Éden Espanhol

Abrigadas no mais tradicional e famoso terroir ibérico, as vinícolas Patrocinio e Macán moldam rótulos de caráter único, combinando técnicas de vinificação clássicas e modernas e reafirmam o prestígio e o estilo inconfundível de Rioja Em

Abrigadas no mais tradicional e famoso terroir ibérico, as vinícolas Patrocinio e Macán moldam rótulos de caráter único, combinando técnicas de vinificação clássicas e modernas e reafirmam o prestígio e o estilo inconfundível de Rioja

 

Em se tratando de tradição vinícola, relevância histórica e fama planetária, a reluzente região da Rioja — a primeira zona produtora da Espanha, cuja denominação de origem foi instituída no longínquo ano de 1925 — está para a pátria de Miguel de Cervantes (1547- 1616) assim como Bordeaux está para a França, a Toscana, para a Itália e o Douro, para Portugal.

 

Não por acaso é apelidada de a “Bordeaux espanhola” e, para muitos especialistas, figura entre as cinco regiões vinícolas mais importantes do mundo. Os tintos e brancos produzidos no mais célebre e consagrado terroir ibérico tem um caráter único e inconfundível, colocando-se sempre entre os melhores do país e do mundo.

 

Na taça, o “estilo riojano” é bastante característico, em geral, marcado pelas notas abaunilhadas e de coco, entre outras, provenientes da madeira. Envelhecidos em tonéis de carvalho americano, os tintos deste Éden vitivinícola atravessam um lento processo de evolução, micro-oxigenação e estabilização, o que lhes garante uma característica notoriamente distinta. Mas os melhores produtores riojanos buscam sabiamente o equilíbrio entre a fruta e a madeira, produzindo vinhos de enorme classe, elegância e complexidade.

 

Espetada na parte norte da Península Ibérica, a região desfruta de uma posição geográfica privilegiada frente às demais  zonas vinícolas espanholas, já que conta com a “proteção” da serra da Cantabria, que funciona como uma grande barreira natural contra ventos e chuvas provenientes do Atlântico Norte, além de sofrer menos com os extremos de temperatura comuns a outras regiões do país.

 

A região se beneficia, portanto, do clima perfeito para o amadurecimento das uvas, já que as vinhas, apinhadas em altitudes mais elevadas, têm maior exposição aos raios solares. Dentre as variedades locais, brilha a tempranillo, a mais emblemática das uvas ibéricas, de colheita e maturação rápida (daí seu nome, temprano, em espanhol, ou numa rápida tradução “muito cedo”), que forma a espinha dorsal dos melhores vinhos não só na Rioja mas em toda a Espanha.

 

Dividida em três sub-regiões com distintos terroirs — Rioja Baja, Rioja Alavesa e Rioja Alta —, é nesta última área, portanto, que se produz reconhecidamente os melhores exemplares. Mas se em Rioja Baja predomina a uva garnacha, na Rioja Alta é a tempranillo que impera nos parreirais. Em termos de expressão e prestígio, a rainha das uvas espanholas tem o mesmo peso que a globalizada Cabernet Sauvignon, originária de Bordeaux, e a piemontesa Nebbiolo, que origina os reverenciados Barolos italianos.

 

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CLÁSSICOS REVISITADOS

Localizada no coração de Rioja Alta, mais precisamente em Uruñuela, no município de Nájera, a Bodegas Patrocinio é uma jovem vinícola fundada há cerca de três décadas por 170 pequenos produtores que colhiam e vendiam suas uvas para as grandes vinícolas da região. Hoje, cerca de 200 cooperados são liderados pela tarimbada enóloga-chefe María Martinez, responsável pela condução enológica que implantou uma série de inovações, sem entretanto abandonar a tradição e os cânones vinícolas locais.

 

No passado, os vinhos riojanos eram envelhecidos em tonéis por muitos anos, tornando-se exemplares de cor clara, perfumados, de corpo médio e mais delicados que potentes. Com o novo processo de amadurecimento, os vinhos têm hoje uma cor mais escura, um bouquet menos marcado pelo carvalho e portanto mais concentrados e potentes. Também revisitados, os brancos também permanecem por menos tempo e adquirem um caráter mais leve e frutado.

 

Também são trunfos da Patrocinio a localização e o microclima peculiares dos seus 525 hectares de vinhedos próprios. Com influências climáticas associadas — continental, mediterrânea e atlântica —, as uvas se desenvolvem lentamente, com tempo seco, exposição solar e amplitude térmica (dias quentes e ensolarados com noites frias) ideais. O resultado, em taça, são caldos aromaticamente sedutores, paladar elegante, com aporte de madeira na medida certa e nos quais a fruta é a verdadeira protagonista.

 

Importados pela Vinissimo de SP (vinissimo.com.br), são destaques os varietais da linha Lágrimas de María (Joven, Madurado, Crianza e Reserva), sobretudo os que levam a uva tempranillo, e os rótulos de alta gama da Zinio (Crianza e Reserva), premiadíssimos dentro e fora da Espanha.

 

Anote, também, o nome de outro supertinto riojano: Macán Clásico 2010 (R$ 656). Importado pela Mistral de SP (mistral. com.br), logo em sua primeira safra (a de 2009), este Tempranillo de estirpe moldado ao melhor estilo de Bordeaux arrancou 93 pontos (!) do americano Robert Parker, além de uma enxurrada de elogios dos críticos internacionais. Ele é elaborado por uma das mais novas e ousadas vinícolas de Rioja Alta que reúne, por meio de uma joint-venture urdida no início dos anos 2000, dois peso pesados da vinicultura mundial: Pablo Alvarez (leia-se Veja- -Sicilia) e Lafite-Rothschild, que dispensa maiores apresentações.

 

Adega por Marco Merguizzo | Matéria publicada na edição 95 da Revista Versatille

 

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