desenhos de moda. Decidiu experimentar uma camisa da marca criada pelo designer, pela qual se apaixonou. Descobriu, porém, que a peça custava a quantia que havia guardado para o ano inteiro de viagem. Foi embora apenas com os catálogos, mas nunca se esqueceu daquele dia. “Foi amor à primeira vista”, diz.

 

O paulistano começou a seguir o trabalho de Gianni e a se interessar mais por moda, comparecendo a desfiles, acompanhando lançamentos e conhecendo pessoas do meio. Para adquirir itens mais baratos, também frequentou lojas e liquidações.

 

Exposição Gianni Versace Retrospective em Berlim, Alemanha, realizada por Alexandre Stefani, em homenagem aos 20 anos da morte do estilista italiano

Exposição Gianni Versace Retrospective em Berlim, Alemanha, realizada por Alexandre Stefani, em homenagem aos 20 anos da morte do estilista italiano (Divulgação)

 

De volta ao Brasil e com novas prioridades, ele deu início aos cursos de desenho industrial e estilismo. “Comecei a querer ser estilista, e o meu plano era trabalhar com o Gianni”, conta. Na época, com um guarda-roupa cheio, ele já costumava se vestir com trajes da marca.

 

Na manhã de 15 de julho de 1997, Gianni Versace foi baleado e morto nos degraus de sua mansão em Miami, quando voltava de uma caminhada pela Ocean Drive. O autor dos disparos foi Andrew Cunanan, que estava obcecado pelo designer e cometeu suicídio com a mesma arma oito dias depois. “Foi muito triste. Meus planos não existiam mais”, relata Stefani. Foi com a notícia da morte que ele passou a ir atrás de mais e mais roupas, garimpando em brechós e entrando em contato com o mercado vintage.

 

“A maioria dos itens que comprei eu já conhecia e tinha ‘babado’ em alguma loja.” O vintage ainda não tinha o mesmo glamour de hoje, e o artista plástico conseguiu pechinchas. A primeira peça que comprou, inclusive, foi a tal da camisa que experimentou na loja francesa e o introduziu a Gianni. “Viajava muito na época. Comprei de todo lugar, de todas as formas. Eu era rato de brechó e conheci outras pessoas que também me ajudaram.”

 

Desfile do acervo de Stefani em Bangcoc, Tailândia, em 2018

Desfile do acervo de Stefani em Bangcoc, Tailândia, em 2018 (Divulgação)

 

Com o tempo, seu armário se tornou uma das coleções mais conhecidas de Versace ao redor do mundo. Das quase 800 peças de sua posse – que ele nunca chegou a contar oficialmente –, Stefani não hesita ao responder qual aquisição é sua favorita: “Uma jaqueta de couro, que demorei mais de 20 anos para conseguir”. Ele experimentou a versão de seda pela primeira vez em Paris, mas não a comprou. Duas décadas depois, encontrou outro anúncio com o material de origem animal. “Custava muito caro, não tinha nem um terço do valor. Entrei em contato com a pessoa e acabei descobrindo que era o dentista do Gianni. Ele tinha roupas fabulosas, conhecia todas as casas do Versace e era bem próximo. Conversei com ele e mostrei meu acervo. Ele gostou da minha história e vendeu por um terço do valor original.”

 

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Apelidado por seus amigos de Alex Versace, o artista já realizou diversas exposições pelo mundo. O primeiro convite foi feito pelo consulado italiano para um desfile em Varsóvia, em tributo à moda italiana e aos 20 anos da morte de Versace. A partir de então, surgiram outras oportunidades e o artista seguiu para Berlim, Bangcoc e outros países. Se não fosse pela pandemia, teria levado suas peças para Dubai, em março deste ano. Ele ainda sonha fazer uma “retrospectiva sem clichês” no Brasil.

 

Seu objetivo com a coleção é trazer um novo olhar sobre o estilista. “Não gosto de como o Versace é lembrado e do que a marca virou. As pessoas só se lembram dele pelas cores, pela medusa, pelo barroco. Queria catalogar e mostrar todo o seu desenvolvimento criativo. É uma mudança muito grande ao longo dos anos.”

 

o modelo Leandro Juliani veste camisas de seda masculinas – objetos colecionáveis de maior valor – desenhadas por Gianni Versace

o modelo Leandro Juliani veste camisas de seda masculinas – objetos colecionáveis de maior valor – desenhadas por Gianni Versace (Leekyung Kim)

 

Para ele, é clara a distinção entre a criatura e o criador. “Meu relacionamento não é com a marca, é com o Gianni como artista”, define. Stefani não coleciona linhas mais “comerciais”, como as de óculos e móveis, nem as criações de Donatella. Seu acervo traça uma linha do tempo do começo da marca até um ano depois da morte do estilista, quando foram lançados desenhos que, em princípio, seriam de Gianni.

 

“Versace não tinha pudores nas inspirações. Desenvolvia os mesmos temas, estampas, tecidos para masculino e feminino.” Gianni lhe trouxe uma nova percepção sobre a moda, como algo imperecível e necessário para a modernidade. Vestindo as peças diariamente até hoje, Stefani resume o legado do italiano em duas palavras: qualidade e atemporalidade. 

 

Por Mattheus Goto | Matéria publicada na edição 119 da Versatille

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