Exposição: André Derain
André Derain (1880-1954) foi uma personalidade complexa, que muito cedo evidenciou uma certa dúvida quanto à abordagem moderna, enquanto contribuía ativamente com as explorações dos primeiros avant-gardes do século 20. “Derain é um inventor, um
André Derain (1880-1954) foi uma personalidade complexa, que muito cedo evidenciou uma certa dúvida quanto à abordagem moderna, enquanto contribuía ativamente com as explorações dos primeiros avant-gardes do século 20. “Derain é um inventor, um descobridor. Um daqueles espíritos sempre curiosos que nunca tiram partido de suas próprias invenções(…) Ele é um aventureiro artístico, o Cristóvão Colombo da arte moderna — mas são outros os que lucram com os novos continentes”, descreveu-o, perfidamente, a escritora, poeta e feminista estadunidense Gertrude Stein (1874- 1946).
A mostra André Derain 1904-1914, La DécennieRadicale (4 de outubro de 2017 a 29 de janeiro de 2018), no Centre Pompidou, em Paris, traz novo olhar sobre o trabalho desse grande artista do século 20, traçando os vários estágios de sua carreira antes da Primeira Guerra Mundial, quando Derain se envolveu com os movimentos mais radicais de avant-garde. Alguns notáveis grupos de trabalhos foram trazidos juntos para a exposição: suas peças do verão de 1905 pintadas em Collioure; uma série de cenas de Londres, e as grandes composições de dança e banhistas.
A arte de Derain não tem sido o foco de quaisquer exposições monográficas importantes desde a retrospectiva de 1994 no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris — em outras palavras, por mais de 20 anos.
Esse pintor francês desempenhou um papel intelectual crucial no surgimento de dois movimentos importantes da avant-garde do começo do século 20: o fauvismo e o cubismo. Mais cedo, Derain fez um retorno solitário ao realismo, prenúncio de todos os movimentos figurativos do realismo mágico do Ingrism de Picasso à pintura metafísica de De Chirico e a Nova Objetividade — movimento artístico surgido na Alemanha, no começo da década de 1920, como reação ao expressionismo.
O trabalho ousado, altamente inventivo, de antes da guerra, é fascinante. Derain, que era íntimo de Maurice de Vlaminck e Henri Matisse, e, também, de Georges Braque e Pablo Picasso, engajou-se, fortemente, com o Fauvismo e o Cubismo, desenvolvendo um corpo de trabalho poderoso até a Primeira Guerra Mundial. Fez experiências visuais de muitas maneiras, pintura combativa, desenho, xilografia, escultura, cerâmica e filme, e praticou a fotografia por toda a sua vida, juntamente com a pintura. A mostra foca na exploração dos arquivos de Derain nunca antes exibidos — fotografias, coleções de impressos e reproduções de trabalhos de arte, escritos e correspondência — e, pela primeira vez, lança luz considerável sobre alguns de seus trabalhos mais icônicos por meio de fortes contrapontos visuais: as fotografias que tirou e suas referências artísticas atípicas, incluindo gravuras de Epinal, os objetos Maori — que Derain copiou no Museu Britânico em 1906 — e as esculturas africanas na sua coleção.
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Apresenta, também, 70 pinturas, um grande número de trabalhos em papel (aquarelas, desenhos, cadernos de rascunho e gravuras), esculturas e mais ou menos 50 fotografias, bem como esculturas e cerâmicas Maori e africanas.
Na obra de Derain surgiu também a cidade de Londres mostrada no seu dia a dia, com parques de aleias rosas, com árvores vermelhas e grama verde brilhante, com crianças, cachorros e pessoas que passeavam, como em Hyde Park (1906, no Museu de Arte Moderna de Troyes). Ou como as duas pinturas Ponte de Charing Cross (1906), na Galeria Nacional de Arte, Washinghton, DC, nos Estados Unidos e, ainda, a obra pontilhista, quase abstrata, Efeitos do Sol sobre a Água, Londres (1906), no Museu da Anunciação, em Saint Tropez.
Essas pinturas são obras de outro Derain, diferente daquele copista do Museu do Louvre, da persistência da linha e da composição nas pinturas liberadas. Derain pintou, ainda, sua conhecida obra Três Banhistas (1906) que, no mesmo ano expôs no Salão dos Artistas Independentes, certamente por influência da pintura O Banho Turco de Jean-Dominique Ingres, que esteve exposta no Salão de Outono anterior (1905). A reprodução da pintura Cinco Banhistas, obra-prima do final da vida de Paul Cézanne (1839-1906), estava permanente na parede do estúdio de Derain.
EXPOSIÇÃO por Raphael Andrade | Matéria publicada na edição 98 da Revista Versatille