O Brasil das oportunidades
Fico imaginando que se o Brasil tivesse tomado a decisão de investir no setor confeccionista brasileiro — estrategicamente, como há anos tomou para setores específicos, que nos levou a ter empresas como Embraer, Vale do
Fico imaginando que se o Brasil tivesse tomado a decisão de investir no setor confeccionista brasileiro — estrategicamente, como há anos tomou para setores específicos, que nos levou a ter empresas como Embraer, Vale do Rio Doce, Petrobras, citando algumas somente — estaríamos seguramente em uma posição de destaque mundial.
Somos um país confeccionista. Todas as regiões brasileiras possuem confecções. O investimento nesse setor poderia ter tornado o Brasil uma potência competitiva mundial. A mão de obra brasileira quando devidamente treinada entrega resultados impressionantes. Como não admirar o trabalho que vem sendo feito atualmente por marcas de moda como Martha Medeiros, por exemplo, usando uma mão de obra artesã? Como não admirar o nível de serviços em destinos como Ponta dos Ganchos e Kenoa, que tem o indivíduo como a interface dessa relação? Ou até mesmo o trabalho aclamado, inclusive internacionalmente, da marca de cama, mesa e banho Trousseau?
Marcas e produtos brasileiros feito por brasileiros.
E há ainda o case mundial das Havaianas, respeitada não somente pela marca prestigiosa, mas acima de tudo por entregar um produto de qualidade inquestionável. Sim, nós no Brasil podemos.
Agora imaginem se esse movimento tivesse sido estrategicamente desenhado pelo Brasil como a Itália fez com suas confecções e a França com seu relevante investimento em setores como beleza e moda.
Poderíamos ter surpreendido o mundo com a nossa moda praia! Ninguém no mundo consegue criar o que criamos e, principalmente, criar uma coleção inteiramente focada em moda praia. Isso é nosso. Talento nosso. A Hering poderia ter sido a GAP da América Latina.
O país que é o maior produtor e exportador mundial de café e laranja, por exemplo, não conseguiu criar nesses produtos, marcas competitivas no cenário internacional. O americano toma o café brasileiro elogiando o café como colombiano. O Brasil exporta o produto e a Colômbia exporta além, a marca. A marca de suco americana Tropicana usa muita laranja brasileira, mas não temos uma marca. Isso sem falar do açaí. O mundo está in love com o nosso açaí. Mas o mundo não consome marcas de açaí brasileiras.
São tantas oportunidades perdidas ou não desenvolvidas. Tantas, que fico inquieto. E o mesmo acontece com o jeans brasileiro. O Brasil é um país “jeanszeiro”. Em todos os cantos desse país continental há uma confecção não boa, mas extraordinária de jeans. Caimento, modelagem e lavagem impecáveis. O Brasil domina o denim. Domina. Mas, não temos uma marca brasileira que domina o mundo.
Quando a Levi’s tinha domínio mundial, no Brasil a marca nunca teve mais do que 10% de market share. Quando a Diesel surpreendeu o mundo com produtos e marca, a equipe de criação e design da mesma, na Itália, tinha muitos brasileiros compondo.
O NY Times há alguns anos publicou um artigo na sua poderosa revista dominical dizendo que os jeans brasileiros eram capazes de fazer com que os homens americanos olhassem “bunda” e deixassem apenas de considerar “seios”. Isso é um elogio e tanto.
Como não ficar fascinado com marcas do passado como Philippe Martin, Company, Inega, Forum e Zoomp? Marcas como Ellus e a poderosa do momento Damyller?
O Brasil das oportunidades perdidas, poderia ser também entendido e percebido como pais das oportunidades que poderiam ser desenvolvidas. Será que ainda temos esse tempo? Definitivamente, sim!
Negócios do Luxo por Calor Ferreirinha Fundador e Presidente da MCF Consultoria | Matéria publicada na edição 93 da Revista Versatille