Muitos Nordestes: Gustavo Narciso
O diretor-executivo do Instituto C&A veste peças do Ateliê Mão de Mãe, integrante da plataforma Nordestesse
Brasil, país de dimensões continentais e que abriga uma pluralidade de culturas única, o cenário perfeito para a efervescência de mentes criativas fazerem o que fazem de melhor: criar. Mesmo com tantos talentos, marcas passam despercebidas, muitas vezes pela falta de olhar para determinadas regiões.
LEIA MAIS:
- Muitos Nordestes: Carollina Lauriano
- Muitos Nordestes: Gabriel Gontijo
- Muitos Nordestes: Luanda Vieira
A plataforma Nordestesse, fundada por Daniela Falcão, promove uma curadoria cautelosa e fomenta e divulga o trabalho de empreendedores oriundos dos nove estados nordestinos, apoiados em cinco pilares: moda, design, artes visuais, gastronomia e hotelaria. Sem cair nos clichês, marcas demonstram seus DNAs por meio do design autoral e do resgate de tradições, saberes e matérias-primas – caso das labels presentes no editorial: as baianas Adriana Meira e Ateliê Mão de Mãe, a cearense Açude e a potiguar Depedro. Os convidados Carollina Lauriano, Gabriel Gontijo, Gustavo Narciso e Luanda Vieira posam em fundos coloridos, esbanjam personalidade nas peças e discorrem sobre a importância da moda brasileira e de seus desdobramentos.
Gustavo Narciso é diretor-executivo do Instituto C&A, braço social da gigante do varejo no Brasil, que visa a fortalecer comunidades brasileiras por meio da moda. Formado em engenharia bioquímica, iniciou sua trajetória na indústria fashion em 2015, quando foi contratado pela companhia como consultor de processos e projetos. Hoje, define-se como um “intra-ativista” no mundo corporativo ao propor novas possibilidades no mercado.
Versatille: Qual é a função da moda para você?
Gustavo Narciso: Acho que a moda, além de uma ferramenta de expressão, que é quase o óbvio, é um instrumento de transformação. A moda é o primeiro mecanismo de que as pessoas começam a se valer quando decidem tomar grandes atitudes. Por exemplo, quando as pessoas transgêneras mudam de gênero, elas começam pelas roupas. Quando a gente decide se empoderar por alguma razão, seja no trabalho, seja no relacionamento ou na família, também começamos pela roupa. A roupa tem grandes símbolos na nossa vida. Quando nascemos e saímos do hospital, quando nos casamos… então eu acho que ela tem esse lugar, esse poder de transformar realidades e as atitudes das pessoas.
V: Como você se expressa pela moda?
GN: Hoje, depois de sete anos trabalhando com moda, eu tento sempre traduzir o meu mood e humor por meio da maneira como me visto. Mas sempre procurando buscar e propagar uma moda mais responsável e sustentável. Eu trabalho em uma cadeia de varejo que democratizou a moda na década de 1980 e 1990, e tem uma coisa que eu sempre falo, que é a necessidade de a gente democratizar também essa moda mais sustentável, o que parte de outro lugar. Eu tento fazer coerência com meu discurso ao vestir marcas e me expressar por meio de pessoas, iniciativas e negócios que estão trazendo essa narrativa.
V: Como você se conecta com a marca Ateliê Mão de Mãe?
GN: Primeiro, eu me conecto muito porque o ateliê vem de um território que para mim é bastante significativo, que é Salvador. A gente costuma falar que é a meca afro-brasileira. E é também um lugar de muita valorização do trabalho manual. O Brasil não valoriza esse tipo de trabalho. A gente vê o crochê e a renda ainda como se não merecessem o valor de outros saberes. Quando eles conseguem chegar às melhores passarelas do Brasil, como na São Paulo Fashion Week, e as pessoas têm a oportunidade de admirar e valorizar, é a subversão dessa ordem. Isso é um pouco do meu propósito hoje, dentro do que eu trabalho, então acredito que tem total conexão com a marca.
V: O que a moda brasileira tem de único?
GN: Acho que têm vários “Brasis” no Brasil. Há vários “Brasis” em São Paulo, o que dirá vários “Brasis” no Brasil. A gente tem até outras expressões de arte além da moda que trazem a possibilidade de fazer essa mistura e isso ficar muito belo esteticamente. Acho que isso nos faz conseguir fazer uma moda única e agora também chamar a atenção do mundo para o que estamos criando aqui dentro.
LEIA MAIS:
V: Complete a frase: em um mundo ideal, a moda seria…
GN: Degenerativa.
Por Laís Campos
Fotos: Muraca
Tratamento de imagem: on retouch
Styling: Raoni Vieira
Assistente de styling: Sarah Fialho
Assistente de set: Luiza Borges
Maquiagem, grooming e hair: Bruno Nascimento
Convidados: Carollina Lauriano, Gabriel Gontijo, Gustavo Narciso e Luanda Vieira
Matéria publicada na edição 125 da Versatille