Semana de Moda de Paris: referências icônicas são destaque nas passarelas
Off-White, Dior e Saint Laurent estão entre as grifes que se inspiraram em peças e códigos emblemáticos no desenvolvimento das coleções
No dia 28 de março iniciou a temporada de Outono/Inverno 2022/2023 da Semana de Moda de Paris, que se estenderá até o dia 8 deste mês. O evento, sempre aguardado, é ainda mais relevante por ter predominantemente desfiles físicos pela primeira vez desde o início da pandemia. Em meio a tempos difíceis por conta da guerra na Ucrânia, a atmosfera única de uma fashion week presencial pode ser resgatada.
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Felizmente, as transmissões ao vivo, que se popularizaram na pandemia, continuam adotadas por todas as grifes da edição. Assim, as apresentações das coleções podem ser acessíveis também ao grande público que não circula no evento. Entre os destaques da temporada, estão as marcas Off-White, Christian Dior, Saint Laurent, Balmain, Christian Louboutin, Rick Owens, Coperni e Roger Vivier, que levaram aos espectadores uma surpresa marcante, seja por meio de referências iônicas, ou performances artísticas.
Confira, a seguir, detalhes sobre os shows de cada grife.
Off-White
O último desfile da Off-White em que o saudoso Virgil Abloh teve interferência direta, realizado no dia 28 de fevereiro, celebrou a forte identidade cultural pop do designer. O show foi iniciado por um menino de terno branco que atravessou o local carregando uma faixa impressa onde estava escrito um dos slogans favoritos de Abloh: “Questione tudo”.
Na primeira parte da apresentação, o foco foi o sportswear com a abordagem inclusiva que o designer sempre defendeu, como uma alternativa para o que ele via como a tendência inerente à moda de exclusão. Havia desde peças superbufantes e calças cargo com bolsos gigantes, até roupas com multiperfurações. Na segunda parte, modelos como Naomi Campbell, Cindy Crawford, Valletta, Kendall Jenner, Gigi e Bella Hadid desfilaram peças high fashion compostas por tecidos como tule, tafetá e radzimir.
Christian Dior
No desfile da Dior, que aconteceu no dia 1 de março, a icônica Bar Jacket, que representa o revolucionário New Look, foi o grande destaque. A famosa silhueta acinturada foi apresentada em diferentes versões, como em um modelo no qual o preenchimento que moldou a barra original apareceu como um detalhe na parte externa da jaqueta. A estrutura que se assemelha a um dispositivo de flutuação foi fruto de uma parceria com a empresa de inovação italiana D-Air Lab, especializada na fabricação de roupas e acessórios de proteção para alpinistas, esquiadores alpinos, motociclistas e astronautas.
A colaboração resultou em tecidos que regulam temperatura, umidade e transpiração, bem como estruturas que alteram silhueta e mobilidade, ajudam no controle térmico e sapatos com tiras antitorção, de estética futurista.
Saint Laurent
Para a coleção de outono/inverno 22 da Saint Laurent, também apresentada no dia 1 de março, o diretor criativo Anthony Vaccarello se inspirou na paixão do fundador da marca pelo Art Déco. Foram exibidos saias longas e vestidos mais básicos, uma nova proposta de silhueta com ombros marcados e uma linha fina e alongada, além de braceletes enormes e grossos. A paleta de cores monocromática luminescente foi essencial para destacar casacos e jaquetas de pele falsa, de aparência luxuosa.
O desfile se encerrou com uma impressionante reformulação do icônico “Le Smoking” de Yves Saint Laurent, apresentado pela primeira vez em 1966 com uma blusa transparente e uma calça masculina. A combinação sinalizava uma mudança na forma como as mulheres poderiam se vestir a partir de então, visto que na época, muitos estabelecimentos proibiam a entrada daquelas que usavam calças.
Balmain
No dia 2 de março, o diretor criativo Olivier Rousteing apresentou a mais nova coleção da Balmain, inspirada em suas experiências pessoais de empatia, força, luta e vulnerabilidade, decorrentes de um acidente sofrido por ele no ano passado. Na passarela, as histórias se materializaram em roupas com muitas cores claras, materiais delicados e construções estruturadas, que se assemelham a escudos e roupas de proteção, reforçando alguns dos códigos da Maison, como os ombros marcados e o trabalho com tapeçarias.
