“Esquerda, direita, todo mundo gostava dela”, diz diretor de “Hebe – A Estrela do Brasil”

"Hebe - A Estrela do Brasil" traz um retrato surpreendente da apresentadora mais querida da história da TV, com atuação poderosa de Andrea Beltrão

 

Hebe Camargo está mais na moda do que nunca. A apresentadora, que morreu em 2012, já havia sido tema de um musical de sucesso no ano passado. Em abril último, ganhou uma exposição no Farol Santander, em São Paulo. Agora, no dia 26 de setembro, chega aos cinemas com o filme “Hebe – A Estrela do Brasil”. Não se trata de uma coincidência.

 

Em 2019, Hebe Camargo completaria 90 anos. Porém, mais importante do que a efeméride é a própria artista: com quase 70 anos de vida pública, Hebe é até hoje uma das personalidades mais queridas dos brasileiros, de todos os tempos.

 

“A Hebe era extremamente querida por todas as pessoas que iam ao seu programa. Não importa a convicção política: esquerda, direita, todo mundo gostava dela”, diz o diretor Maurício Farias. O filme, entretanto, não é uma cinebiografia tradicional da apresentadora. “Escolhemos um momento chave da trajetória. Todas as questões importantes da vida dela passam por esse momento: a carreira, o casamento, seu papel na sociedade. Ela era uma mulher à frente de seu tempo, cercada de homens. Ela se impôs no mundo masculino como mulher de fala, não só como uma musa.”

 

 

“Hebe – A Estrela do Brasil” começa em 1985, quando o Brasil acabava de sair do regime militar, mas a censura ainda rondava os meios de comunicação. Com seu programa ao vivo na TV Bandeirantes, Hebe (Andrea Beltrão) incomoda os órgãos de controle do governo federal com seus convidados e suas opiniões “liberais”. “Hebe foi uma mulher à frente do seu tempo, que tomou a palavra para si e foi se empoderando cada vez mais”, diz Maurício.

 

A luta pelo direito dessa fala a leva a deixar a emissora, mesmo colocando sua carreira em risco. Até que, no ano seguinte, voltou à TV pelas mãos de Sílvio Santos (Daniel Boaventura), que faz dela a maior estrela do SBT, onde fez mais de mil programas. “Podíamos concordar ou não com Hebe, mas ela foi uma lutadora pela liberdade de expressão. Lutava pela causa LGBT, pelas mães solteiras, pelos aposentados, pelos excluídos”, diz Andrea Beltrão.

 

 

Em paralelo, o filme retrata sua intimidade, principalmente seu casamento tumultuado com o empresário Lélio Ravagnani (Marco Ricca). Mesmo apaixonada, Hebe sofre com o ciúme quase doentio do marido e com a relação ríspida com Marcelo (Caio Horowicz), filho do primeiro casamento da apresentadora. As escolhas cinematográficas de Farias são arrojadas. Vemos Hebe em ângulos inusitados, em closes bem fechados, às vezes desfocada e até refletida numa mesa de vidro.

 

 “O desafio era mostrar uma Hebe surpreendente, que as pessoas não conhecem, mas que existiu e foi muito verdadeira”, explica o diretor. “Uma das cenas que mais me emocionaram é dela dirigindo seu carro sozinha, indo para casa depois do trabalho. Ela fala com fãs, o carro some na rua, passa pelo túnel, vai pela cidade. Achei lindo esse sentimento da Hebe dirigindo seu carro, sua casa, sua vida”, revela Andrea Beltrão.

 

A atriz, que é casada com Maurício, conta que levou quase dois anos de preparação para construir a Hebe das telas. “Vi muita coisa na internet. Recebi uma pesquisa extensa feita pela roteirista, Carolina Kotscho, com links, vídeos e coisas raras. Ela existiu de uma maneira marcante, era uma mulher solar, uma apresentadora potente. Fiz aulas de prosódia, de canto. Uma hora começou a surgir uma mistura do que eu imaginava e do que eu tinha visto. Uma terceira pessoa.”

 

 

Andrea conta que passou pelo período de imitação, reproduzindo em casa o jeito de falar de Hebe e seus gestos. “Foi preciso passar por essa fase para chegar lá. O que era forte acabou ficando. Construímos uma homenagem, uma representação sincera e muito livre”, diz.

 

No cinema, a atuação poderosa da protagonista ganha ainda mais intensidade com o trabalho impecável da direção de arte e do figurino, que usou até joias originais da loira platinada. “Por coincidência, as roupas e os sapatos se encaixaram perfeitamente na Andrea”, conta o diretor. “Só os sapatos dela custavam quase o orçamento do filme”, brinca a atriz. “Mas 70% do figurino são uma criação original do Antonio Medeiros. Muitas vezes uma peça atual que parecia algo da apresentadora. A ideia era mostrar nossa visão da Hebe, porém com um vento de novidade.”

 

*Por Junior Ferraro 

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