Por Gabrielle Torquato

 

A Semana de Alta Costura de Paris 2020-2021, realizada virtualmente pela primeira vez na história, significou um marco para o mundo da moda e um recomeço após a crise do Covid-19. A história sempre lembrará que a necessidade de isolamento e lockdown fez com que as grifes interrompessem suas produções por meses e com que as semanas de moda de Milão, Paris e Nova York ficassem, temporariamente, sem brilho e mesmo sem sentido.

 

A alternativa encontrada – apresentar as coleções em eventos online – abriu uma porta para maisons como a Chanel se soltarem ainda mais na criatividade. Mas, enquanto umas buscavam formas inovadoras de mostrar suas peças, outras preferiram aproveitar o tempo para fazer uma reflexão. E concluíram que acham melhor adotar um ritmo próprio e adaptar suas logísticas, dando mais tempo para seus designers e mantendo uma sintonia maior com o cliente final.

 

Em resumo: pelo menos por enquanto, grifes como Gucci e Saint Laurent optam por ficar fora do circuito de semanas de moda.

 

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Semanas de moda x estações do ano

A pandemia colocou em foco algumas questões que já vinham sendo discutidas no setor. Para o Council of Fashion of Designers of America (CFDA) e o British Fashion Council (BFC) – conselhos que representam marcas e estilistas nos Estados Unidos e no Reino Unido, respectivamente –, o sistema está “quebrado”. As maiores críticas são em relação aos calendários das semanas de moda e sua falta de sincronia com estações do ano e cliente final. Isso, segundo eles, dificulta o trabalho dos profissionais do setor e prejudica as vendas.

 

Foram propostas mudanças, entre elas a diminuição no ritmo de produção e a definição de datas de chegada das coleções às lojas priorizando dias próximos das estações a que se destinem.

 

 

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Mas o que esperar para o futuro? Algumas grifes começam a explicar suas mudanças. Confira, a seguir, o que já se sabe sobre os novos planos de algumas das principais marcas de luxo do mundo:

 

Saint Laurent

Logo em abril, a marca já havia anunciado que não participaria da Semana de Moda de Paris 2020-2021. Em entrevista ao WWD, o diretor criativo Anthony Vaccarello declarou que a maison focará em apresentações customizadas, seguindo seu próprio calendário e processo criativo.

 

“[A decisão] É sobre permanecermos positivos, não passivos. Nós sabemos há anos que algo tem de mudar, e a hora é agora. Há um bom motivo para não seguir um calendário criado há anos, quando tudo era completamente diferente. Eu não quero apressar uma coleção só porque há um prazo. Quero apresentá-la quando eu estiver pronto”, declarou. No entanto, a marca não descartou a possibilidade de realizar seu próprio desfile, com pompa e circunstância.

 

Chloé

Os representantes da marca ainda não deram um ultimato, mas assinaram uma proposta idealizada por Dries Van Noten que pede a desaceleração do calendário, descontos ponderados e respeito ao processo criativo dos designers. A grife estuda ter apenas duas coleções por ano.

 

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Gucci

A grife comandada por Alessando Michele está bem certa de seus próximos passos. Já anunciou que fará apenas duas apresentações por ano (antes eram cinco), sem se prender a nenhuma sazonalidade, e dispensou sua participação na Semana de Moda de Milão.

 

“Quero deixar para trás toda a parafernália do passado: cruise, pre-fall, verão e inverno. Acredito que isso ficou velho” declarou Michele, que continua: “Estamos fechados há muito tempo, então não acho que teremos um calendário regular. Quero recuperar um novo tipo de tempo, real e prático, para que possamos escolher outra data”.

 

Michael Kors

“Tenho pensado há tempos que o calendário da moda precisa mudar. É empolgante ver esse diálogo aberto dentro do setor sobre maneiras para desacelerar. Acho que muitos concordamos que é tempo para uma nova abordagem, para uma nova era”, declarou o estilista.

 

A marca também dispensou sua participação na Semana de Moda de Nova York, mas anunciou que fará uma apresentação própria no final de outubro. Assim como outras grifes, a Michael Kors passará a ter apenas duas temporadas por ano (verão e inverno), e os produtos deverão estar nas lojas em um período mais próximo da estação a que se destinam.

 

 

Fotos: Reprodução Instagram