Jeep Experience: um passeio pelas serras do Sul do Brasil
Embarcamos em uma aventura entre cânions, curvas sinuosas e todas as belezas idílicas da serras gaúcha e catarinense a bordo do Jeep Compass
Quando o inverno invade de vez as serras gaúcha e catarinense, entre os meses de junho e agosto, uma enorme e quase impenetrável neblina costuma esconder em seu interior paisagens de tirar o fôlego. Como os suaves e plásticos contornos do Lago Negro, em Gramado (RS), e os milhares de metros cúbicos de água que caem em queda vertiginosa da cascata da Noiva, no cânion do Itaimbezinho, espetado no coração do Parque Nacional de Aparados da Serra, em Cambará do Sul (SC), imersos sob a espessa bruma que se forma nessas duas regiões cenográficas do extremo sul do país.
Mas, aos primeiros raios de sol, a névoa branca, que, aos poucos, vai se dissipando, destaca a silhueta das coníferas e araucárias, as linhas retilíneas e altivas das construções bávaras e peninsulares erguidas pelos colonizadores alemães e italianos, e, praticamente, imutáveis há mais de um século; e, ao fundo, os recortes sinuosos e profundos de cânions, vales e rios que cortam o Vale do Quilombo.
Foi nesse cenário de geografia idílica, tempo nublado e chuvoso e sob baixas temperaturas, típicos da estação mais fria do ano, que transcorreu, no final de julho, a quarta edição da Jeep Experience, do qual Versatille participou com exclusividade ao lado de outros jornalistas e formadores de opinião de todo o país a bordo do modelo Jeep Compass, atual líder do segmento de SUVs no Brasil.
Cerca de 20 automóveis equipados com motor a diesel, câmbio automático de 9 marchas e tração 4×4 inteligente, além de outros seis veículos de apoio dos modelos Renegade e Wrangler, igualmente valentes, da equipe técnica da mais cultuada marca de foras-da-estrada do mundo, formaram o comboio que percorreu, durante dois dias, cerca de 500 km de estradinhas de terra esburacadas, com trechos de lama, terrenos pedregosos, riozinhos e lajes de pedra, além de pouco mais de 100 km de asfalto, entre a charmosa cidade de Gramado de ares europeus, em plena Serra Gaúcha, ponto de partida dessa inesquecível aventura off-road, e Florianópolis, a belíssima capital catarinense.
De parada estratégica para tropeiros, também chamados de garruchos — daí a origem do termo gaúcho, ponto de repouso na dura subida do litoral para o interior, na segunda metade do século 19 —, a hoje sofisticada cidade serrana de Gramado é por sua localização geográfica, infraestrutura turística e serviços, rodovias e estradas vicinais, uma escolha quase natural para quem deseja fazer esse tipo de empreitada épica e repleta de adrenalina, percorrendo uma região cuja anatomia é desenhada por vales sinuosos que escondem uma natureza exuberante, quase intocada, com paisagens surpreendentes.
São quase 7h da manhã e os termômetros de rua dessa estância climática de ares europeus do Rio Grande do Sul marcam, preguiçosamente, gelados 4ºC, porém, com sensação térmica de -1ºC. Pouco tempo depois, a fila indiana de Jeeps Compass, sob o olhar de admiração de um grupo de moradores e turistas, parte rumo ao interior, cujo destino final é o Parque Nacional de Aparados da Serra, distante 160 km dali, e onde repousa os 36 cânions do Itaimbezinho, um dos mais impressionantes conjuntos de paredões rochosos do continente sul-americano.
Apesar da adrenalina em alta, o tempo parece passar mais lento nesse pedaço encantador do Rio Grande do Sul ainda pouco conhecido da maioria dos brasileiros. Cenários e paisagens rurais se sucedem no caminho, cujo trajeto é esquadrinhado por um sem-número de arroios, cascatas, pequenas pontes de madeira que cortam riozinhos e conectam vales e pradarias de pastos verdejantes. Território pontuado, também, pelo canto de graúnas, chimangos e a ave pedreiro. Por animais silvestres, como o puma e o veado campeiro. E pela presença majestosa das araucárias, uma espécie extinta em outras regiões do Sul do país, mas que ali domina a cenografia. Um verdadeiro show para os olhos, ouvidos e demais sentidos.
