Liderança: como pretender ser íntegro sem ser integral?

"Para influenciar, é preciso ser por inteiro e engajar a partir do próprio referencial de conduta", escreve a especialista em liderança Waleska Farias

O termo integral tem como significado o conceito de inteiro, completo. Na condição humana, pode-se dizer daquele que, não diminuído em sua totalidade, se apresenta com todos os seus atributos e valores preservados como expressão autêntica de sua integridade. Em referência ao processo de liderança, cabe lembrar que o profissional, antes de ser alçado à posição de líder, se apresenta como indivíduo – não dividual, indiviso em sua expressão física, mental, emocional e espiritual. Reconhecidamente íntegro, inteiro, integral, torna-se então apto a ser referência para aqueles que lidera, não apenas por sua capacidade de trabalho, mas sobretudo por sua maturidade comportamental. Essa deveria ser a disposição natural do líder no entendimento da indivisibilidade entre sua condição pessoal e profissional.

 

Contudo, na contramão do que deveria ser, a realidade nas empresas mostra que os líderes, premidos pela velocidade e complexidade das tendências do novo cenário, estão cada vez mais desconectados do que em si os identifica e fortalece. Cindidos na própria essência, são privados não apenas de sua integralidade, mas do maior privilégio humano: o direito de ser completo. É fácil perceber que o ponto nevrálgico das relações de trabalho advém principalmente da miopia do líder em relação aos próprios aspectos de sua personalidade. Por consequência, o problema se estabelece também como debilidade na relação com seus liderados, pois o que o líder não compreende em si imputará ao outro como responsabilidade, comprometendo a clareza das necessidades e expectativas individuais como ponto de adequação entre as partes.

 

A despeito do vasto conhecimento teórico das lideranças, a dificuldade de compreender a natureza do que se expressa como conceito subjetivo das interações humanas torna o líder refém das próprias limitações. Em meio às transformações radicais que vêm ressignificando os relacionamentos corporativos, é um contrassenso ver alguns líderes ainda insistindo em reproduzir os desmandos de uma liderança autocrática, ao estilo do “manda quem pode e obedece quem deve”. O que, em alguns casos, pode até prover solução no curto prazo, mas não se sustenta como perspectiva de continuidade, pois é incompatível com o novo perfil da relação líder-liderado consoante com as boas práticas da liderança integral. Não há mais como uma abordagem pautada no rigor matemático, que desconsidera o aspecto humano das relações de trabalho, ser concebida como estilo de gestão.

 

O propósito da liderança integral pressupõe que o líder tenha interesse genuíno por pessoas e o convoca a exercer a autoliderança como pré-requisito para liderá-las, pois, para influenciar, é preciso ser por inteiro e engajar a partir do próprio referencial de conduta. As pessoas, mais do que de críticas e bons conselhos, precisam mesmo é de bons modelos nos quais possam embasar sua experiência de percepção. Somente consciente de sua integralidade o líder consegue vivenciar o conceito de unidade como recurso estratégico na gestão do negócio e de pessoas, associando o compromisso de ser íntegro à condição de ser integral.

 

Liderança, carreira e imagem –  por Waleska Farias | Matéria publicada na edição 114 da Revista Versatille

Foto: Reprodução Facebook/MAMoficial | Obra: Nota sobre uma cena acesa ou os dez mil lápis, 2000, de José Damasceno

 

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