A sensibilidade nata de Felipe Morozini, fotógrafo e artista urbano

Em entrevista, o fotógrafo fala sobre como se descobriu artista, seu processo de criação e o futuro dos espaços urbanos

Felipe Morozini
Felipe Morozini e sua arte urbana (Arquivo pessoal)

“Acho que me descobri artista quando percebi que eu poderia falar e fazer coisas através de imagens, poesias ou palavras, e que elas diriam muito mais do que só aquela imagem ou palavra”, conta Felipe Morozini, autor da fotografia que ilustra a capa da edição 121 da Versatille. O bacharel em direito trocou há alguns anos sua área de formação e se transformou em um multiartista, atuando por meios como a fotografia e as artes plásticas. Morozini é o responsável por letreiros em prédios de São Paulo, como o “Eu Sabia que Você Existia” e “Eu Me Vejo em Você”, entre outros, além de uma coleção infinita de fotografias, a exemplo da série Um Lugar ao Sol, na qual ele clica, há mais de 20 anos, varandas e janelas, registrando hábitos e rotinas de pessoas que ele possivelmente nunca irá conhecer. 

 

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Representado pela Bianca Boeckel Galeria e também presente na BG 27 com sua série de prints com frases criativas, Morozini atualmente vem desempenhando projetos nas esferas públicas e privadas, assim como parceria com marcas. Prestes a inaugurar uma instalação na edição 2021 do evento paulistano Casa Cor, o artista também se prepara para deixar sua marca por outras cidades brasileiras, como Salvador e Recife. Confira a entrevista na íntegra. 

 

Versatille: Como você se descobriu artista?

Felipe Morozini: Eu acho que me descobri artista quando percebi que poderia falar e fazer coisas através de imagens, poesias ou palavras, e que elas diriam muito mais do que só aquela imagem ou palavra. Acho que foi nesse momento que eu percebi minha força criativa, meu poder artístico se manifestou e aí começou tudo.

 

Artes urbanas em prédios ao lado do Minhocão

Uma de suas famosas frases, estampada em prédios do minhocão (Giulianna Iodice)

 

Versatille: De sua janela, do Minhocão, são milhares de fotos clicadas. Conte um pouco sobre essa “coleção”. 

Felipe Morozini: A coleção de fotos das janelas e varandas chama-se Um Lugar ao Sol. Ao longo de 20 anos, eu registro as rotinas e os hábitos. Na verdade, é a tentativa de um diálogo com pessoas que talvez eu nunca conheça e de criar novas narrativas a partir de imagens. Se eu gosto de contar histórias, nada melhor do que, por meio da fotografia, conseguir desenvolver milhares delas. 

 

Versatille: Como é a concepção de suas séries de fotos, desde o conceito até o clique final?

Felipe Morozini: Eu não tenho um processo formal na criação das imagens. Sempre foi muito orgânico, bem para o lado criativo, de sentir as coisas e tentar materializar. Eu gosto de pensar que materializo sonhos, desejos, e isso que é a expansão do pensamento e das ideias. 

 

V: Qual é a importância da presença da arte nas ruas das cidades? 

FM: Eu acredito que a importância da arte nas ruas das cidades é extremamente positiva, pois ela introduz questionamentos. Eu gosto de falar que causa um ruído na nossa rotina ordinária, transformando por vezes em algo extraordinário. Gosto de pensar que a arte de rua questiona, dialoga, abraça e transforma. Estou ciente do poder de ressignificação de uma cidade através da arte. 

 

O artista e fotógrafo Felipe Morozini em sua casa

O artista e fotógrafo Felipe Morozini em sua casa (André Porto)

 

V: Quais são suas atuações atuais? O que o satisfaz em cada uma delas?

FM: O meu campo de atuação atualmente é desenvolver trabalhos de arte ou criativos que possibilitam novas reflexões e novos diálogos. Desde trabalhar com órgãos públicos, como a Secretaria de Cultura, até grandes marcas. O que mais gosto e me satisfaz é esse desafio, de enxergar arte em tudo, de ver tudo com outros olhos e praticar. Eu consigo exercer uma infinidade de projetos, pois me interesso por todos eles. Sou um supergeminiano, acho que tem a ver com essa minha necessidade de busca de novos assuntos. É uma constante evolução do pensamento.

 

V: Como enxerga o futuro dos espaços urbanos? Acredita que ocorrerão muitas mudanças, sejam elas positivas ou negativas, na cidade de São Paulo?

FM: Eu sempre falo que vejo o futuro do espaço urbano como um realista otimista. Eu não sou mais um otimista como era há dez anos, mesmo porque a realidade e os fatos do nosso mundo atual não permitem que você também sonhe. Temos de lidar agora com uma realidade, com os fatos mesmo. Eu acho que irão acontecer altas mudanças, já estão acontecendo, não sei se para melhor ou pior. No médio prazo, acho difícil o poder público ver questões que estão arraigadas há tanto tempo. Se penso também que a arte transforma uma cidade é através do seu lado social, de introduzir assuntos até então desconhecidos da maioria das pessoas, por meio de um jeito democrático.

 

V: Quais são seus projetos atuais?

FM: Tenho alguns. Eu sou o artista convidado da Casa Cor de 2021 de São Paulo [começa no dia 21 de setembro deste ano], vou fazer uma megainstalação visual chamada Uma Luz no Fim do Túnel. Muito em breve irei espalhar minhas frases em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, ação que está me dando um prazer enorme, e estou bem focado. Também irei entregar um curso que gravei para a Domestika [plataforma de cursos criativos], eu vou dar aula de fotografia criativa e inspiracional. É isso!

 

Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 121 da Versatille

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