Como pressa e relógio não combinam com o lugar, incorpore o espírito local e a alma off-road e aproveite para recalcular o seu ritmo — e a própria vida — a fim de curtir tudo, colocando-os no modo “Relax” — ou, melhor, no “On-soul mode”. A começar pelas paradas providenciais e mais do que obrigatórias na cachoeira do Passo do Inferno, em São Francisco de Paula, e no Parque das Cascatas, um incrível conjunto de quedas d’água ancorado no município de Lageado Grande, onde funciona um simpático restaurante, chalés para alugar e um amplo gramado para acampar, pescar e fazer um bom churrasco à gaúcha.
Já o primeiro, vale o registro, é um lugar em que, no passado, como o próprio nome sugere, as caravanas de tropeiros tentavam atravessar o rio Santa Cruz com muitas dificuldades, mas que, também por isso, se preservou e, hoje, é uma preciosa reserva ecológica. A antiga ponte de ferro que liga as duas margens foi construída na já longínqua década de 1930 pelo Exército Brasileiro com o objetivo de facilitar o transporte e a extração da araucária. Uma década depois, no final dos anos 1940, seria inaugurada a hidrelétrica Passo do Inferno, administrada nos dias de hoje pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) do governo gaúcho.
BARRO EM JEEP É ENFEITE
Mas, como toda aventura off-road que se preze, barro e lama fizeram parte, também, dessa experiência única a bordo do Jeep Compass pelas regiões serranas do Sul.
Num determinado trecho, exatamente entre esses dois pontos da rota, o SUV de luxo deu provas de que não tem terreno e tempo ruim para ele. Exceto um único carro do comboio que “penou” um pouco para vencer bravamente o lamaçal formado pelas constantes chuvas na região.
“Todo trilheiro de raiz diz que se você não atolou ou não trocou um pneu furado, você não sentiu efetivamente o gosto desse tipo de aventura”, diverte-se Ricardo Dilser, assessor técnico e de comunicação do grupo FCA – Fiat Chrysler Automobile e da Jeep do Brasil, que acompanhou o grupo formado por ‘jeepeiros de ocasião’. “Situações assim acontecem. Mas demonstra que qualquer dono de um Compass pode pilotar em tais condições, já que há toda uma tecnologia e capacidade off-road embarcadas, tornando, hoje, a condição de pilotagem muito mais fácil e segura. Não é preciso, portanto, que o piloto seja um jeepeiro tarimbado e faça ajustes no carro como antigamente, já que os modelos de hoje são cada vez mais tecnológicos e capacitados para enfrentar tais condições”.
De fato, bastou apertar um simples botão e — voilá! — o carrão da Jeep passou valente, seguro e estável, sem derrapar um centímetro sequer pelo terreno enlameado e escorregadio. “Mesmo assim imprevistos como esses sempre vão ocorrer. Isso reforça a lição de casa de que é preciso cuidar bem da manutenção do veículo e fazer todas as checagens antes de sair para esse tipo de viagem”, completa Dilser.
Se o motor a diesel potente e ao mesmo tempo ultra silencioso impressionou, internamente o Jeep Compass também esbanja requinte e extremo conforto para um 4×4.
O nível de barulho da cabine, ou mesmo o painel de comando repleto de instrumentos que avisam ao motorista que o pneu está com baixa calibragem, bem como a hora de abastecer e trocar o óleo, entre outras dicas essenciais e na medida certa, são os de um carro de luxo. Os bancos dianteiros, por exemplo, com revestimento em couro de alta qualidade, apresentam ajustes elétricos verticais e horizontais que fazem a pilotagem ficar ainda mais prazeirosa.
Há quem afirme, com boa dose de razão, que barro no capô de um Jeep é enfeite. E, assim, como Gillete virou sinônimo de lâmina de barbear e Bombril de palha de aço, a Jeep virou substantivo de 4×4. No Compass essas máximas também cabem como uma luva. Com linhas angulosas e design moderno, o SUV sujo de lama justifica toda a aura de a marca americana ser a mais icônica e famosa entre os jeepeiros de raiz. Mas basta sair do barro e dar uma passadinha no posto e o “Jeepão” ganha de novo ares de imponência, resgatando de volta toda a sua majestade e classe. Touchée!
