Conheça a trajetória de Matt Smith, ator do filme Noite Passada em Soho
O britânico apaixonado pelo Brasil esbanja simpatia em entrevista sobre sua participação no novo suspense
Como já é de se esperar dos britânicos, o telefone tocou exatamente na hora marcada. Nada inesperado, uma vez que a pessoa do outro lado da linha é internacionalmente conhecida por ter interpretado Prince Phillip, na série The Crown. Agora, imagine a surpresa de quem vos escreve quando a primeira coisa que Matt Smith fala é: “Oi, tudo bem? Tudo bom?”, no bom e velho português, com um sotaque que mistura o inglês britânico e o carioquês.
O ator teve seu primeiro big break quando estrelou a série Dr. Who, da BBC, e desde então interpretou diversos personagens icônicos, não só na televisão, mas também no cinema e no teatro. Sua extensa lista de papéis inclui o fotógrafo Robert Mapplethorpe, no filme Mapplethorpe, e Patrick Bateman, na versão teatral e musical do Psicopata Americano. Seus novos projetos, entretanto, são ainda mais promissores do que já vimos. Na televisão, ele faz parte do elenco de House of the Dragon, a nova série que é um prólogo da saga de Game of Thrones, prevista para ser lançada em 2022, na HBO.
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Já no cinema, Smith estrela ao lado das atrizes Anya Taylor-Joy e Thomasin Harcourt McKenzie o mais novo suspense de Edgar Wright, Noite Passada em Soho. O filme é sobre uma jovem que consegue viajar no tempo para o bairro boêmio de Londres, nos anos 1960, onde ela conhece figuras inusitadas, incluindo Jack, o personagem de Smith. E, como todo bom thriller, logo a magia traz consequências bastante assustadoras.
Matt Smith conversou com a Versatille sobre o filme e além dele, com o senso de humor inteligente e seu sotaque britânico, intrínseco a ele. Confira na íntegra.
Versatille: Eu esperava tudo, menos que nesta entrevista eu falasse em português. Como assim?
Matt Smith: Passei muito tempo no Brasil e é um dos meus lugares favoritos do mundo. Eu amo. Na verdade, eu posso apenas improvisar confortavelmente em português. Mas quer saber qual é a minha palavra favorita em português? “Saudade”.
V: Você é um grande fã de música e o filme se passa nos anos 1960, na região do Soho, em Londres. Como foi revisitar essa era para você?
MS: Nossa, foi muito divertido. O Edgar Wright conseguiu fazer com que a música fosse uma característica forte no filme. Há uma trilha sonora ótima e os anos 1960 foram um período incrível para escutar. Não sei se você já esteve no Soho, mas é um lugar muito, muito interessante e animado. Mas, quando está tudo escuro, ele muda. Eu gosto de cidade que tem um pouco de ousadia, sabe? Eu amo o Rio de Janeiro, por exemplo. Num minuto você pode estar na praia, no outro você está em uma favela, e são mundos completamente diferentes. Isso é o que o nosso filme faz. Acho que você vai gostar. Eu raramente posso dizer isso com confiança, mas ele é bom.
V: Edgar Wright escreveu o roteiro e também dirigiu o filme. Quanto isso ajuda você, como ator, a ter um diretor totalmente envolvido na criação da narrativa?
MS: Com o Wright, quando você entra em algum de seus filmes, ele está totalmente envolvido. Eu não sei se você já viu algum deles, mas ele é extremamente habilidoso e talentoso. Na minha percepção, você confia e só diz: “Ok, o que você quer que eu faça?”. Quando li o roteiro, já sabia que era ótimo. Mas, ao assistir, você percebe que ele foi muito inventivo na forma que dirigiu e capturou as cenas. É uma visão muito especial e, realmente acredito que ele se tornará um dos grandes nomes do cinema britânico. Foi um projeto extremamente estimulante de fazer parte, e eu não sou desses que falam isso sobre todos os filmes. Alguns não são tão motivadores, mas esse realmente foi muito bom de trabalhar. Eu quero que meus amigos assistam e o mundo também.
V: O suspense é feito para assustar o público, mas não quer dizer que não seja divertido de trabalhar. Qual foi a melhor parte das filmagens para você?
MS: Sem entregar muito aos leitores, mas tem muitas reviravoltas no meu personagem. Há algo divertido e interessante em trazer o inesperado para o público. E, quando você assistir ao filme, vai ver uma cena em que eu e a Anya [Taylor-Joy] fazemos o que eu considero que seja uma dança muito legal. Você tem de ver. Foi muito engraçado porque tivemos de preparar e aprender como fazer. E a gente tentava se divertir, principalmente nas gravações à noite, quando as coisas ficavam meio loucas, malucas e estranhas. Eu acho que todos estávamos trabalhando com o mesmo objetivo, querendo fazer algo especial.
