Conheça 3 marcas que apostam em lingeries fora do óbvio

Mutante através dos tempos, a lingerie representa uma verdadeira aliada para obter autoconfiança por meio da combinação entre a estética e a funcionalidade

Lingeries bride to BE, de Julia Pak (Juliana Kneipp)

Imaginação, surpresa, provocação, poder e funcionalidade são elementos que constroem o universo da lingerie. “Ela está muito na mente; ela é o antes, aquilo que antecede o ato. É sobre aquele momento em que tudo vai ser revelado. Tem essa ideia do preparo”, diz a designer de lingerie Priscila Gomide, fundadora da marca Intensify.me. Muitas vezes, seu papel é simplificado em proporcionar confiança a quem veste, mas seu caráter de sustentação também contribui diretamente para isso. “Na antiguidade, o primeiro passo nunca foi o erotismo, mas sim a proteção”, recorda Priscila. 

 

Teca Pasqua, mente criativa à frente da Cisô, compartilha essa visão: “Não é apenas uma peça que você coloca e se sente a mulher mais poderosa do universo, mas também aquela que está ali como sua melhor amiga. A lingerie é a primeira coisa que a gente veste. Ela pode afetar tudo, desde como você está se sentindo até prejudicar realmente seu dia a dia”. 

 

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A estilista Julia Pak, fundadora da marca homônima, por sua vez, reforça a escolha da lingerie como processo do autocuidado. “Nós começamos cuidando da nossa alma até o estético puramente dito. A lingerie faz parte dessas camadas”, afirma. 

 

A visão holística em relação às peças íntimas compartilhada pelas designers é materializada nas criações de suas marcas. Confira, a seguir, como cada uma transmite em suas coleções a ideia da lingerie como uma aliada emocional em momentos especiais, mas também prática para o dia a dia. 

 

Julia Pak 

 

Lingeries bride to BE, de Julia Pak (Juliana Kneipp)

 

Reconhecida no mercado nacional por sua expertise na criação de vestidos de noiva, Julia Pak lançou, em janeiro, a coleção-cápsula de robes e lingeries bride to BE. “Quando a noiva decide passar por esse ritual do casamento, ela se depara com muitos processos. Começa pelo jantar de noivado e aí tem eventos do tipo chá-bar, chá de lingerie, entre outros. Já que eu olho o casamento como um grande ritual, acho importante o papel da roupa, da indumentária, nesse processo”, comenta a estilista sobre a ideia da coleção. 

 

Minimalismo e funcionalidade definem a linha composta de sete peças, entre as quais estão robes, camisolas, vestidos e um pijama. Quatro delas podem ser adquiridas sob medida, e as outras três fazem parte da linha ready-to-wear do e-commerce, mas com tecido cortado conforme a altura da cliente. “Eu sempre gostei de comprar roupas para usar em casa e ‘acordar arrumada’. Então, foquei em criar peças que também possam ser usadas para dormir, e não apenas uma camisola ou um robe especificamente.” O vestido Angel, por exemplo, com camada externa de musseline, barra assimétrica e flores aplicadas, foi intencionalmente feito de forro removível. “Ele pode ser um vestido mesmo, porque é lindo, mas pode virar uma camisola ou uma saída de praia super-sexy.” 

 

Para Julia, o cuidado na escolha de uma lingerie ou robe de casamento é essencial para tornar cada processo inesquecível e obter autoconfiança. “Eu acho que a roupa como um todo ajuda a aterrar qualquer ritual de passagem pelo qual a cabeça esteja passando, seja o do casamento ou qualquer outro, só pelo fato de você se olhar no espelho e colocar algo sobre o seu corpo. Faz você marcar aquele dia.” Além disso, a estilista ressalta que os detalhes de uma peça dizem tudo sobre os sentimentos e processos internos que a noiva experimenta. “Quando eu coloco a renda chantilly como uma proteção em lugares mais vulneráveis para a gente, o design já está sendo pensado para vestirmos a peça para nós mesmas e não para quem está olhando e não sabe o que se passa dentro de nós”, afirma. 

