Exposição: Why pictures now?

LOUISE LAWLER PERTENCE A UM GRUPO DE FOTÓGRAFOS NASCIDOS NA DÉCADA DE 1950, QUE FORMOU A ÚLTIMA GERAÇÃO A ENVOLVER-SE COM A PRÁTICA FOTOGRÁFICA ANTES DE TER SE TORNADO PARTE INTEGRANTE DO MUNDO DA ARTE

LOUISE LAWLER PERTENCE A UM GRUPO DE FOTÓGRAFOS NASCIDOS NA DÉCADA DE 1950, QUE FORMOU A ÚLTIMA GERAÇÃO A ENVOLVER-SE COM A PRÁTICA FOTOGRÁFICA ANTES DE TER SE TORNADO PARTE INTEGRANTE DO MUNDO DA ARTE CONTEMPORÂNEA

 

O Museum of Modern Art, em Nova York, apresenta a primeira grande pesquisa da americana Louise Lawler (1947) abrangendo a produção criativa de 40 anos de uma das mais influentes artistas trabalhando nos campos da produção de imagem e crítica institucional. Em exibição até 30 de julho de 2017 — na Joan and Preston Robert Tisch Exhibition Gallery — a exposição tira seu título de um dos trabalhos mais icônicos de Lawler, Why Pictures Now (1981), uma fotografia em preto e branco mostrando uma caixa de fósforos apoiada num cinzeiro. Reminiscente de uma foto de propaganda ou um quadro parado de um filme noir, ela pede ao observador que considere por que o trabalho toma a forma de um retrato e por que a artista está fazendo retratos nesse momento.

 

Desafiando a retrospectiva tradicional de museu e o modelo linear da progressão artística, a mostra oferece a resposta da artista ao momento presente. Lawler atingiu a maioridade como parte da Pictures Generation, um grupo vagamente conectado e altamente independente, assim chamado por causa de uma mostra influente, Pictures, organizada em 1977 pelo historiador de arte Douglas Crimp no Artists Space, em Nova York.

 

Esses artistas usavam fotografia e estratégias de apropriação para examinar as funções e os códigos de representação. A assinatura do estilo Lawler foi estabelecida no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, quando ela começou a tirar fotos do trabalho de outros artistas, em exposição em casas de colecionadores, museus, espaços de armazenagem e casas de leilão, para questionar o valor, o significado e o uso da arte. Sublinhando a qualidade colaborativa da prática de Lawler, o que primeiro se vê em seus retratos, tanto à época como agora, são trabalhos de outros artistas.

 

A prática de Lawler oferece uma análise marota, espirituosa e sempre feminista das estraté- gias que informam a produção e a recepção da arte. Em 1971, ela ajudou diversos artistas que estavam instalando trabalhos no Pier 18, do curador independente Willoughby Sharp, uma exposição que apresentava 27 artistas homens em um píer abandonado do rio Hudson. Enquanto ia para casa depois de deixar o local bem tarde numa noite, Lawler começou a fazer mímica de sons de pássaros para afastar qualquer interação não desejada, cantando Willowghby! Willowghby!

 

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Esta paródia evoluiu para Birdcalls, sete peças de áudio de dois minutos em que Lawler força a voz para grasnar, piar e gorjear os nomes dos célebres artistas homens, de Vito Acconci a Lawrence Weiner — uma crítica brincalhona e astuta do reconhecimento de nome desfrutado por seus contemporâneos homens. Birdcalls tematiza a estratégia de resistência ao autoritativo e patronímico “nome próprio”. Esse trabalho será tocado no decurso da exposição no Jardim de Esculturas Abby Aldrich Rockefeller, no MoMA.

 

Um aspecto intrigante da prática de Lawler é seu processo de continuamente reapresentar, re-emoldurar e re-atuar seu trabalho no presente, estratégia na qual a artista revisita os próprios retratos por transferi-los para diferentes formatos, de fotografias a pesos para papel, traçados e trabalhos que ela chama de “ajustados para caber.” Os traçados são versões em traço preto e branco, em formato grande, de suas fotografias, que eliminam cor e detalhe, funcionando como “fantasmas” dos originais. Imagens “ajustadas para caber” são esticadas ou expandidas para se ajustar ao local de exibição, não somente sugerindo a ideia que retratos podem ter mais de uma vida, mas, também, apoiando o caráter intencional, relacional da arte clarividente de Lawler.

 

Temas políticos e sociais se entrelaçam através de todo o trabalho da artista. Em 2017, no momento em que o assunto de notícias verdadeiras e falsas vieram à vanguarda do discurso nacional, Lawler puxou suas imagens “ajustadas para caber” para adicionar um efeito torcido a certos trabalhos, distorcendo- -os ainda mais como uma reação ao conceito de “fatos alternativos.” Um desses novos trabalhos, Pollyanna (ajustada para caber, distorcida para estes tempos), aparece proeminentemente na exposição no museu. A mostra consiste em uma sequência de imagens “ajustadas para caber”, em escala mural, colocadas em relação dinâmica a grupos de fotografias não lineares, distintivas do exercício conceitual de Lawler.

 

Adicionalmente, uma galeria enganosamente vazia apresenta “traçados” em preto e branco de fotografias de Lawler que foram impressas em vinil e montadas diretamente na parede. Uma mostra efêmera da artista dos anos 1970 até hoje destaca o feminismo e a tendência performática de sua arte.

 

A longa história de colaborações artísticas de Lawler, com Andrea Fraser, Felix Gonzalez-Torres, Sherrie Levine, Allan McCollum, Christopher d’Arcangelo, Peter Nadin, e Lawrence Weiner, entre outros, forma um círculo completo na efêmera mostra.

 

Fotografia por Humberto Rodrigues | Matéria publicada na edição 97 da Revista Versatille

 

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