Conheça Maurício Marx, um dos principais colecionadores de carros antigos do Brasil

Dono do Porsche 356 mais antigo do Brasil em funcionamento, Maurício Marx discorre sobre sua vida, intrínseca ao "antigomobilismo"

Maurício no Autódromo José Carlos Pace, em 1999, junto ao Porsche 356
Maurício no Autódromo José Carlos Pace, em 1999, junto ao Porsche 356 (Arquivo pessoal)

Filho do advogado de profissão e colecionador de missão Flávio Marx, Maurício Marx cresceu entre os carros clássicos. “Tenho um gosto especial por modelos europeus de competição (principalmente os que correram no Brasil até os anos 1970) e os com carrocerias especias (gosto maior pelas italianas) por causa do meu pai, que tinha um entendimento diferente e mais sofisticado do ‘antigomobilismo’ e me apresentou os carros desde cedo. Por outro lado, não abro mão do meu Fusquinha e da minha Kombi”, conta Marx.

 

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Fã do pai, ele acredita ter herdado do mentor um entendimento visionário sobre as relíquias escondidas no Brasil. Em outras palavras, sabe o que é importante e valioso para colecionadores mundo afora. Essa habilidade o levou a negociar tanto carros europeus quanto nacionais fora de série (como Pumas e Envemos) para o exterior. Mas nem tudo são negócios.

 

Os pais de Maurício, Helena Ultramar e Flávio Marx

Os pais de Maurício, Helena Ultramar e Flávio Marx (Arquivo pessoal)

 

Entre as preciosidades que ainda preserva está o Porsche 356 mais antigo do Brasil em funcionamento, produzido em 1951. Bem, se você é íntimo do Maurício sabe que estamos falando do carro batizado de “Véio Zuza”. “Meu pai comprou o 356 em 1980, ano em que eu nasci, e me foi passado por ele como um bastão. E só me interessa dar continuidade a esse amor”, romantiza Marx, que usa a história da própria Porsche como exemplo:  “O mais importante é que, tanto na história da marca quanto dos Marx, o filho dá seguimento ao legado do pai”. 

Emerson

Acontecimento dos mais célebres na vida do paulistano de 40 anos foi quando despachou, além da mala, um Renault R8 Gordini para os EUA, para o concurso Amélia Island, um dos mais refinados e poderosos de carros antigos do mundo. Na ocasião, Emerson Fittipaldi foi homenageado por sua carreira no automobilismo. O Renaultzinho mirradinho e amarelinho do Maurício foi o carro da primeira vitória de Fittipaldi, em 7 de novembro de 1965, na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro.

 

Com a participação no evento, pavimentou então seu reconhecimento internacional, projetando a Universo Marx European Cars and Friends, sua empresa. “Esse foi o primeiro de uma lista de eventos internacionais que farei”, promete. Em sua relação estão Mille Miglia, Targa Florio e Rallye de Monte Carlo, entre outros. A ideia é levar um carro próprio para cada evento.

 

De volta ao Brasil, foi tocando a vida. Reformou um 356 da coleção e o vendeu, planejou a Copa Paulista de Rallye Histórico, cuidou de acomodar melhor seu Lancia Astura sob a capa na garagem e trabalha, todos os dias, para propagar a cultura do carro antigo.

 

Bird Clemente com Wilson Fittipaldi, ao lado de seus carros de corrida – hoje pertencentes a Marx

Bird Clemente com Wilson Fittipaldi, ao lado de seus carros de corrida – hoje pertencentes a Marx (Arquivo pessoal)

 

Aliás, é bom explicar o que é um carro antigo na visão dele: “Precisa ter o conceito antigo de fabricação. Até os anos 1973/1974 entendo que os carros tinham mais contato humano e isso é uma das coisas que dão graça aos clássicos. Eram esculpidos e montados, às vezes artesanalmente, e não por máquinas. Mas, com a crise do petróleo e as exigências de segurança americanas, as fábricas tiveram de limitar seus motores e colocar para-choques enormes em belíssimas carrocerias, como na Ferradi Dino 348 e no Mercedes Benz SL dos anos 1980”. De todo modo, o que mais importa para ele são as histórias e os amigos que o antigomobilismo lhe apresenta.

 

No novo conceito de vida e modo de trabalho que planeja, Maurício pensa em um espaço de entretenimento, negócios, serviços e confraria. Obcecado por carros de corrida antigos, declara amor incondicional ao automobilismo clássico nacional, também herdado do pai. Por isso conseguiu escarafunchar modelos quase secretos, como a “Karmelitta”, um Karmann-Ghia Porsche Dacon e um Maserati A6CGS Monofaro 1947, que pertenceu à equipe Maserati e foi o carro em que Alberto Ascari venceu sua primeira corrida. Além do Renault R8 Gordini da Equipe Willys, é claro.

 

O autógrafo de Fittipaldi no capô do Karmann Ghia Dacon

O autógrafo de Fittipaldi no capô do Karmann Ghia Dacon (Arquivo pessoal)

 

Marx com o modelo  Karmann Ghia Dacon

Marx com o modelo Karmann Ghia Dacon (Arquivo pessoal)

 

“O que aprendi com meu pai sobre competição está sendo repassado de outra forma. Não estou apenas preservando, mas, ao lado de dois historiadores, estamos criando o Race Car Register, um centro de registro do automobilismo brasileiro que vai além dos carros e envolve também equipes, pilotos e preparadores”, explica ele.

 

Um dos principais projetos para 2021 é retomar a Copa Paulista de Rallye Histórico, um campeonato de rali de regularidade para clássicos que ficou parado no ano passado. Agora com novos parceiros na empreitada, serão quatro etapas.

 

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Jazz e barba feita

Ele é do tipo que não abre mão de frequentar a Barbearia Corleonne, do amigo Bruno van Enck, e o restaurante Cozinha 212, de outro amigo, Victor Collor. Por outro lado, vira e mexe está de short e camiseta sujos de graxa, perambulando por aí com o “Véio Zuza” ou sua VW Kombi 1964.

 

E se vocês pensam que Flávio só deixou um monte de lata, Maurício faz questão de lembrar que o pai legou também outras paixões, como a cachaça, a poesia e o jazz, único estilo musical que se escuta na Universo Marx. 

 

Por Rodrigo Mora | Matéria publicada na edição 118 da Versatille

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