“Elegemos um homem odiável para a Casa Branca”, diz Michael Moore

Michael Moore conversou com a Versatille no Tribeca Film Festival, onde celebrou os 15 anos de sua estreia com o polêmico Tiros em Columbine

O Tribeca Film Festival serviu de palco para celebrar os 15 anos da estreia de Michael Moore com seu polêmico Tiros em Columbine. Mais do que isso, o documentarista, um dos mais pop das últimas décadas, também discutiu o impacto de sua obra com o público.

 

Lançado em 2002, Tiros em Columbine surgiu com a intenção de analisar e estudar as razões que resultaram no tiroteio em 1999 em uma escola na cidade que dá nome à produção. O documentário apresentou uma narrativa sobre a relação dos americanos com armas de fogo e como a cultura do medo permeia a sociedade americana. Posteriormente, a obra recebeu um Oscar de melhor documentário, e fortaleceu a voz de Moore na sociedade americana.

 

Michael Moore é uma figura um tanto escandalosa e às vezes contraditória, o que o torna um entrevistado extremamente desafiador para mim, que sou uma repórter de entretenimento e cultura. O diretor de documentários ficou principalmente conhecido pelas obras que criticavam o governo americano e a política de armas, entre elas Fahrenheit 9/11.

 

Hoje, Moore não esconde a sua oposição e desgosto pelo Presidente Trump.

 

Faz 15 anos desde que você lançou Tiros em Columbine. Como você está revisitando este projeto?
De certa forma, é um tanto triste estar aqui, porque esse filme hoje deveria estar desatualizado. Nós deveríamos ter uma certa nostalgia em relação àqueles dias terríveis quando tínhamos tantas armas e atirávamos uns nos outros.

 

Moore destacou que este tiroteio foi iniciado por dois meninos que tinham acesso à uma ótima educação e eram excelentes alunos que faltaram a aula de filosofia para cometer este crime. Ele relembra do contexto com certo humor:“Eu não me lembro de ter filosofia francesa no colegial”.

 

O diretor explicou que o motivo pelo qual os estudantes responsáveis pelo massacre, Eric Harris e Dylan Klebold, agiram foi o fato de sofrerem bullying e não encontrarem alguém que os escutassem. “Então as pessoas os ouviram, um tanto tarde de mais”, analisa Moore.

 

Você sempre manteve uma capacidade incrível de contar uma história ao mesmo tempo que sustenta a sua opinião politica. Nestes 15 anos desde sua estreia com o filme, algo mudou, na sua opinião, sobre o assunto?
Acho que o número de tiroteios desse tipo piorou. Depois que o Obama ganhou a eleição, o medo e a procura por armas aumentaram. Quando eu fiz esse filme, acho que o número era um pouco mais de 200 milhões de armas – e hoje ele passa de 240 milhões.

 

Michael Moore acredita que há uma equação a cargo do governo americano: “Mantenha as pessoas ignorantes e estupidas, faça a população ficar mais burra. Ignorância leva ao medo, medo leva ao ódio, ódio leva a violência. Essa é a equação americana que a gente ainda está lidando.”

 

Preciso admitir que tentei evitar falar sobre Donald Trump – afinal de contas, o Tribeca é um festival de cinema. No entanto, sem precisar jogar uma pergunta sobre sua oposição a Donald Trump, o cineasta encerrou nossa conversa com críticas mordazes ao atual presidente dos EUA.

 

“O que realmente é triste é ver que elegemos um homem odiável para sentar na Casa Branca. E eu acho que ainda há muita gente que não aceitou esse fato. Espero que não tenham aceitado mesmo, e que a gente continue a desafiar esse cenário”

 

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