Contraste de gerações: entenda a estética avant basic
A tendência se baseia no choque visual e emocional entre diferentes épocas
A inconstância sempre foi parte da indústria da moda, mas os avanços tecnológicos impulsionaram drasticamente o ritmo das transformações, que acontecem cada vez mais rapidamente. Por outro lado, o afeto sentido ao lembrar do passado é um dos únicos aspectos permanentes em meio à efemeridade da moda contemporânea. É justamente esse carinho emocional, que está no centro da nova estética dominante, batizada de avant basic, que, como o nome já diz, combina o essencial de épocas passadas com uma originalidade e liberdade à frente do tempo.
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Assídua nas redes sociais, a geração Z tem sido a principal responsável pela popularização dos estilos, mas, desta vez, também contribui com o papel criativo. “Todas as marcas trabalham para agradar a esse público porque ele dissemina tudo pelo mundo. Esses jovens estão na Internet, fazem vídeos, são politizados, dão opinião e questionam. É uma geração muito rápida, atenta, e, além de tudo, tem liberdade com a estranheza”, explica a stylist Bruna Prado.
Para ela, a tendência está muito ligada à emoção familiar e à nostalgia. Com a obrigatoriedade de passar mais tempo dentro de casa, os jovens, antes acostumados a uma rotina externa e agitada, começaram a prestar mais atenção nos costumes e nas histórias dos entes queridos. “Isso os faz visitar o guarda-roupa dos avós, por exemplo, e pensar como uma peça poderia ser usada agora. Ou então, até escutar as músicas que eles ouviam”, explica Bruna.
Uma das principais inspirações dessa estética são os anos 1960 e 1970, quando o rock psicodélico estava no auge de sua popularidade. As cores néon e estampas lúdicas são elementos visuais desse gênero musical perceptíveis na avant basic. “É uma excentricidade que os jovens acham livre e bonita. Isso traz um conforto, uma sensação de otimismo e alegria. Ao mesmo tempo, essa psicodelia e mistura de sentimentos são evidentes no momento em que vivemos.”
Para Camila Todelo, consultora de moda e trend forecaster (profissional que prevê tendências), a estética parte justamente do movimento de resgate do que é essencial para ser feliz. Em vez de utilizar roupas ostensivas, a ideia é trabalhar a criatividade a partir do básico, o que remete à estética normcore. O estilo, que surgiu por volta dos anos 1990, consiste em uma aparência “normal cool”, despretensiosa e não baseada em uma tendência. “No TikTok você vê aquele jovem dançando com um short jeans básico do seu dia a dia, uma camiseta e uma calça de moletom. Ele se fantasia zero. Aquilo é de verdade.”
Outro princípio importante que norteia a estética é a forte preocupação com a sustentabilidade, típica dessa geração, que impulsiona o pensamento criativo. “Em vez de jogar fora um jeans velho e comprar um novo, eles vão cortar, bordar, escrever em cima dele, ou então pedir para alguém customizar. O foco é criar uma identidade específica para uma peça que ninguém mais tem”, afirma Camila.
Como resultado de todos esses comportamentos e inspirações, a avant basic se destaca nas estampas e cores. As formas são orgânicas e contrastam com colorações intensas. “É como pintar algo e deixar o desenho se formar sozinho”, diz Bruna. Entre os elementos estampados, é comum observar flores, ondas, círculos e nuvens. “Tudo é mais lúdico. Parece com uma paisagem que vi e desenhei no meu caderninho”, exemplifica.
Embora seja comum que diversas marcas insiram componentes da estética em suas coleções para atrair o público disseminador, algumas são referências no estilo. A grife britânica House of Sunny, por exemplo, é a criadora do vestido verde que virou febre ao ser usado por Kendall Jenner em uma foto compartilhada em seu Instagram. Com seus círculos irregulares estampados na malha em tons de verde, o Hockney Dress é literalmente um símbolo da avant basic. Jacquemus e Tom Ford, por sua vez, também têm apostado em cores contrastantes e efeito metalizado.
A marca Ginger, da atriz e empresária Marina Ruy Barbosa, exibiu elementos da estética em sua última coleção, Patinadora. As roupas apresentam uma paleta de cores alegre, com tons de verde, roxo, marrom, preto e branco. Além de brincar com o brilho, efeito molhado e listras retrô, a linha traz shapes vintage, inspirados nos anos 1950, 1970 e 1990, de forma atualizada.
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Liberdade e contraste compõem a essência da avant basic, que já foi batizada de forma paradoxal. Apesar de sua origem estar ligada aos jovens, existem muitas versões da estética, que se adapta à identidade de quem a veste. “O basic para o jovem vai conter mais cor, informação e volume. Já uma mulher adulta vai vestir um moletom com uma cor mais neutra, ou uma peça com menos volume. A tendência é a mesma, mas a forma de fazer é outra”, conclui Camila.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 122 da Versatille