Definitivamente, esse modelo topo de linha da montadora norte-americana é um carro de luxo que é pau para toda obra. Mais do que andar nos centros urbanos para trabalhar, simplesmente, ele se revelou um “veículo da cidade” no qual seu dono pode também se divertir em roteiros como esse, com doses extras de aventura e que apresentam dificuldades para se alcançar determinados lugares de difícil acesso, em plena natureza, onde um carro convencional é incapaz de levá-lo. Nada mais emblemático e fiel à essência da marca. Palavra de um jeepeiro de carteirinha habituado a trilhas, que é dono de um antigo modelo da montadora fabricado no Brasil nos anos 1960. Tais veículos, por sinal, vale lembrar, foram muito utilizados naqueles idos pelo interior do Brasil, no transporte de trabalhadores rurais e, até, como tratores na agricultura. Caso, também, das regiões serranas gaúcha e catarinense visitadas pelo comboio da Jeep Experience.
CHURRASCO DE RAIZ E CENÁRIOS DE TIRAR O FÔLEGO
De volta à estrada, o grupo seguiu viagem rumo aos cânions do Itaimbezinho, um dos pontos culminantes do estado de Santa Catarina e, de longe, o ápice da viagem. Antes, porém, uma paradinha providencial para alimentar o corpo, já que nem só de barro e lama vive um jeepeiro, num dos mais pitorescos restaurantes da região: a Estância Felicidade. Abrigada no próprio rancho do proprietário, um ex-executivo bem-sucedido da área de TI, que decidiu largar a cidade grande para “recalcular” a vida e voltar às origens, o lugar é dica certeira para saborear o verdadeiro “churrasco de raiz”, feito à moda gaúcha, e de quebra sentir a atmosfera da região.
Sorridente e sempre com uma boa história para contar, o anfitrião Carlos Wolff faz às vezes de churrasqueiro enquanto a esposa, parentes e amigos preparam comidinhas típicas tentadoras e as servem de modo gentil e acolhedor, resgatando não só os sabores, mas a hospitalidade e a verdadeira essência da cultura que imperam naqueles rincões do país.
Macios e tenros, os cortes, provenientes dos animais criados na propriedade de Seu Carlos, como cordeiros, aves e bois, são assados na parrilla, como se deve, nos seus respectivos pontos de preparo e suculência. Após degustá-los junto às brasas, que são controladas com mestria por ele, é possível compreender a razão porque ali, como sugere o nome do lugar criado por ele, se é feliz.
Após as despedidas, com um bom cafezinho de bule tirado na hora, o comboio retomou a rota rumo à principal atração do roteiro: o Parque Nacional de Aparados da Serra Geral. Cruzando propriedades rurais e campos de pastagens a perder de vista, habitados por pássaros, bois e animais silvestres se alcança um dos cenários mais exclusivos e desconhecidos do país. Bastante peculiar, o nome dessa área de proteção ambiental foi dado por tropeiros em razão de as encostas parecerem ter sido esculpidas a facão.
Conhecido como a Terra dos Cânions, de fato o lugar é único e impressiona pelo gigantismo. Unidade de conservação criada em 1959 para a preservar os biomas da Mata Atlântica, dos Pampas Gaúchos e das Florestas de Araucárias, o parque tem área estimada de 10.250 hectares. São, no total, 36 cânions, destes, 25 com nomes e alguns chegam a ter sete quilômetros de extensão e uma profundidade de até 900 metros. A neve é comum no inverno e a região é conhecida como as montanhas mais geladas do país, registrando recordes de temperaturas negativas todos os anos. A parte de cima dos cânions são território do Rio Grande do Sul e a parte interna, catarinense.
Com paredões rochosos vertiginosos de tirar o fôlego, é difícil segurar a respiração e a emoção diante do maciço. O mais famoso deles é certamente o cânion do Itaimbezinho, um dos maiores do país. A extensão é de cerca de 5.800 metros, largura máxima de 2.000, e paredes com 720 metros de altura. Do alto, em mirantes que flutuam sobre fendas profundas, das quais mal se pode ver o fim, o cenário é impactante. Difícil descrevê-lo. Reproduzir, então, a sensação que tem de lá, se torna uma missão impossível tamanha a emoção. Perfilados na beira do penhasco, os Jeeps Compass com seus atônitos passageiros, filmados a partir de drones operados por alguns integrantes do grupo, pareciam pontos coloridos perdidos na imensidão da paisagem.
