Conheça a trajetória da estilista Simone Nunes

Após 20 anos de carreira no mundo fashion, a designer conta como criou produtos tão desejáveis com a marca Room

Fundadora Room, Simone Nunes, segura seu gato
Fundadora da Room, Simone Nunes (Divulgação)

Despretensão, disciplina e criatividade definem a estilista Simone Nunes. Formada em desenho industrial, ela uniu sua paixão por móveis e moda e criou a marca Room, conhecida pela sandália Pillow, que tem um sucesso tão grande quanto suas proporções, ainda que nada disso tenha sido planejado. Aliás, tanto o planejamento quanto os padrões da moda são exatamente o oposto das criações de Simone, que, além dos sapatos, incluem joias e bolsas.

 

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“A Room não segue um calendário, não lança coleção na mesma hora que todas as marcas, ou na época de fazer showroom. Como já trabalho há 20 anos no mercado e com todos os calendários convencionais, a Room é quase uma marca feita de desejo. Então, ela não precisa seguir nenhuma das regras impostas”, conta Simone Nunes.

 

Pillow

Pillow (Divulgação)

 

Segundo Simone, foi justamente essa bagagem adquirida durante sua trajetória na moda tradicional que a permitiu criar não só a Room, em 2016, mas a Serpentina, de moda praia, em 2014. Em 2010, ela fechou sua marca homônima, que apresentava coleções na São Paulo Fashion Week, para trabalhar em diversos países, como China, Inglaterra, Espanha, México, Estados Unidos, França, Itália e Japão. Além disso, atuou em diferentes setores, como fast-fashion e prêt-à-porter (modelo “ready to wear” ou “pronto para vestir”).

 

“Após compreender os mecanismos por trás do business, resolvi, com toda a minha experiência, abrir a Room. Mas, nesse ponto, eu já era uma Simone completamente diferente da que fazia desfiles. Eu a criei justamente fora da pressão que a gente sente quando trabalha numa empresa e é obrigada a criar sem parar.”

 

Veja, a seguir, trechos da entrevista com a estilista Simone Nunes.

 

Versatille: Como iniciou sua trajetória no mundo da moda?

Simone Nunes: Primeiro fiz desenho industrial e depois me especializei em moda, em Milão, e então voltei a São Paulo para trabalhar na Santaconstancia, com a Costanza Pascolato. Foi o meu primeiro trabalho, maravilhoso. Fiquei dois anos lá, aprendi bastante com ela. Ainda trabalhando na Santa, eu mandei um projeto para a Casa de Criadores (plataforma dedicada à moda autoral brasileira e lançamento de novos talentos), ele foi aceito e a partir disso eu comecei a fazer desfiles.

 

Pillow

Pillow (Divulgação)

 

V: Você sempre foi apaixonada por moda?

SN: Até por ter escolhido desenho industrial, eu gosto de criar produto. Fui justamente para Milão aos 18 anos – na época ainda sem ter me formado – porque estava em dúvida se queria desenhar carro, móvel ou moda. Lá eu decidi moda, mas também gosto muito de móveis. Dos carros, eu já desisti, mas os móveis ainda estão no projeto.

 

 V: Como foi o começo da Room?

SN: A Room surgiu como uma marca sem a pretensão de uma venda absurda e em grande quantidade, por mais que pareça contraditório. Eu tinha, na verdade, o desejo de fazer produtos da época dos desfiles, só para a passarela, os quais não eram vendidos. A Room começou com o tricô e o propósito de criar produtos que pudessem ser usados em casa ou na rua, não como loungewear, mas peças quase sem ocasião e que mudam a função de acordo com o que se faz com elas.

 

V: Como surgiu a sandália Pillow, ícone da marca?

SN: A intenção não era fazer uma sandália ícone, mas um sapato que eu tivesse vontade de usar, que ficasse confortável no meu pé e tivesse uma proporção absurda não pensada para a venda. Ela se chama Pillow justamente por ser traduzida do inglês como “travesseiro”. Eu mandei fazer uma para mim, só que as pessoas começaram a ver e pedir. Por causa da Serpentina, eu estava fazendo uma feira em Paris, e então fui convidada para lançar a Pillow em Xangai. Já em Nova York, todo mundo no estande trabalhando para a Serpentina estava com um exemplar nos pés. Depois que o pessoal do WGSN viu e pediu para fotografar, saiu no portal deles e as grandes marcas começaram a imitar. Até tiveram rumores no Brasil sobre eu copiar uma marca gringa que, na verdade, era eu mesma.

 

Pillow

Pillow (Divulgação)

 

V: Quais são os planos para solidificar o sucesso da marca?

SN: Ainda bem que nada dessa venda gigantesca foi planejada, mas sim um bônus. Ela não me afeta, não muda nem cá, nem lá os planos. A Room é para ser slow fashion. As peças são feitas a mão, em lugares pequenos e, principalmente, em que o know-how foi passado de pai para filho. Às vezes, a gente recebe algumas pessoas meio raivosas falando: “Como não tem pronta-entrega?”. E não tem. Eu não gosto do boom, de ser a febre da vez. É para ser uma marca devagar, e esse é o luxo.

 

V: Existe alguma possibilidade de collab entre a Room e a Serpentina?

SN: Recentemente entreguei um projeto na Itália que tive de desenhar a mão e me senti como na época da faculdade, porque fiquei virando noites fazendo inúmeros desenhos técnicos. E foi com uma pesquisa muito profunda e um trabalho realmente extenso que falei: “Eu estou pesquisando coisas, mas isso não é para a Room, é para a Serpentina” – e era sapato. Cheguei até a pensar: “Não vai fazer a louca, porque a Serpentina não tem sapato”. Mas, depois, concluí: “Por que não? Pode ter chinelo…”. E já comecei a fazer uma pasta, pois até faz mais sentido ter chinelo na Serpentina do que na Room.

 

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V: Como se manter relevante no mercado?

SN: Eu sempre fui aquela pessoa que acorda e trabalha, e principalmente agora em 2021, completando 20 anos de carreira, vejo que foi um período em que construí uma casa de cimento, não de palha. Eu nunca fiz nada para me manter relevante no sentido de estar na mídia, é pelo trabalho e pela profissão mesmo. Tanto faz se a Pillow é a sandália do momento ou não, porque sei que amanhã vou acordar e trabalhar. O mais delicioso e divertido de tudo é o dia a dia com a minha equipe! 

 

Por Laís Campos

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