Nunca desista: uma reflexão sobre o ano de 2020
O que os vinhos tem a ver com a relação da história da humanidade com pandemias? O presidente da PNR Group te conta nesta coluna
Por Philippe de Nicolay Rothschild
A praga sempre foi o maior medo da humanidade. Ela tomou várias vidas durante a história, dizimou países, cidades e vilas, e somente graças à medicina moderna finalmente desapareceu.
Em 1863, a praga apareceu na França, na região de Languedoc, e era chamada filoxera. Começou a destruir a maior parte dos vinhedos da área; a propagação foi lenta, mas impiedosa. Chegou a Bordeaux em 1869 e ao Château Lafite em 1872, e devastou a propriedade quase que completamente. Teve de ser feita importação de vinho da Califórnia para reestruturar o local. Lafite passou por seu período mais díficil na história, mas nós nunca desistimos.
Em 1985, fui passar um fim de semana no Château Lafite e meu primo Eric abriu uma garrafa de vinho de 1869, uma das últimas vintage antes da filoxera: o mistério, a mágica, a mesma delicadeza e elegância que a garrafa de 1959 que bebemos durante o jantar.
É quase um milagre só imaginar que o vinhedo foi reduzido a nada e produziu quase exatamente o mesmo vinho 90 anos depois. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Château Lafite foi ocupado pelo Exército Alemão, que estava mais interessado em beber do que produzir. Porém, em 1947 e 1949, foram produzidos excelentes vinhos, pois nós nunca desistimos. O ano de 2020 será lembrado como o ano da covid-19, e o mundo foi tão abalado por essa praga que mudou nossa maneira de viver.
Ela transformou a forma com a qual interagimos uns com os outros, mas nós não desistimos. A vacina está quase aqui e, assim como a história do Château Lafite depois da filoxera, nós nos reergueremos. Saúde!