 

Cisô 

 

Body da Cisô (Divulgação)

 

“Eu me apaixonei pelo mundo da lingerie e hoje o acho bem mais interessante do que o da roupa, porque ela não somente possui inúmeras funções, mas também estéticas e possibilidades a serem desvendadas”, diz Teca Pasqua, fundadora da Cisô, marca lançada em 2016. Apesar de ser formada em design de moda, a estilista relata que se aperfeiçoou na criação de peças íntimas de forma autodidata. “Na faculdade, eu não tive aula sobre lingerie. A gente está falando de quase 20 anos atrás, quando esse mercado era muito limitado a grandes empresas. Eu fui realmente estudar a construção da lingerie recentemente porque eu queria ter uma base, mas sempre inventei meu jeito próprio”, conta. 

 

De fato, não há nada mais autêntico do que criar coleções a partir de sonhos. A designer brinca que tem “vômitos criativos”: “Acho que está tão dentro do meu inconsciente que acabo sonhando com a coleção. Eu acordo e desenho tipo 40 modelos. Geralmente, faço tudo em um dia só e depois vou adaptando, reconstruindo”, diz. Além disso, Teca relata que sempre esteve muito ligada ao mundo das artes, que traz a ela inspiração por meio da arquitetura, das artes plásticas e até do corpo feminino. Não à toa, as linhas For Dancers, For Lovers, For Poets e For Dreamers têm em sua essência essa pegada criativa do imaginário e as nuances de cada tipo de arte. Já no que diz respeito às técnicas de produção, a construção das peças ocupa um lugar central. “Eu brinco que sou costureira antes de ser designer [de fato, ela afirma que aprendeu a costurar antes mesmo de ingressar na universidade].” 

 

Fundada em 2016, a Cisô foi citada como “o futuro da lingerie brasileira” pelo site inglês Not Just a Label, e Teca, reconhecida como uma designer emergente em destaque no mercado mundial, recebeu o convite para expor no Salon Internacional de La Lingerie, em Paris. Além disso, a Cisô desfilou como a primeira marca de lingerie convidada no evento Casa de Criadores, responsável por valorizar novos designers. “Eu acho que a minha expertise no ramo, além da criatividade, é um dos meus pontos fortes. Às vezes, as pessoas sabem criar, mas não sabem desenvolver ou costurar. Com esse meu conhecimento, consigo fazer uma peça realmente única e mesmo assim adaptá-la a diferentes corpos”, afirma. 

 

Intensify.me 

 

Conjunto da Intensify.me (Divulgação)

 

“A Intensify.me veio para solucionar um problema do guarda-roupa feminino”, diz Priscila Gomide, fundadora da marca de middlewear (termo cunhado por ela a fim de designar peças usadas entre a lingerie e a roupa), que derivou da label homônima que a estilista comandava anteriormente. “No início, a Intensify.me era só a anágua, combinação top-body, para tirar a transparência”, comenta Priscila sobre o surgimento da marca, em 2013, como uma solução de moda. Hoje, são vendidos tops, calcinhas, bodys, anáguas, uma linha pronta-entrega e até um elixir aromático para a região íntima. 

 

A estética vintage é um dos principais norteadores criativos da designer, o que dá origem a peças com uma modelagem mais fluida. “Minhas pesquisas foram sempre muito fortes na indumentária íntima antiga. Treze anos atrás, não existia brallet [sutiã sem armação], as mulheres só usavam bojo. Já na antiguidade, era tudo muito solto, fresh, as barbatanas eram as estruturas que seguravam o peito. O nosso sutiã foi pensado para ser mais solto”, conta. Segundo a estilista, esses estudos não só trazem inspiração estética, mas também ajudam a encontrar soluções antigas de problemas da moda. Priscila afirma ainda que as referências do passado tornam o processo criativo mais autêntico.  

 

Um dos destaques da marca é a linha Erotic.me, que explora o sistema somatossensorial, que identifica as texturas. Calcinhas com franjas, acessórios de veludo, tule ultraleve e arrastão com furos largos para um maior contato com a pele são alguns dos elementos que compõem a coleção. “Com o tempo, ao criar intimidade com várias mulheres, e na minha própria história, percebi que as pessoas, quando vão vestir o erótico, ou uma lingerie bonita, sempre se vestem para o outro e, muitas vezes, essas vestimentas são até incômodas.” Segundo Priscila, as peças da Erotic.me são mais nuas, fetichistas, a fim de gerar estímulos visuais e por meio do toque. “Os elásticos são mais largos, mais macios, eles não vão cortar a mulher, ela não vai ficar parecendo uma coisa amarrada. A gente faz de tudo para deixá-la muito bonita”, conclui. 

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 134 da Versatille

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