De Epernay para o mundo: saiba mais sobre a história de 280 anos da Moët & Chandon
Avaliada em 1,4 bilhão de dólares, a marca de sucesso é resultado do esforço e talento de diferentes gerações
A pouco mais de uma hora de trem de Paris, a cidade de Epernay, no coração de Champagne, foi palco de muitos momentos históricos. Era lá, mais especificamente nas propriedades de Jean-Remy Moët, que Napoleão Bonaparte parava durante suas campanhas militares pela região. Grande apreciador de champanhe, ele costumava presentear seus aliados e generais com garrafas da maison, que até então era conhecida apenas como Moët.
A relação entre o ex-imperador e a marca era tão intensa que, anos mais tarde, o rótulo Moët Imperial foi criado em sua homenagem. Quando as primeiras garrafas foram lançadas, em 1869, o ano foi escolhido para coincidir com o centenário do nascimento do estadista. No entanto, não foi apenas essa figura histórica que caiu nos encantos da bebida. O champanhe também foi servido em casamentos reais, como os de Lady Di e de Grace Kelly.
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Hoje, a Moët & Chandon lidera como a marca de vinho mais valiosa do mundo, sendo avaliada em 1,4 bilhão de dólares, segundo relatório lançado recentemente pela consultoria Brand Finance. Um marco que é resultado do esforço e talento de diferentes gerações – e uma trajetória que merece que voltemos no tempo para relembrar alguns acontecimentos.
Um passeio pela linha do tempo
Em 1716, o empreendedor Claude Moët adquiriu uma comissão de corretagem de vinhos, tornando-se um dos primeiros negociantes do setor em Champagne. Na época, as bebidas da região conquistavam cada vez mais a atenção da elite, e a posição geográfica, na encruzilhada das principais rotas comerciais da Europa, era muito promissora. Claude logo começou a comprar vinhos e vendê-los em países como Espanha, Alemanha e Rússia, promovendo um elo importante entre os viticultores e o mundo.
No dia 10 de março de 1743, o comerciante registrou os detalhes de uma transação em um diário que manteria por toda a vida. Para alguns, esse documento histórico preservado pela família representa o verdadeiro início da maison. Quando morreu, em 1760, o empresário deixou como herança uma empresa familiar firmemente estabelecida, que inclusive já fornecia vinho para a corte francesa.
Por algumas décadas, a companhia continuou apenas focada na comercialização – que era extremamente lucrativa. O cenário só mudou quando Jean-Remy Moët, neto do fundador, assumiu as rédeas do negócio, em 1792. Consciente do sucesso dos vinhos espumantes de sua terra natal e da força que sua marca tinha com a elite, o jovem tomou a ousada decisão de reduzir o comércio e concentrar o investimento na produção própria da bebida.
Foi assim que começou a buscar terras promissoras na região, como Saran e Romont. Ao todo, foram cerca de 200 hectares adquiridos, vinhedos que hoje são reconhecidos por produzirem as melhores uvas de Champagne. Em Romont, o empresário estudou técnicas avançadas e aplicou práticas agrícolas que afloraram sua paixão pela agronomia. O sucesso não veio de imediato, mas foi nesse terroir que a essência dos champanhes da marca nasceu.
Em meio ao desenvolvimento, também havia a preocupação com a qualidade das garrafas. Era preciso obter vidros fortes, que controlassem o risco de acidentes durante o deslocamento para outros países. Jean almejava uma ampla distribuição internacional, assim como seu avô, então um transporte adequado era crucial. À frente dos negócios, conseguiu levar seus espumantes para países como Dinamarca, Grécia, Canadá e Brasil.
No mesmo período, o comerciante ainda chegou a ser prefeito de Epernay, tornando o nome Moët cada vez mais intrínseco à cidade – uma característica que permanece viva. Hoje, a própria Câmara Municipal da localidade fica em um edifício do século 19, rodeado por jardins, que foi construído pela família em frente à sede vinícola da maison Moët.
Deixando um enorme legado, Jean se aposentou em 1833. A partir daí, quem assumiu foi o seu filho, Victor, com seu genro, Pierre-Gabriel Chandon. Foi nesse momento – como vocês já devem imaginar – que a marca foi renomeada como Moët & Chandon.
Tempos de Moët & Chandon
A história da maison francesa é extensa, então vale fazermos um pequeno pulo temporal para destacar mais dois nomes importantíssimos desta trajetória: o primeiro deles é Raoul Chandon de Briailles, filho de Pierre-Gabriel Chandon e Adelaide Moët, que comandou a empresa no fim do século 19 e precisou superar uma crise causada por uma praga devastadora nos vinhedos da França.
Ele fez um trabalho intenso para combater a infestação e reconheceu a importância da ciência para a retomada da subsistência econômica da região. A partir disso, Raoul estabeleceu uma escola chamada École Pratique de Viticulture Moët & Chandon, que visava melhorar as práticas agrícolas para as gerações futuras. Um marco para o avanço no cuidado com o terroir.
O segundo nome que merece os holofotes, já no século 20, é Robert-Jean de Vogüé, que se juntou à empresa em 1930 e superou todos os grandes desafios que surgiram, como a Segunda Guerra Mundial. Sob o seu comando, a relação entre os viticultores locais e o comércio de vinho melhorou. Seus esforços na proteção dos direitos dos pequenos produtores eram tão intensos que lhe renderam o título de “Marquês Vermelho”, em referência às causas sociais que apoiava.
Mais do que isso, o empresário guiou a maison por uma fase de modernização dos meios de produção. Em 1966, ele investiu em cubas de aço inoxidável para melhorar os processos de fermentação, envelhecimento e armazenamento do vinho nas caves, fazendo com que a Moët & Chandon se tornasse a primeira casa de Champagne a utilizar essa tecnologia. Robert também foi responsável por conquistar definitivamente o mercado americano e se posicionar no universo do luxo.
Em 280 anos, a marca que hoje conhecemos pela presença em grandes comemorações passou por inúmeras conquistas, crises e superações. Não há uma receita mágica para esse sucesso duradouro, mas é possível perceber um padrão ao longo da história: comandada por gestores sonhadores, ela nunca ficou parada no tempo sem almejar o avanço. Uma essência verdadeiramente efervescente.
Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 136 da Versatille