V: Outro ponto maravilhoso são os figurinos. Você chegou a levar algum para casa?
MS: Não, quem dera. Eu queria muito ter ficado com os ternos, porque eram lindos. Ternos dos anos 1960 extremamente bem acabados. Eu realmente fiquei ótimo com os ternos. Há alguns bastante excêntricos. Infelizmente, não pude, levaram tudo. Eu nunca sei para onde essas coisas vão, mas a equipe pegou todos de volta.
V: Em sua opinião, qual a diferença na interpretação de pessoas que de fato existiram em comparação aos personagens fictícios?
MS: Com o príncipe Phillip e Mapplethorpe, por exemplo, há tanto material para se basear e estudar para poder criar o personagem, porque não pode ser uma imitação. São muitas fontes que você pode usar, o que é sempre útil e bastante interessante, especialmente para esses dois personagens específicos que tiveram vidas muito ricas e não usuais. E, com alguém como Jack, você fica mais livre para inventar, usar as próprias habilidades e criar o personagem. Eu tive sorte nesse filme em ter um diretor como Wright, que é extremamente forense em seu trabalho. Ele já veio preparado com diversas referências de quem são os personagens, até mesmo de música.
V: Vocês filmam muito tempo antes de o público assistir e, principalmente em suspense e terror, é quase que um projeto secreto. Como foi manter os segredos do filme da família e dos amigos?
MS: Bom, a gente não tem opção. Mas acaba sendo legal, porque melhora a experiência de quem vai assistir. E eu sou bom em guardar os filmes que faço em segredo, porque, quando eu fazia Dr. Who, tudo era sob sigilo, então me acostumei.
V: E, por falar em sigilo, você está no elenco de uma das produções mais esperadas da televisão atualmente, A House of the Dragon.
MS: Eu uso uma peruca extremamente loira, e isso é provavelmente a única coisa que posso falar. Mas estamos todos trabalhando duro para fazer com que seja cativante e dar ao público, os fãs que já têm alguma noção prévia da série, algo que eles possam desfrutar. Estou ao lado de um elenco maravilhoso, mas vamos ver. Quem sabe como esses projetos saem? A gente nunca sabe, mas estamos com os dedos cruzados para que seja algo divertido de assistir e que o público goste.
V: Você ficou intimidado de pegar esse projeto após o sucesso e as críticas de Game of Thrones?
MS: Sim, claro que sim. Porque eu acho que Game of Thrones sempre irá ter aquele lugar sozinho, por mérito próprio, como um fenômeno cultural da televisão moderna. Eu não acho que House of the Dragon vai fazer o que GOT fez. Mas espero que a gente tenha acertado pontos o suficiente para entregar algo a que as pessoas vão querer assistir.
V: Uma coisa peculiar que surgiu em minha pesquisa sobre você é que no Internet Movie Database (IMDB) sua marca registrada é “o maxilar e uma personalidade excêntrica”. O que você acha disso?
MS: É sério? Está escrito isso lá?
V: De fato, uma coisa que marca sua carreira são os filmes e séries de época. Há algum período que você ainda não interpretou mas gostaria de explorar?
MS: Que pergunta boa! Gostaria de fazer um filme que se passasse nos anos 1980. Eu teria muito interesse em fazer algo que caracterizasse bem esse período, com os figurinos e a trilha sonora bem marcantes da época. Mas também adoraria fazer um filme no Brasil.
V: Quais são seus lugares favoritos no Brasil?
MS: Devo ter ido ao Rio de Janeiro umas dez vezes, tenho amigos lá. Já estive em São Paulo rapidamente, porque estava indo a uma praia perto da cidade. Também já fui a Curitiba e quero muito ir a Floripa.
V: Em qual lugar no Brasil você gostaria de filmar?
MS: No Rio, com certeza. Mas gostaria de fazer algo em Recife também, as praias lá perto são incríveis. E sabe, eu já fui ao Carnaval três vezes.
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V: Você já é praticamente um brasileiro.
MS: Brasileiro, sim! [em português]. Já me chamaram de carioca honorário, já que sou de fora mas gosto muito de lá. O Brasil tem um lugar muito especial no meu coração.
Noite Passada em Soho estreia nos cinemas no dia 18 de novembro de 2021.
Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 122 da Versatille