Virgil Abloh

Um olhar afro-americano para o luxo francês Anunciada oficialmente em março, a contratação do estilista afro-americano Virgil Abloh como novo diretor artístico do prêt-à-porter masculino da Louis Vuitton vem causando burburinho no mercado. Além de ser

Um olhar afro-americano para o luxo francês

 

Anunciada oficialmente em março, a contratação do estilista afro-americano Virgil Abloh como novo diretor artístico do prêt-à-porter masculino da Louis Vuitton vem causando burburinho no mercado. Além de ser o primeiro descendente de africanos a assumir esse posto na grife francesa, Abloh vem do seguimento streetwear, profundamente influenciado pela cultura pop, pela arquitetura urbana e o comportamento jovem.

 

Não parecia, portanto, o candidato mais óbvio. É de supor, então, que a sua entrada na Maison tenha razões que vão muito além da já conhecida dança das cadeiras que frequentemente chacoalha as casas de luxo tradicionais — sobretudo quando os lucros começam a declinar.

 

Para alguns especialistas do mercado de moda, a contratação demonstra a urgência das grandes grifes em se renovar e estar alinhadas ao comportamento jovem — ficando mais casuais e antenadas com a moda de rua. No competitivo mercado atual, somente ter história e tradição, não basta.

 

“Estamos vendo isso acontecer com várias marcas de luxo”, diz Luiz Mazzilli, consultor de estilo e moda, que cita a Balenciaga e a Gucci como exemplos de grifes que vêm se rendendo à irreverência como proposta de estilo. “Abloh deverá trazer um ar mais jovem para a Louis Vuitton”, aposta o consultor. Isso poderá se comprovar (ou não) em junho, quando a primeira coleção do estilista será apresentada durante a semana de moda masculina em Paris.

 

Outro ponto que pode ter contado a favor da escolha de Virgil Abloh pela LV é a crescente influência que a cultura afro-americana vem exercendo no universo fashion, sobretudo no segmento masculino, que, segundo especialistas, vem ganhando um estilo “sexy”. Vale lembrar que ainda são poucos os designers de ascendência africana atuando nas grandes casas francesas. Entre eles, estão Ozwald Boateng, da Givenchy, e Olivier Rousteing, que está desde 2011 na Balmain. Nenhum deles, no entanto, tem a responsabilidade de tocar uma linha dentro da marca que dá nome ao conglomerado LVMH.

 

Criador da grife streetwear Off White, em 2013, Abloh chamou a atenção do mercado fashion ao ser o único americano finalista do concurso LVMH Prize, para jovens estilistas, em 2015. Mais recentemente, o estilista foi premiado na categoria Urban Luxe do British Fashion Awards e como Designer Internacional do Ano pelo concurso GQ Men of the Year. Antes da consagração, foi estagiário na Fendi e, em 2009, teve um misto de galeria de arte com loja de moda masculina, em Chicago (a RSVP Gallery). No mesmo ano, começou a trabalhar com o rapper Kanye West e chegou a ser o diretor de arte da turnê “Watch the Throne”, de Kanye e Jay-Z. Antes da Off White, lançou a Pyrex Vision. Hoje, veste celebridades como Bella Hadid, Kim Kardashian, Beyoncé e Nicole Kidman.

 

Defensor de um streetwear de qualidade, Abloh já declarou a intenção de sofisticar o segmento, indo na direção oposta ao do fast-fashion com peças de alfaiataria de caimento impecável. Sempre aberto a parcerias espertas, fez colaborações para grifes como Nike, Jimmy Choo, Moncler, Levi’s e até com a fabricante de móveis e decoração Ikea.

 

A facilidade com que transita no universo do co-branding parece ter sido outro fator que impressionou a direção da Louis Vuitton: recentemente, a Maison francesa fez uma bem-sucedida coleção cápsula em parceria com a Supreme, grife americana de skatewear. Novas parcerias como essa, pelo jeito, estão no radar da LV.

 

Filho de imigrantes de Gana, nascido em Rockford, Illinois, em 1980, Abloh acumula títulos: é artista, arquiteto, engenheiro, diretor criativo, designer e até DJ. Depois de se formar em engenharia civil na Universidade de Wisconsin Madison, ele cursou arquitetura no Instituto de Tecnologia de Illinois, cujo currículo foi criado por ninguém menos do que Mies van der Rohe (declaradamente, um de seus objetos de estudo). Foi aí que aprendeu não apenas sobre os princípios do design modernista, mas também sobre o conceito de trabalho multidisciplinar — um de seus trunfos com criador.

 

“É uma honra aceitar essa posição”, declarou Abloh, no comunicado oficial emitido pela Louis Vuitton. “A herança e a integridade criativa da Maison são inspiradoras e procurarei referenciá-las enquanto traço paralelos com os tempos modernos”, adiantou o designer.

 

Michael Burke, chairman e CEO da Louis Vuitton, declarou que vem acompanhando com grande interesse o trabalho de Virgil Abloh, desde quando trabalharam juntos na Fendi, em 2006. “A sua criatividade e postura disruptiva o fez muito relevante não apenas para a moda, mas para a cultura pop”, afirma Burke. “A sua sensibilidade em relação ao universo do luxo e o seu savoir-faire serão fundamentais para levar a linha masculina da LV para o futuro.” E o futuro parece ser jovem e com estilo streetwear.

 

Persona por Vanessa Barone | Matéria publicada na edição 104 da Revista Versatille

 

 

 

 

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