Hora da Virada

Marcos Munhoz, VP da GM do Brasil, e Freddy Rabbat, distribuidor das marcas TAG Heuer e Emilio Pucci no país, falam, com exclusividade, sobre estratégias e planos para enfrentar a crise e o pessimismo e

Marcos Munhoz, VP da GM do Brasil, e Freddy Rabbat, distribuidor das marcas TAG Heuer e Emilio Pucci no país, falam, com exclusividade, sobre estratégias e planos para enfrentar a crise e o pessimismo e assim voltar a crescer em 2017

 

Onde fica a saída?, pergunta Alice ao gato de Chesire, que, de pronto, responde à menina: Isso depende bastante de onde você quer chegar. Como os personagens celebrizados pelo clássico da literatura infantil nonsense Alice no País das Maravilhas, do contista inglês Lewis Caroll (1832-1898), esse dilema também parece rondar a cabeça de empresários e investidores, que atuam no Brasil, desde que o fantasma da crise — considerada por muitos a pior das últimas duas décadas — travou a economia do país.

 

Para falar sobre o momento atual, investimentos e estratégias empresariais, as lições aprendidas com a crise e — principalmente — a hora crucial de voltar a crescer e deixar o pessimismo de lado, Versatille conversou com Marcos Munhoz, VP da GM do Brasil, e Freddy Rabbat, distribuidor da TAG Heuer e da grife Emilio Pucci. Membro do Comitê Executivo da GM para a América do Sul, o primeiro está na gigante norte-americana desde 1971. Paulista de São Caetano do Sul, classe de 1954, palmeirense e enófilo de quatro costados, em especial dos supertintos italianos Amarone, da região do Vêneto, Munhoz passou ao longo de mais quatro décadas por diversas funções, aqui e fora do Brasil, até ocupar o atual posto de comando da multinacional, onde está desde 2011.

 

Rabbat, por sua vez, é pioneiro no mercado de alto luxo, onde atua desde o final da década de 1980. Marcas como Dupont, Dunhill, Waterman e Montblanc passaram pelas mãos desse paulistano descendente de libaneses, corintiano de coração e um disciplinado ciclista nas horas vagas, até assumir as rédeas da distribuição e operação brasileira da marca italiana Emilio Pucci e, no final do ano passado, da suíça TAG Heuer, fabricante de relógios ultraconhecida por seus cobiçados modelos esportivos de alta gama. Confira a seguir, nesta e nas próximas páginas, as análises e as opiniões preciosas desses respeitados executivos brasileiros que pilotam corporações players do mercado.

 

VERSATILLE — A crise deve avançar até o final do ano, talvez 2017. De que modo afeta uma gigante como a GM e qual sua avaliação deste primeiro e segundo semestres para o mercado de automóveis?

MARCOS MUNHOZ — A crise de fato é muito profunda e afeta praticamente todos os setores da economia – o automotivo, inclusive. Atuamos em basicamente duas frentes. A primeira foi a revisão profunda de todos os custos, tomando medidas importantes a fim de preservar a sustentabilidade da empresa. Outra ação estratégica foram os investimentos substanciais, de 13 bilhões de reais, de 2014 a 2019, destinados à renova- ção completa de nossa linha de produtos e serviços. A resposta dos consumidores veio de forma imediata, pois saímos do terceiro lugar em vendas para o primeiro no Brasil em relação ao mercado. O primeiro semestre deste ano foi muito aquém do esperado, mas a expectativa é de melhora – ainda que pequena – para o restante do ano.

 

VERSATILLE — O senhor está na empresa desde 1971, passou por inúmeras funções estratégicas e testemunhou a evolução e os reveses do mercado brasileiro neste período. A crise atual é, em sua opinião, a pior e mais complexa delas? Qual aprendizado empresários e investidores podem tirar?

MUNHOZ — Ao encararmos uma crise é comum dizermos: “Esta é a pior delas…”. Então, esta está  sendo a pior delas! Na verdade, nossa economia vive um momento de montanha-russa e na hora da queda aprendi três coisas: 1) não hesite e tome decisões rápidas, pois cada dia perdido pode custar muito lá na frente. 2) jamais deixe de investir em novos produtos e tecnologias 3) paute suas decisões tendo o seu cliente como norte, pois, se sua ação não for boa para ele, não será um bom caminho. Fazendo uma reflexão, a GM saiu mais forte de todas as crises  que atravessou. Tenho muito orgulho ao observar que, juntamente com outros membros da empresa, tomamos decisões acertadas, reconhecidas e apreciadas por nossos clientes.