Houve especulações se as peças continham algum tipo de inspiração na guerra na Ucrânia, mas Rousteing negou a possibilidade: “Eu gostaria muito que a mensagem por trás dos designs da coleção de Outono 2022 da Balmain não tivesse se tornado tão relevante e oportuna. Nossas coleções masculinas e femininas — que centralizam a necessidade de conhecimento, honestidade e transparência para combater mentiras, ódio e agressão — podem parecer inspiradas pelas manchetes ansiosas da semana passada. Mas, é claro que uma reação tão rápida, não teria sido possível. Eu e minha equipe estamos desenvolvendo esses designs há meses e nossa passarela estava quase 100% concluída antes que os inacreditáveis cenários e imagens começassem a dominar os noticiários e pesadelos”, declarou o designer.
Christian Louboutin
A nova coleção de Christian Louboutin foi apresentada ontem por meio do espetáculo de dança “The Loubi Show”, realizado no L’Espace Niemeyer, um espaço de 3 mil metros quadrados concebido na década de 1970 pelo arquiteto favorito do designer, Oscar Niemeyer. O palco circular no centro da sala, coberto com cortinas de prata transparente, bem como o jogo de luzes e reflexos, realçaram a paisagem totalmente branca. Ao redor, os assentos cilíndricos combinam com o piso vermelho, a cor mais icônica do universo de Christian Louboutin.
Realizado por nove bailarinos ecléticos e instintivos, o espetáculo de dança contemporânea foi imaginado como uma homenagem a um dos primeiros sonhos de Christian Louboutin, o de desenhar sapatos para bailarinos. A linha da grife destacou dois temas-chave da coleção: a cápsula Greekaba; e novas interações da bolsa Carasky. O primeiro é inspirado nas aventuras pessoais do designer por Atenas e pelas ilhas Cíclades da Grécia e também por Miss Tependris, personagem fictícia imaginada por Konstantin Kakanias, artista grego e amigo de Christian. Já nas novas versões das bolsas Carasky, o foco são pedras preciosas e coroas.
Rick Owens
Rick Owens se inspira há um tempo no conceito da máquina de neblina particular e portátil para ditar o clima em suas passarelas avant-góticas. No desfile da grife realizado ontem, o equipamento apareceu como uma “versão modernista brutalista” de um incensório – objeto litúrgico utilizado para queimar incenso em cerimônias religiosas de igrejas cristãs -, descrita pelo designer na temporada de outono passada. O efeito foi de uma atmosfera mística: modelos seguravam os dispositivos do tamanho de uma lancheira lançando a neblina.
Entre os looks apresentados, estavam vestidos esculturais e prateados com o glamour da Velha Hollywood, mantos dramáticos que recaíam sobre vestidos de denim canelados e parkas grandes e volumosas. Também apareceram silhuetas sinuosas e combinações de cores como amarelo mostarda com menta e laranja com ferrugem. Uma curiosidade é que as máquinas de neblina estarão disponíveis para compra, mas a marca ainda não divulgou quando ou onde serão vendidas, nem quanto custarão.
Coperini
A onda de sucesso da série da HBO Max, Euphoria, parece ter impactado também os designers Arnaud Vaillant e Sébastien Meyer, que compõem a força criativa por trás da marca parisiense de prêt-à-porter Coperni. Para a coleção de outono de 2022, a dupla levou os espectadores aos emblemáticos corredores do ensino médio por meio de armários cinzas que circundavam a plateia. Não à toa, Vaillant e Meyer decidiram explorar a fonte da juventude em busca de inspiração. “Queremos vestir a nova geração”, declarou Vaillant ao veículo Russh.
A coleção contou com peças de alfaiataria como paletós que cobriam a cabeça (como o véu utilizado por freiras), casacos de lã com capuz, trench coats com um corte central que deixava a barriga à mostra, além de luvas que confirmam a tendência mais forte da temporada. A icônica Coperni Swipe Bag, que também teve uma participação especial em Euphoria, apareceu no desfile em um modelo cromado e outro de cristal. Por fim, o contraste de tons escuros com tons pastéis, revelavam as faces de revolta e pureza da juventude.
Roger Vivier
Para a apresentação da coleção de Outono 2022, o diretor criativo da Roger Vivier, Gherardo Felloni, homenageou o savoir-faire (técnica) da grife, ao mostrar aos convidados um pouco do processo de fabricação de calçados – que incluem diferentes formas, saltos, bordados e joias. Segundo o designer, o título da apresentação foi “Confidencial” porque a ideia era justamente mostrar o que há por dentro da marca.
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O icônico salto Choc, que Felloni chama de “obra-prima”, é a peça central do novo Choc Feathers Pump’, adornado com penas, e o grande destaque da temporada. Há também a bolsa de edição limitada Viv’ Choc, na cor rosa neon. Como de costume, o diretor criativo combinou seu amor pela música, design e teatro ao criar salas de apresentação distintas, que abrigavam um buffet de sala de jantar, os bastidores de um cabaré e um “corredor de pernas” bastante glamuroso, com sapatos que exibiam cristais e pérolas.