Nobreza na garrafa: Single Malt The Maccallan

Apontado como o “Rolls-Royce” dos single malts, The Macallan é produzido por uma das mais antigas e respeitadas destilarias das Highlands. Outro de seus trunfos é Bob Dalgarno, o mais festejado whiskymaker da Escócia Na pátria

Apontado como o “Rolls-Royce” dos single malts, The Macallan é produzido por uma das mais antigas e respeitadas destilarias das Highlands. Outro de seus trunfos é Bob Dalgarno, o mais festejado whiskymaker da Escócia

 

Na pátria do melhor whisky do mundo, pouco menos de nove dezenas de destilarias podem legalmente elaborar single malts — o tipo que é considerado o mais complexo, charmoso e caro dentre as expressões do uisgebeatha, o nome original do scotch whisky, que, em gaélico, o idioma dos antigos povos celtas da Grã-Bretanha e Irlanda que o produziam há mais de seis séculos, significa “água da vida”.

 

Esse seleto grupo integra uma elite de produtores representada pela Sociedade das Grandes Destilarias. Nela figura, entre outras companhias de prestígio, a Edrington Group, que produz o inigualável single malt The Maccallan.

 

Nobre. Incomparável. Único. Tais predicados são os que melhor definem esse puro malte, já que, segundo os próprios escoceses, não há, no mundo, dois single malts iguais. Não sem razão, ele é apontado pelos experts como o “Rolls Royce” da mais alta categoria de scoth whiskies, tamanha nobreza e refinamento desse destilado premium. E a destilaria, com enorme e merecida reputação, como uma das top five do país. Até os anos 1980, do século passado, seus produtos eram engarrafados em pequenas quantidades e conhecidos tão-somente por um público ultrarrestrito — o que o tornou um cult entre os apreciadores.

 

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Fundada em 1824 na pequena Craigellachie, distrito de Speyside, às margens do rio Spey, nordeste escocês, pelo fazendeiro e professor primário Alexander Reid, a Macallan foi uma das primeiras destilarias autorizadas no país a produzir o seu próprio single malt. Desde então, o enorme prestígio de seus puro maltes repousa sobre um conceito de excelência definido pela destilaria como os “Seis Pilares”, os quais são responsáveis, ao longo de mais 17O anos de história, não só pela tradição e singularidade de seus scotches, mas pela manutenção da qualidade – sempre alta de sua produção.

 

Tais mandamentos da Macallan, imutáveis há quase dois séculos, incluem por exemplo a valorização e o culto ao microterroir — termo francês cujo conceito expressa as características do local de origem, as condições e o modo como a bebida é feita, assim como a ação e a influência do homem no produto final. Não por acaso, o termo “Mac”, que compõe parte do nome da companhia, tem como origem a palavra gaélica magh, que significa “terra fértil”.

 

A ampla expertise nas técnicas de destilação e envelhecimento, sintetizados no chamado “espírito da destilaria”, é outro grande pilar de sustentação da Macallan. O modo particular através do qual a empresa elabora a bebida inclui o uso exclusivo de uma bateria de pequenos destiladores de cobre centenários – os small stills -, que somam tão-somente 14 unidades. Com capacidade para 3.900 litros, eles tornam a produção restrita, ultracontrolada e quase artesanal, contribuindo para o altíssimo padrão de suas garrafas.

 

Além disso, há uma seleção rigorosa de maltes e de barris de carvalho. Estes são importados, com exclusividade, de Jerez de La Frontera, na Espanha (os mesmos utilizados pelos vinhos fortificados mundialmente famosos que são produzidos naquela região ibérica) – o que confere à bebida um paladar especialíssimo. E um outro diferencial da Macallan: ao lado da Dalmore, ambas são as únicas a deter o maior inventário de whiskies vintage da Escócia, com idades superiores a 100 anos, originando um grande portfólio de edições limitadas. O resultado? Destilados de incrível qualidade e prestígio.

 

E, se não bastasse, a Macallan ainda tem como trunfo no comando de sua produção o respeitadíssimo whiskymaker Bob Dalgarno. Apontado como um dos mais tarimbados narizes absolutos da indústria escocesa, ele foi formado ali mesmo, na própria destilaria, onde começou com meros 14 anos. Dalgarno é o responsável, desde 2002, pela identificação e seleção dos melhores maltes do acervo da Macallan que resultam nas preciosidades engarrafadas pela companhia.

 

De modo geral, o single malt da Macallan envelhece por 7, 10, 12, 18 ou 25 anos em barricas de carvalho francês ou americano de primeiro uso, após serem usados originalmente no envelhecimento do vinho ibérico. Dependendo do tipo da madeira e do tempo de estágio em madeira, seus puro maltes ganham aromas e paladares complexos e requintados, que invocam ora notas de mel, laranja, frutas secas, cevada, chocolate, coco e baunilha, ora de especiarias como cravo, canela e noz-moscada. Fã confesso de um bom e legítimo scotch, um certo Vinícius de Moraes (1913-1980) costumava dizer que “o whisky é o melhor amigo do homem – é o cachorro engarrafado”. No caso do Macallan, com seu paladar incomparavelmente sofisticado, de nobre e invejável pedigree.

 

Adega por Marco Merguizzo | Matéria publicada na edição 93 da Revista Versatille

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