 

VERSATILLE — Diante desse quadro de retração do mercado, o que a GM fez para virar o jogo e crescer neste tempo? E qual sua expectativa para 2017 e os próximos anos?

MUNHOZ — O consumidor brasileiro é apaixonado por carros. Mas as necessidades e a tecnologia mudam com muita rapidez. Por isso, dedicamos muito, mas muito tempo, tentando entender o que de fato os clientes querem. Enquanto alguns concorrentes optaram por carros pequenos, a Chevrolet apostou em carros mais espaçosos, como o Onix, o Prisma, o Cobalt e o Spin. Oferecemos ainda tecnologias de conectividade antes dos concorrentes, entre as quais o multimídia MyLink e o sistema de telemática OnStar. Estamos lançando a linha 2017, renovando o design dos nossos produtos e também a mecânica, dando um salto em eficiência energética, um atributo muito demandado pelos consumidores. Sem dúvida, 2017 será o ano que marcará a recuperação do mercado automobilístico. Observe nosso histórico: depois de uma crise vem crescimento forte.

 

VERSATILLE — Sob esse aspecto, a estratégia da empresa deverá ter como foco o mercado interno ou as exportações? Há previsão de investimentos no país no curto, médio e longo prazos? Quanto e onde?

MUNHOZ — A GM é líder de mercado na América do Sul por 15 anos consecutivos. No Brasil, concentra-se o nosso maior mercado e a maior base exportadora. É importante encontrar o melhor balanço entre esses dois lados da equação. Do nosso plano de investimento de R$ 13 bilhões, já utilizamos R$ 6,5 milhões. Vocês podem ver nas ruas os novos modelos provenientes desse investimento. O saldo restante será destinado até 2019 primordialmente às fabricas de São Caetano do Sul (SP), Gravataí (RS) e Joinville (SC).

 

VERSATILLE — Em sua opinião, o que é mais valorizado pelo consumidor de carros de luxo: design ou tecnologia embarcada? Performance ou conforto? Nesse segmento a crise sempre passará longe ou não é bem assim?

MUNHOZ — Não gosto do termo carro de luxo. Não é a tradução do que o consumidor quer. Em cada segmento há certas exigências a serem atendidas. Há os que preferem performance – e para eles temos o Chevrolet Camaro; aos que preferem espaço — temos o SUV Trailblazer e, para os que preferem design e tecnologia, temos o novo Cruze. Se a crise passa longe do segmento de luxo? Olha, quando eu vejo apartamentos, carros e barcos sofisticados com descontos e chamadas de mercado com ofertas imperdíveis, é um sinal de que todos os segmentos estão sendo afetados.

 

VERSATILLE — De outra sorte, diante de um mundo cada vez mais conectado e preocupado com o planeta, qual deve ser o caminho a ser trilhado pela GM e a indústria automobilística como um todo para atender à expectativa das novas gerações de consumidores preocupadas com o meio ambiente? Qual deve ser o papel da tecnologia nesse caso?

MUNHOZ — Sem dúvida estamos trabalhando em todas as frentes com tecnologias distintas para atendermos tais demandas. Acabamos de lançar a linha ECO proporcionando reduções significativas no consumo de combustíveis, o sistema OnStar de telemática que ajuda o cliente a conduzir de forma mais eficiente, o sistema de car-sharing Maven e, ainda, tem muito mais por vir.

 

VERSATILLE — Detalhe, por favor, o que é o car-sharing e o programa Maven recém-implantados pela GM?

MUNHOZ — O sistema possibilita o compartilhamento de uso de um mesmo automóvel por diferentes pessoas sem que nenhuma delas seja a proprietária. A tecnologia Maven é suportada pela plataforma OnStar, e possibilita que você sem precisar de nada mais, a não ser seu smartphone, possa acessar o veículo, destravar, ligar, usar por tempo que quiser, devolver, fechar e travar o carro e, ser cobrado apenas pelo tempo de uso direto em seu cartão de crédito. Simples, assim.

 

VERSATILLE — Qual a posição atual da GM em volume de vendas no ranking das montadoras que hoje atuam no país? Qual o campeão de vendas?

MUNHOZ — A GM é líder de vendas no mercado nacional desde outubro de 2015, sendo o Onix o carro mais vendido no Brasil. Também permanecemos como líderes na América do Sul já há 15 anos.

 

VERSATILLE — Além de ter uma rede pulverizada por todo o país, o que é um trunfo, a GM também se caracteriza por ter um grande portfó- lio. Quais as vantagens e os desafios para se manter a qualidade de tantos produtos e serviços?

