Como são feitas as canetas Montblanc?

Ou: como nasce uma estrela? Visitamos a fábrica, em Hamburgo, para acompanhar o processo de feitura das famosas – e poderosas – canetas da marca

Uma longa fita de ouro, encaracolada em um rolo com cerca de 8 kg. Esse é o ponto de partida da fabricação de um dos maiores ícones da história do luxo: as canetas-tinteiro da Montblanc. Sim, de cada cintilante rolo dourado saem milhares de penas, o elemento mais importante dos famosos instrumentos de escrita da marca alemã. Essa foi a primeira surpresa – de várias! – que a reportagem da VERSATILLE teve ao visitar a fábrica da Montblanc, em Hamburgo, para entender como são produzidas as canetas mais desejadas do mundo.

 

A sede fica em um edifício de quatro pisos, cuja entrada principal reproduz a fachada do primeiro prédio da Montblanc, na região industrial de Hamburgo, no início do século 20. Em 1906, três empreendedores alemães apaixonados por canetas de pena decidiram desenvolver os próprios instrumentos de escrita. Juntos, criaram uma caneta-tinteiro que não vazava, a Simplo Safety Fountain. Em 1909, levaram o conceito de “caneta segura” ainda mais longe com a Rouge et Noir, com pena retrátil e tampa rosqueável, totalmente à prova de vazamento.

 

Em 1913, a estrela branca tornou-se a marca registrada da grife. Na verdade, ela é o desenho do topo nevado do Mont blanc, a montanha mais alta da Europa, visto de cima, e simboliza o comprometimento da marca com a mais alta qualidade de produção. O sucesso da empreitada levou ao desenvolvimento de novas tecnologias de escrita e ao aperfeiçoamento dos instrumentos, como um sofisticado sistema hidráulico para aprimorar a fluidez da tinta. Em 1924, foi lançada a Meisterstück, até hoje o modelo mais famoso da marca, produzido com resina preciosa preta, detalhes revestidos de ouro e pena de ouro feita à mão – a versão 149 é considerada um ícone de estilo e tecnologia da escrita.

 

A clássica em edição especial: Meisterstück Le Petit Prince Doué Classique Fountain Pen, da Montblanc, é inspirada n’O Pequeno Príncipe

 

Seguiram-se mais lançamentos, muitas coleções, novas tecnologias… E o resto é história. Muito dessa trajetória está exposto em um museu no prédio da fábrica da Montblanc em Hamburgo. O espaço reúne fotos, documentos, quadros e peças que contam uma boa parte da história da marca. A cereja do bolo, porém, são as salas onde estão expostas canetas das coleções limitadas como as Writers Editions, edições dedicadas a escritores famosos, de William Shakespeare a Ernest Hemingway, por exemplo.

 

Chegou a hora de conhecer o coração da fábrica, onde são manufaturadas as penas. Se você pensou em um ambiente com máquinas barulhentas e trabalhadores em uniformes man chados, temos novidade: o amplo espaço está mais para um ateliê de artesãos muito focados em seu trabalho, com tudo bastante organizado, onde as (poucas) máquinas mais pesadas ficam praticamente isoladas em salas envidraçadas. Em um dos cantos, estão os tais rolos de fitas de ouro, cuidadosamente armazenados em prateleiras de madeira e identificados pelos tipos (14 ou 18 quilates, por exemplo).

 

Essas valiosas tiras passam por 35 etapas nas mãos dos artesãos, e posteriormente mais 70 etapas, até virarem penas perfeitas para compor os instrumentos de escrita. Antes de tudo, as tiras entram em uma máquina estampadora, de onde saem as penas – o ouro que sobra no processo é derretido e transformado em novas tiras. A partir daí cada pena segue o seu destino: a fábrica produz dezenas de estilos de pena, em formatos e composições variados. Algumas são de ouro maciço; outras, de ouro com ródio (um metal platinado).

 

Uma caneta Montblanc em ação | Reprodução/Instagram

 

Depois disso, os artesãos botam a mão na massa, executando o corte no meio da pena, gravando e soldando a ponta da peça com uma combinação de metais, como irídio, ródio ou ósmio. Essa etapa é crucial para a durabilidade da pena, que ganha resistência à abrasão. O acabamento da peça é dado por meio de um polimento muito preciso, para garantir que, quando acoplada ao instrumento de escrita, ela deslize facilmente pelo papel.

 

A fábrica tem um departamento de testes, onde os técnicos se dedicam a rabiscar papel o dia todo. Eles escrevem em diferentes ângulos, aplicando a pressão da mão com forces diversas e sentindo se a caneta apresenta o desempenho desejado. E como cada pessoa tem uma pegada muito individual na hora de escrever, a Montblanc mantém quatro padrões de espessura de pena, que vão de extrafina a larga.

 

A empresa também oferece um serviço de customização de pena, que pode ser feito nas butiques da marca. Com uma caneta-tinteiro especial em mãos, o cliente escreve algumas frases em uma superfície sensível. O sensor capta padrões de escrita, como velocidade, pressão e rotação, e indica o melhor tipo de pena para aquele jeito de escrever. É um item feito sob medida, que fica pronto em menos dois meses – e soma 1.400 euros no preço final. Segundo o especialista da fábrica, já foram executados mais de 700 pedidos nos últimos cinco anos.

 

Lançamento edição limitada: a Heritage Rouge et Noir Serpent Marble Fountain Pen tem design inspirado nos anos 1920

 

Finalmente, chegamos à ala ainda mais nobre do universo Montblanc: o Artisan Atelier. O departamento, com 62 funcionários, dedica-se à criação de edições limitadíssimas, os designs exclusivos e os moldes para peças sob encomenda. Lá já foram feitas canetas-tinteiro que custavam acima de 1 milhão de euros. Como a edição limitada em homenagem ao imperador Kangxi, da China, uma verdadeira joia, cravejada de diamantes, com tampa de jade, pena de ouro com um dragão gravado nela e inscrições secretas com a caligrafia do próprio imperador.

 

Em resumo, não importa a peça que saia daquela fábrica de sonhos – de uma esferográfica mais acessível a uma joia feita sob medida para um xeique: todas terão em comum a estrela branca que brilha soberana no topo de qualquer Monblanc.

 

Ícone por Junior Ferraro | Matéria Publicada na edição 113 da Revista Versatille

 

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