Aos 150 anos, o Hôtel du Cap-Eden-Roc, no sul da França, exala história e cultura em suas dependências

No portfólio da Oetker Collection desde 1969, o hotel foi criado por um intelectual com o objetivo de ser um refúgio costeiro para mentes brilhantes

O hotel em 1920 (Arquivo histórico)

Entre as tantas fotos antigas do Hôtel du Cap-Eden-Roc, que outrora era chamado de Grand Hotel du Cap, uma delas se destaca ao nos transportar aos primórdios da hospedagem, momento em que foi criada para ser um oásis de paz, onde artistas e escritores poderiam relaxar e aliviar a pressão provocada pelas demandas criativas constantes. Na imagem, de roupa de banho e cartola, o escritor americano Ernest Hemingway, autor do clássico O Velho e o Mar, aproveita o sul da França ao lado de Anita Loos, a primeira roteirista de Hollywood.

 

A famosa foto de Ernest Hemingway e Anita Loos (Arquivo histórico)

 

Não se sabe ao certo a data de tal registro, mas estamos livres para imaginar os cenários por trás dele: talvez essa estadia tenha sido responsável pelo fim de um bloqueio criativo importantíssimo, capaz de dar origem a uma das grandes obras escritas por Hemingway ou Anita. Ou, quem sabe, de forma menos fantasiosa, essas férias tenham simplesmente significado um momento de paz entre noites maldormidas, um tanto comuns na vida de escritores.

 

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O conceito da hospedagem, como se pode imaginar, também partiu da mente de um intelectual: Hippolyte de Villemessant, jornalista francês e fundador do jornal Le Figaro, que em 1863 decidiu criar um refúgio costeiro seguro para mentes brilhantes. Com uma ideia poética, mas sem tantos recursos, Villemessant construiu uma mansão na comuna Cap d’Antibes, uma quase ilha entre Nice e Cannes, ao sul de Antibes e a leste de Juan-les-Pins, na paradisíaca Côte-d’Azur. O local não era bem uma hospedagem. Foi batizado como Villa Soleil e podia ser desfrutado pelos intelectuais pelo tempo que desejassem.

 

Sem dinheiro para investir em melhorias, em pouco tempo o jornalista acabou vendendo a propriedade a aristocratas russos, que a transformaram em um hotel de luxo e a reabriram em 1870 como Grand Hotel du Cap. Logo no verão seguinte, aconteceu a Guerra Franco-Prussiana, seguida pela Grande Depressão. Em meio a tantas crises, o hotel foi fechado e permaneceu assim por quase duas décadas, quando finalmente, em 1887, foi comprado e renovado pelo hoteleiro italiano Antoine Sella.

 

Reinaugurado em 1889, o hotel chegou a sofrer dificuldades financeiras nos primeiros anos de funcionamento – algo que foi solucionado com a ajuda do político britânico Lord Onslow, que investiu na modernização da propriedade, valorizando os seus 22 acres com a construção da lendária piscina de água salgada esculpida em rocha basáltica, que faz sucesso até hoje. Em uma fase promissora, após tantos percalços, o local começou a atrair cada vez mais a alta sociedade.

 

Na década de 1920, Gerald e Sara Murphy, americanos ricos e expatriados que eram conhecidos por um círculo social vibrante repleto de artistas e escritores, alugaram o hotel por um verão inteiro. Um evento único para a época, já que a Riviera Francesa não era um destino de verão, mas sim um refúgio de inverno para os ricos.

 

Com o casal, diversos nomes de peso chegaram à região, incluindo F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway (que provavelmente foi fotografado ao lado de Anita Loos nesse período). O local chegou a ser fonte de inspiração para o Hôtel des Étrangers, escrito por Fitzgerald no romance Suave É a Noite.

 

Jogos aquáticos de 1925 (Arquivo histórico)

 

Mesmo com a morte de Antoine Sella, em 1931, o hotel continuou em sua guinada para o sucesso. Nas mãos de seu filho, André Sella, recebeu figuras como a família Kennedy, Marlene Dietrich, Pablo Picasso, o duque e a duquesa de Windsor, Winston Churchill, Charles de Gaulle, Elizabeth Taylor e Richard Burton. Com o passar dos anos, também se tornou um ponto de referência das estrelas de cinema durante o Festival Anual de Cinema de Cannes.

 

O despertar da atenção da família Oetker

 

Dizer que a hospedagem exala história e cultura em cada centímetro de sua construção não é exagero. Talvez essa seja a razão para o despertar do amor à primeira vista que Rudolf-August e Maja Oetker sentiram ao navegar pelo Mediterrâneo e passar pela bela mansão, em 1964. O interesse foi imediato, mas a compra do hotel aconteceu apenas cinco anos depois. André Sella queria vender o imóvel para alguém que desse continuidade à tradição familiar e preservasse o espírito da hospedagem. Após uma conversa com o casal, criou-se uma relação de confiança e respeito, que resultou na aquisição.

 

Em 1969, Rudolf-August Oetker tomou posse e iniciou uma nova fase para o Grand Hôtel du Cap. Foram anos de restaurações necessárias a fim de compatibilizar o espaço com as expectativas modernas de conforto. Em 1987, a hospedagem tornou-se oficialmente Hôtel du Cap-Eden-Roc. Um novo nome, mas com a essência intacta. Desde então, anualmente, as áreas do imóvel passam por inspeções e possíveis reformas para o melhor acolhimento possível de seus hóspedes.

 

O rooftop do restaurante, a piscina infinita e o mar do sul da França (divulgação)

 

Hoje, o hotel conta com 188 quartos e suítes espalhados por três prédios: o prédio principal; o Pavilhão Eden-Roc, à beira-mar; e o Les Deux Fontaines. A propriedade possui também três vilas particulares: a Sainte-Anne, de cinco quartos; a Eleana, de três quartos; e a Les Cèdres, também de três quartos. Todas têm acesso às áreas de lazer e contam com o serviço personalizado do hotel.

 

Embora possua uma ótima localização, que propicia passeios pelo sul da França, o Hôtel du Cap-Eden-Roc também é ideal para quem busca aproveitar o conforto da hospedagem. Há piscina com borda infinita, cabanas privativas com espreguiçadeiras de frente para o mar, spa e três restaurantes – além das diversas opções de bares.

 

Após 150 anos de história, com algumas pausas e crises no meio do caminho, a propriedade vive um momento de ouro por conseguir equilibrar pilares muito importantes da boa hotelaria: a hospitalidade, a manutenção da história e a preservação da cultura local. Mais do que um oásis de paz, o edifício fincou a sua imagem como um dos maiores tesouros da Riviera Francesa.

 

Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 135 da Versatille

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