MUNHOZ — Nossa rede de concessioná- rias é uma das maiores — e melhores do país, conforme pesquisas independentes realizadas por experts do setor. São aproximadamente 600 pontos de vendas e serviços espalhados por todos os cantos do Brasil. Um grande portfólio de produtos — o maior do mercado — e uma grande rede de distribuição é um desafio muito saudável pois o cliente quer a opção de um veículo que atenda às suas necessidades —  que mudam muito ao longo da vida —  e um suporte de uma concessionária perto de seu trabalho ou residência.

 

VERSATILLE — E como é sua rotina de trabalho no comando da GM? E fora dela como costuma desfrutar seu tempo?

MUNHOZ — Além do Palmeiras, sou apaixonado por vinhos. Já visitei inúmeras vinícolas ao redor do mundo, inclusive na região do Vêneto, na Itália, onde são produzidos os fantásticos Amarones, meu vinho preferido. Acordo todos os dias às 5h30, mesmo se o despertador não tocar! Até às 8h30 leio os principais jornais do país e os e-mails mais críticos e sensíveis. Não tenho hora para sair, dependendo do dia, às vezes vai até muito tarde. Faço viagens curtas três vezes por mês pelo Brasil, e mais longas ao exterior a cada 60 dias. Mas férias, prefiro as curtas, dez dias por vez. Tento manter a forma fazendo ginástica duas ou três vezes por semana e gosto muito de caminhar – é puxado viu!!!

 

Clique nas imagens para Ampliar

 

LUXO E PEDALADAS

VERSATILLE — Marcas internacionais como a TAG Heuer e a Emilio Pucci, ou mesmo o segmento de luxo no Brasil, também foram afetadas de algum modo pela crise ou ela sempre passará longe das grandes marcas do setor?

FREDDY RABBAT — Iniciei, em 1989, importando diversas marcas de canetas e isqueiros Dunhill e S.T. Dupont, que eram objetos de desejo à época. Desde então, atuo nesse mercado, onde vivi todos os momentos, e, definitivamente, chegamos ao fundo do poço. O mercado de luxo também não fica imune à crise. O consumidor desse mercado é impulsionado às compras em razão do seu emocional — ele presenteia a si mesmo ou a alguém que goste, em momentos especiais, de alegria. Quando a crise aparece, ele, muitas vezes, fica sem motivos de celebrar e, com isso, diminui suas compras. Ou seja, a crise aparece mais por razões emocionais do que por problemas financeiros desses clientes. Tanto é verdade que é um mercado que tende a se recuperar assim que boas perspectivas voltem à tona.

 

VERSATILLE —E que lições podem ser aprendidas a partir deste momento conjuntural crítico?

FREDDY — O mercado de luxo é regido por altos investimentos em excelência no atendimento, em marketing e ambiente refinado resultando em margens apertadas, mas que, se bem administrados, garantem longa vida ao seu mercado, onde é comum vermos marcas centenárias. A melhor lição fica na importância da velocidade em adaptar-se ao tamanho do mercado.

 

VERSATILLE — Além da conjuntura, há impostos e dó- lar altos que contribuem ainda mais para a retração do consumo no país. O que a TAG Heuer e Emilio Pucci fizeram e estão fazendo para virar esse jogo? Quais metas de crescimento para 2017 e os próximos anos?

FREDDY — É interessante observar que o Brasil é um mercado de grande potencial, mas ainda pouco acessível à grande parte das marcas suíças em função dos altos impostos que atingem o mercado, forçando as poucas marcas que aqui operam a trabalhar com margens reduzidíssimas de forma a adequar seu preço ao padrão internacional. Isso desencoraja a maioria a operar no Brasil deixando de explorar o verdadeiro potencial de nosso mercado que acaba consumindo em viagens levando para fora nossas divisas e empregos. É importante observar que as marcas que estão no país aceitam operar com baixíssima rentabilidade na expectativa de uma breve mudança, sempre observando que o seu sucesso está diretamente ligado a uma correta política de preços equiparados aos encontrados em outros mercados que são destinos dos consumidores brasileiros.

 

VERSATILLE — Quais metas de crescimento para 2017 e os próximos anos?

FREDDY — A TAG Heuer vem conquistando market share por meio da rede de concessionários autorizados e corners pelo país. Acreditamos que, em 2017, com a recuperação da economia, tenhamos uma fatia considerável do mercado brasileiro. A Emilio Pucci está com um novo estilista — Massimo Giorgette —, que vem inovando na marca com grande sucesso. Novos projetos de varejo estão no horizonte.

 

VERSATILLE — A TAG Heuer sempre esteve muito ligada ao universo da F-1 e o esporte está no DNA da marca. Com o desinteresse do brasileiro pelo esporte em razão de não termos mais ídolos iguais Senna atuando na categoria, qual a estratégia para cativar o consumidor desse mercado?

