Ano novo, ideias velhas: como fugir dessa equação?
É só decidir mudar o rumo das coisas e tentar algo novo que uma voz crítica e amedrontada aparece para nos fazer duvidar de nossas competências. Que voz vale a pena ouvir?
A cada fim de ano, entramos num circuito mental e emocional inevitável. Não adianta fugir. Não há onde se esconder. Desligue o celular, vá para uma ilha deserta e… sua maldita mente começa a tortura. Do nada, uma voz dentro de sua cabeça começa a cobrar: “E aí, o ano está acabando e você aí, nessa vidinha…”.
Dá vontade de esmurrar a própria cara. Como ousa questionar a sua vida? Você se arrebentou trabalhando, cumpriu metas, aguentou “malas”, engoliu “sapos” e sobreviveu. Agora, aparece essa vozinha para atormentar. Passada a raiva inicial, você começa a dar razão a ela. “O que foi que eu fiz que realmente queria fazer?” Nada! “O que fiz de diferente?” Nada!
Viu? Você precisava escutar essa voz de vez em quando. E ela não para: “O novo ano está aí. Vai continuar a fazer o que sempre fez? A ler o que sempre leu? A ir aos mesmos lugares, andar com as mesmas pessoas, conversar as mesmas conversas? E espera que seja melhor? Estúpido! Se fizer o que sempre fez, terá o resultado que sempre teve”.
É óbvio o que ela diz. Tão óbvio que a gente não percebe. Para que o novo ano traga alguma novidade, de fato; para que seja próspero e cheio de realizações, e, principalmente, para que eu seja uma pessoa melhor, só tem um jeito: deixar que seja realmente novo. Fazer algo inédito, ir a lugares menos conhecidos por mim, conversar com pessoas diferentes sobre assuntos idem. Alargar os mapas, expandir, conhecer, desbravar, arriscar.
Aí vem a p***a da voz de novo: “Ah! Agora o herói da autoajuda, o auto-coach existencial vai desbravar o mundo assim? De peito aberto? Nenhum medinho? Não acha que com essa sua incompetência genérica você vai se ferrar feio?”. Eu tinha de dar razão à porcaria daquela voz. Ela podia estar certa. Como é que eu iria me meter em novas situações sem ter competência para isso? É a receita do fracasso.
Só que daí não dá para conciliar os dois conselhos da tal voz. Ou não estou mudando o suficiente ou, se mudar, eu me dou mal. E não adianta nada perguntar a ela. Em geral, a resposta vem assim: “O problema é seu, vire-se!”.
Foi aí que um raio caiu no meio de meu crânio. Uma luz celestial apareceu e descobri o que deveria fazer nesta virada de ano. Ouvir menos aquela voz irritante e crítica e seguir mais a minha intuição, que, além de acertar muito, costuma ser silenciosa, me sinalizando os caminhos pelos sentimentos, e não pela gritaria.
Gostei tanto disso que passo adiante. Bom começo de ano! Que seus caminhos sejam doces, iluminados, harmônicos e alegres, cheios de escolhas e aprendizados. Carpe diem.
CARPEDIEM por Nelson Spritzer – Diretor da consultoria Dolphin Tech e especialista em neurolinguística | Matéria publicada na edição 114 da Revista Versatille
Imagem: escadarias em Calpe, na Espanha, de Ben Moore (Reprodução Instagram / @bemorephotos)