Luxo hereditário: conheça a história de três produtos icônicos de grifes
As experiências de vida traduzidas em objetos são o que tornam os modelos das grifes únicos
Nesta seção de clássicos de luxo, a Versatille elencou três ícones de diferentes grifes que representam experiências de vida traduzidas em objetos. Conheça as trajetórias dos baús da Goyard, sapatos de Christian Louboutin e Big Pilot’s Watch, da IWC.
Baús, da Goyard
Desde sua criação, por François Goyard, em 1853, a grife se destacou na arte da personalização de malas, baús e artigos de luxo. Originária da região da Borgonha, a família Goyard especializou-se no transporte pluvial de madeira, por ter feito parte dos “Compagnon de Rivière” (Amigos do Rio, em tradução livre), uma associação de transportadores de madeira pelos rios. Os membros montavam e deslocavam troncos em formato de balsa das florestas de Morvan até a periferia de Paris.
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François herdou a experiência na prática ancestral da marcação para a identificação da lenha flutuante. A fim de facilitar esse processo, cada tronco era sinalizado com o selo de seus proprietários, os quais geralmente eram famílias aristocráticas com brasões (conjunto de figuras, peças e ornatos que compõem o escudo de famílias nobres, soberanos e corporações) complexos. Além do aspecto estético, a marcação também era extremamente sólida para resistir às exigentes condições de transporte.
Foi com muita naturalidade que François adaptou a prática ao universo da grife e, especificamente, à arte da personalização dos itens de luxo. Desde iniciais até faixas e coroas, os artistas da Goyard desenvolveram ao longo do tempo um conhecimento único que alia delicadeza na execução com criatividade na escolha e definição dos elementos e cores. A marcação é realizada totalmente a mão nos artigos já acabados e sempre com pigmentos naturais. As normas e padrões estéticos, por sua vez, são rigorosamente respeitados.
Entre os aficionados pelas bagagens da Goyard estão inúmeras personalidades de destaque em diversas áreas: o marajá da cidade indiana Kapurthala, o grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia, o escritor e médico britânico Arthur Conan Doyle, famoso por suas histórias sobre o detetive Sherlock Holmes, os atores Sarah Bernhardt, Sacha Guitry e Gary Cooper, Estée Lauder, Coco Chanel, o duque e a duquesa de Windsor, as famílias Rockefeller e Rothschild são alguns dos clientes célebres que fazem parte do histórico da grife.
Sapatos, de Christian Louboutin
Christian Louboutin adora desenhar sapatos femininos desde os 12 anos de idade. Nascido em Paris, ele cresceu cercado por três irmãs e uma compreensão inata do mundo feminino. Mas foi no início de sua adolescência, como estagiário na casa de shows Folies Bergères, que se tornou obcecado pelo papel do sapato na definição de uma silhueta. Para o estilista, o acessório pode mudar a maneira como a mulher anda e se move e alongar a perna de uma forma que cria magia, ilusão, desejo.
Ao longo de sua trajetória, Louboutin também estagiou na Charles Jourdan, fabricante de calçados da Dior, e atuou como assistente pessoal do ilustre designer de calçados Roger Vivier, escultor de formação e que lhe apresentou a simbiose mágica entre o design e o artesanato. Após um breve período longe dos desenhos de moda, trabalhando como paisagista, ele arriscou o destino e abriu sua primeira butique no fim de 1991, uma loja modesta na Rue Jean Jacques Rousseau (Paris), que segue em funcionamento.
Em 1992 nasceu, de um fato cotidiano, a icônica sola vermelha, sua assinatura inconfundível. O designer contemplava em sua mesa um protótipo insatisfatório de um sapato, enquanto sua assistente polia as unhas dela. Subitamente, ele agarrou o frasco de esmalte e pintou toda a sola de um vermelho vivo e laqueado. O gesto espontâneo diz muito sobre o estilista e sua marca.
Hoje, Christian Louboutin é uma grife independente, o que permite ao designer permanecer instintivo e livre para criar. Tudo evolui a partir de encontros casuais e suas viagens, que resultam em colaborações emocionantes. Louboutin trabalhou com artesãos no Butão, Senegal, México e com artistas como Dita von Teese, o fotógrafo David Lynch e até o cantor Mika, o que o levou a desenvolver sua primeira coleção masculina, em 2009.
“Aonde quer que eu vá, há sempre um jardim para ver, um museu, uma igreja, um mercado, um concerto, uma obra de arquitetura – mesmo em lugares que parecem desprovidos de interesse. Tento ver onde os outros não olham. Alegria, consciência e surpresa – para mim, essa é a combinação perfeita para criar”, afirma o designer.
Big Pilot’s Watch, da IWC
Nenhum outro modelo da IWC Schaffhausen é tão reconhecível quanto o Big Pilot’s Watch. Com sua impressionante coroa cônica, uma pulseira com quatro pinos e um mostrador organizado e de fácil leitura, ele se tornou um ícone atemporal.
Sua história começou aproximadamente na virada do milênio. Sob o comando do então diretor Günter Blümlein, a equipe do projeto “Big Pilot’s Watch – Mark XXI” trabalhou incessantemente a fim de desenvolver um novo relógio para pilotos. A intenção não era apenas refletir a herança da marca na produção de instrumentos robustos e confiáveis para o cockpit, mas também apontar um novo caminho em direção ao futuro do relógio. Em abril de 2002, a IWC revelou o Big Pilot Ref. 5002, com 46,2 milímetros de diâmetro, 15,2 milímetros de altura e peso de 150 gramas.
A começar pelo calibre 5001, os segundos centrais e as dimensões de um relógio de bolso, tudo sobre o modelo impressiona. Para a família do calibre 5000, a IWC reintroduziu o engenhoso sistema automático de Albert Pellaton. O mecanismo sofisticado usa os mínimos movimentos do rotor em qualquer direção para enrolar a mola principal, sendo excepcionalmente eficiente. Essa foi a primeira vez que um movimento automático da IWC também veio com uma reserva de marcha de sete dias.
O design funcional no estilo de um instrumento de cockpit e de fácil leitura foi inspirado no relógio Big Pilot Calibre 52 T.S.C, lançado em 1940. Com seu diâmetro de 55 milímetros, esse instrumento de observação militar ainda é o maior relógio de pulso já feito pela IWC. A coroa de grandes dimensões era outro detalhe em comum entre o moderno Big Pilot e seu ancestral histórico, de modo a permitir que os pilotos ajustassem seus relógios mesmo usando luvas de voo acolchoadas.
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Na parte externa, o relógio Big Pilot sofreu apenas pequenas mudanças desde 2002. O 9, por exemplo, desapareceu do mostrador e os numerais foram ligeiramente modificados. A aparência, entretanto, sempre permaneceu fiel a seu DNA puro e utilitário. Já o mecanismo dentro da caixa tem evoluído com o passar dos anos. Em 2021, a IWC continua a escrever a história de sucesso do “Projeto XXI” com o lançamento do Big Pilot’s Watch 43, que apresenta um mostrador com apenas três ponteiros e mais nenhum elemento adicional. Sua caixa de 43 milímetros de diâmetro é muito mais ergonômica e democrática, para os pulsos masculinos e também femininos.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 121 da Versatille