FREDDY — Embora tenha relógios sociais em seu portfólio, a TAG Heuer é uma das poucas marcas que têm grande foco em modelos esportivos, incluindo a linha Fórmula 1. De fato, a “falta” de heróis regionais certamente ofusca o interesse pela modalidade, mas continua a ser a categoria de maior venda mundial em unidades, em função da relevância da própria marca e de seu design ousado ligado a algo que está no coração de todos os homens.

 

VERSATILLE — E o consumidor brasileiro prefere os modelos esportivos aos sociais?

FREDDY — Sim, a preferência do brasileiro recai, de fato, para os esportivos (cerca de 70%) do que para os sociais (30%). Porém, há dois padrões distintos de consumo para os públicos masculino e feminino. Embora sempre haja exceções, o padrão fica com os homens consumindo relógios esportivos, preferencialmente cronógrafos, em geral automáticos com caixa variando entre 41 mm e 45 mm de diâmetro e as mulheres buscando relógios que sirvam para ir à academia, fazer esporte e estar aptas a continuar com o mesmo modelo à noite em eventos sociais. A preferência delas é, em geral, por relógios de 32mm a 39mm de diâmetro, com brilhantes em uma caixa de aço ou cerâmica e movimento quartz de forma a marcar sempre a hora certa mesmo após longos períodos sem uso. Acredito que o Brasil tem muito a crescer nos próximos anos. Vejo o atual momento como oportunidade para a conquista de market share, preparando o terreno para os bons anos que virão.

 

VERSATILLE — Qual a diferença do perfil do consumidor brasileiro de alta relojoaria em relação aos de outros países?

FREDDY — Nosso consumidor segue o padrão de todo o continente americano de consumo de relógios maiores e esportivos. Diferentemente dos da Ásia, onde o relógio clássico e pequeno domina o gosto masculino. Independentemente da idade, o brasileiro gosta de modelos com complicações e, preferencialmente, os cronógrafos.

 

VERSATILLE — E na moda feminina? O que impera na preferência da mulher brasileira?

FREDDY — As brasileiras gostam de muitas cores e estampas. A Emilio Pucci é uma das poucas marcas que atendem à consumidora desde o beachwear até a festa sofisticada à noite. A mulher pode usar seu vestido de jérsei, que não amassa durante o dia e, a seguir, ir para uma festa, mudando apenas acessórios como bolsas, sapatos e joias. Hoje, o foco do mercado está no consumidor de todas as idades mas que ostenta um espírito jovem.

 

VERSATILLE — Quais os lançamentos previstos pela TAG Heuer e Emilio Pucci para este final de ano e 2017?

FREDDY — Há muita novidade bacana para os próximos 12 meses em ambas as marcas. A TAG Heuer lança o Connected Watch no Brasil neste ano seguido do mais belo Toubillion esportivo do mercado que chegará ao país ainda em 2016, na forma de um cronógrafo Heuer na faixa de R$ 70 mil, entre outros lançamentos incrí- veis como o novo Fórmula 1 Senna Cronógrafo ou o Monza e a novíssima linha Aquaracer feminina em cerâmica. A Pucci, por sua vez, completará 70 anos , em 2017, e, para marcar essa passagem importante da empresa, lançará uma série de novidades para quem é fã da marca.

 

VERSATILLE — Qual sua rotina de trabalho? Pilotando duas grandes marcas importantes, sobra tempo para praticar algum esporte, ter algum hobby ou apreciar um bom vinho?

FREDDY — Trabalho? Amo meu trabalho! Não tenho horário para começar nem terminar. Poderia dizer que o vivencio por 24 horas — mesmo em meus sonhos. Faça o que você gosta e nunca mais trabalhe na vida é o que eu acredito. Penso nele o dia todo, exceto no meu horário reservado à saúde, onde não perco um dia de treino. Independentemente de tempo e lugar onde estiver, meu esporte favorito é o ciclismo. Para mim, o final de semana não existe se não tiver no mínimo 100 km de pedaladas. Vida saudável é meu lema! Adoro vinhos e charutos, já bebi e fumei muito, mas, hoje, reservo apenas para momentos muito especiais. Time? Bem, o mercado de luxo combina com times sofisticados, daí… (começa a abrir um sorriso). Sou corintiano desde que nasci!! (ri alto).

 

Business por Marco Merguizzo | Fotos de Priscila Prade | Matéria publicada na edição 92 da Revista Versatille

 

 

Para quem pensa em ir para o Japão em busca de uma nova vida, também poderá procurar empregos aqui.