Drinques, pratos e ambientes feitos sob medida para o Instagram

Com pratos, drinques e até ambientes criados para repercutir nas redes sociais, restaurantes e bares ganham notoriedade com um empurrãozinho da clientela

Despeje uma dose de gim na coqueteleira e adicione água de coco, uva verde e raspas de gengibre. Decore com hortelã e capim-santo e sirva num copo apoiado numa bola de vôlei com o mesmo desenho daquela do Náufrago, o filme com Tom Hanks. Campeão de pedidos do bar Olívio, na Vila Madalena, o coquetel Wilson Visita Olívio revela a receita imbatível do endereço: servir drinques que despertem o quase incontrolável desejo de sacar o smartphone para clicar uma foto e postá-la no Instagram.

 

Aberto em 2017, o bar virou sucesso instantâneo graças às apresentações chamativas. Quem afirma é um dos sócios, João Paulo Warzée, de quem partiu a ideia. “Começamos a encher em duas semanas por causa dos posts dos clientes em redes sociais”, conta ele. Tem um que combina gim, rum aromatizado com coco, limão, abacaxi e licor de laranja. Até aí, uma delícia. Mas, como chega à mesa dentro de uma gaiola… Já sabe, né? Vai para o Insta.

 

A poltrona da selfie no Caulí

 

Ele replicou a fórmula no Caulí, no Jardim Paulistano, e no Mule Mule Muleria, na Vila Madalena. Inaugurado em agosto, esse último serve dez variações do moscow mule. “Quantos likes esse mule merece?”, lê-se numa das canequinhas adotadas. O drinque, que junta vodca, Aperol, licor de cereja e shrub de beterraba, chega à mesa numa matrioska. Ou melhor, numa versão em cerâmica da boneca russa com uma abertura para despejar os ingredientes e outra para espetar o canudo.

 

Caulí Bar – foto Leo Feltran / @feltranfotografia

 

Em funcionamento desde 2018, o Caulí prepara drinques como o Dark Clouds over the Sea, união de cachaça infusionada com nori, limão-siciliano, licor de laranja, abacaxi, açúcar, flor de sal e uma pilha de algodão-doce. O Room Service leva conhaque, Cointreau, limão-siciliano e xarope de açúcar. Chega dentro de uma cúpula de vidro repleta de fumaça num carrinho empurrado por um garçom vestido como um mensageiro de hotel. Fica até chato não registrar a cena.

 

Fotografia para o Restaurante Ori, em Salvador/Ba. Fotógrafo: Leonardo Freire (71)99710-4170

 

Sinônimo de filas longas bem antes de figurar em 39º no ranking The World’s 50 Best Restaurants, a Casa do Porco deve parte considerável de sua fama às apresentações inusitadas. É dentro de cabeças de porco coloridas feitas de cerâmica, por exemplo, que o chef Jefferson Rueda serve seu famoso torresmo de barriga com goiabada. Bola da vez da gastronomia em Salvador, onde comanda o Ori e o Origem, Fabrício Lemos é outro que não concebe pratos que não sejam visualmente apetitosos – e faz um tremendo sucesso nas redes sociais. As sobremesas, criadas pela chef pâtissière Lisiane Arouca, mulher do chef, não ficam atrás. Foi ela que teve a ideia de encomendar casinhas de madeira para servir o café e os petit-fours.

 

A Casa do Porco Bar / Panceta com Goiabada

 

Ciente do potencial das redes sociais para aguçar o interesse de novos clientes, o SubAstor inaugurou no começo do ano uma filial com status de atração turística. Fica no subsolo do Farol Santander, no centro paulistano, bem onde funcionava o cofre do antigo Banespa – daí o nome, Bar do Cofre. Restauradas, aquelas pesadas portas redondas de metal, tí – picas de filmes de roubo a banco, e as centenas de gavetas para armazenar valores já devem ter testemunhado mais selfies que o Beco do Batman. A repercussão no universo digital é tida como uma das principais explicações para as filas constantes, mesmo em se tratando de uma região da cidade pouco movimentada quando a noite cai.

 

Bar do Cofre

 

Inaugurado logo depois no Itaim, o Lolla aposta boa parte de suas fichas na parrilla e no pit, usado para defumar a costela por horas e horas, entre outros cortes. Para repercutir nas redes sociais, o restaurante se vale de um artefato que não tem nada a ver com comida – um balanço. Instalado em frente a um letreiro em néon no qual se lê “burn, baby burn”, virou um ímã de instagramers e afins.

 

 

Aberta em setembro, a unidade do Noma Sushi nos Jardins ganhou um hall de entrada com iluminação escurinha e paredes pintadas à la Jackson Pollock. O intuito era criar um espaço para selfies, repetidas por quase todo cliente. O efeito colateral é um engarrafamento constante de pessoas na entrada. E muita mídia espontânea, claro.

 

 

VIDA DIGITAL por Daniel Salles | Matéria publicada na edição 114 da Revista Versatille

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