Logo abaixo, nas trilhas interiores em águas que seguem abrindo caminho, a experiência é igualmente monumental. A planície elevada sustenta imensas ranhuras naturais sobre gargantas que despencam do alto dos Campos de Cima da Serra. De lá, se observa cachoeiras escorrerem por paredões verticais de até 900 metros de altura, antes de se esconder em veios de rocha basáltica, que terminam em rios tranquilos e mansos.
A impressão que se tem é a de voltar milhões de anos, à Pangea, quando a separação dos continentes deu origem ao que se chama, hoje, de planalto vulcânico da Serra Geral, que foi esculpido bem ali, naquele ponto, no extremo nordeste do Rio Grande do Sul. E o melhor de tudo dessa experiência jeepeira mesmerizante? Após uma desgastante quinta-feira ao volante, de garoa fina, fria e nublada, típica do inverno gaúcho, poder ver a luz do sol bater naqueles paredões de pedra ao final do dia. Um sunset celestial — literalmente —, em um cenário exclusivo. Uma sensação hedonista de puro êxtase.
SERPENTEANDO A SERRA
Adrenalina e emoção ainda à flor da pele, a trupe da 4a edição da Jeep Experience deixou, no dia seguinte, as estradinhas de terra, pedregosas e lamacentas para descer, já no asfalto, a Serra do Rio do Rastro, a mais bela e desafiadora ligação entre a serra e o litoral catarinenses, toda ela rodeada de Mata Atlântica, e com destino final em Florianópolis. Este famoso trecho da SC-390, situado entre os municípios de Bom Jardim da Serra e Lauro Muller, tem apenas 25km de extensão e 284 curvas, ou mais de 11 curvas a cada quilômetro. Mais: com traçado sinuoso, algumas delas são verdadeiros “cotovelos”. A pista se estreita, muretas e postes de iluminação aparecem e, o que era asfalto, vira concreto.
Vire à esquerda. Agora, à direita. Esquerda e direita, de novo. E assim por diante. E sem área para ultrapassagens. Para quem sobe ou mesmo desce a estradinha, as marchas são sempre reduzidas por uma questão óbvia de segurança. Neste ponto, o Jeep Compass com câmbio automático inteligente, é, de novo, só mordomia, pois proporciona passagens suaves, precisas e seguras, e uma viagem tranquila.
E para quem desce a serra, como a dos carros do comboio da Jeep Experience, a dica é aproveitar, antes colocar o pé na estrada, e apreciar o visual lá de cima, a partir de um mirante que fica a 1.421 m de altitude. De lá se tem uma visão espetacular da paisagem e maior nitidez de como é o trajeto (isso, claro, se o céu limpo e livre de nuvens permitir). Outra dica: como a estrada é toda iluminada, vale a pena percorrê-la durante a noite ou mesmo parar no mirante para apreciar as luzes que serpenteiam o caminho, levando e trazendo todo viajante para pertinho do céu. Neste caso, a bordo de um Jeep. Privilégio puro.
SERVIÇO JEEP EXPERIENCE
SITE: jeep.com.br/jeep-experience
ONDE FICAR: Cambará Eco Hotel (cambaraecohotel.com.br), em Cambará do Sul; e Rio do Rastro Eco Resort (riodorastro.com.br), em Bom Jardim da Serra (SC).
ONDE COMER: Estância Felicidade/Parrilla do Seu Carlos, em Cambará do Sul (RS) (facebook.com/Estância-Felicidade) e Restaurante Panorâmico do Rio do Rastro Eco Resort (riodorastro.com.br), em Bom Jardim da Serra (SC).
ATRAÇÕES: Parque Nacional de Aparados da Serra (icmbio. gov.br/parnaaparadosdaserra/guia-do-visitante). Serra do Rio do Rastro Fotos: Marco Camargo (serradoriodorastroaovivo.com.br). Gramado (gramado.com.br).
Diário de bordo por Marco Merguizzo, Especial das Serras Gaúcha e Catarinense | Matéria publicada na edição 106 da Revusta Versatille.