5 marcas de moda que estão criando peças com resíduos marinhos
As marcas brasileiras têm se responsabilizado pela preservação dos oceanos e aderido à produção a partir de resíduos marinhos
Não é novidade que a sustentabilidade tem sido uma das principais norteadoras da moda nos últimos tempos. Diferentes estratégias para preservar o meio ambiente são adotadas, como o upcycling (reaproveitamento de objetos antigos para a criação de um novo produto), economia circular (que se obtém o lucro sem precisar extrair componentes da natureza) e, em particular, a utilização de resíduos marinhos para confeccionar peças.
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Não à toa, essa é uma forma de revigorar aos poucos o ecossistema que, segundo um relatório do grupo Ocean Conservancy em parceria com a consultoria McKinsey, recebe cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano.
O movimento já despontou no exterior com o lançamento de linhas de grandes marcas produzidas com plástico retirado do oceano. A Adidas, por exemplo, lançou em 2016 um tênis feito de plástico reciclado recolhido das águas marinhas em parceria com o Parley the Ocean, grupo de ambientalistas que busca conscientizar sobre a poluição dos mares. Atualmente, a colaboração já se estendeu para a criação do Prime Blue, um material reciclável de alta performance feito parcialmente de Parley Ocean Plastic, material criado por meio de resíduos plásticos de ilhas remotas, praias e comunidades costeiras reaproveitados.
Já Stella McCartney, é adepta ao uso do Econyl, tecnologia criada pela empresa italiana Aquafio. Redes de pesca, retalhos de tecido, carpetes e plásticos encontrados em aterros sanitários e oceanos são recuperados e submetidos a um intenso processo de regeneração e purificação, o que faz os resíduos de nylon voltarem à sua pureza original e se transformarem em nylon virgem. A Burberry, por sua vez, lançou em 2019 uma coleção-cápsula produzida com o Econyl.
As marcas brasileiras também têm se responsabilizado pela preservação dos oceanos e aderido à produção a partir de resíduos marinhos. Veja a seguir empresas de roupas, sapatos e acessórios que se destacam nesse tipo de confecção.
Urban Flowers
O lançamento mais recente da marca de calçados Urban Flowers é a coleção Rede Invisível, com peças feitas com redes de pesca coletadas nas praias de Florianópolis (SC). Após um desenvolvimento de dois anos, a empresa criou o modelo Mule D’água, que tem o material aplicado de forma artesanal sobre um cabedal (parte superior do calçado, que cobre o pé) branco.
Segundo a marca, o projeto surgiu como um chamado para a ação, chamando atenção para o problema da poluição dos mares e um dos caminhos para solucioná-lo. A cada minuto é descartada uma tonelada de redes de pesca, além dos outros resíduos marinhos. A organização não-governamental Animal Protection estima que as redes de pesca abandonadas são responsáveis pela morte de mais de 136 mil animais marinhos por ano. O objetivo da coleção é inspirar mais pessoas e transformar o material em uma rede de cooperação em busca de uma solução.
Reorder
A Reorder nasceu como uma marca com o intuito de mostrar que é possível inserir resíduos marinhos no mundo da moda. Com o tempo, ela começou a ganhar o perfil de movimento. Sob comando da fundadora Isabela Veronezzi, a equipe passou a resgatar redes de pesca em Santa Catarina e trabalhar com tecidos diferentes, como Econyl, reciclagem de garrafas PET e outros biodegradáveis.
Assim, surgiram oportunidades para lançar collabs com outras marcas, fornecendo materiais e ajudando na idealização das peças. Entre as empresas parceiras estão a carioca Lenny Niemeyer e as norte-americanas Bossa Concept e NC underclothes.
JAB x Revela
Outra parceria voltada para a reciclagem é entre a marca de moda masculina JAB e a Revela, focada em preservar o planeta por meio da reciclagem de velas náuticas. As duas criaram uma coleção exclusiva de jaquetas quebra-vento, com confecção artesanal. As velas utilizadas na fabricação das jaquetas foram doadas para a Revela por barqueiros e velejadores de Ilhabela, litoral norte de São Paulo.
Todas as peças adquiridas são entregues em mochilas confeccionadas com resíduos marinhos e contam com um certificado de autenticidade e um QR code, que leva à história do barco ao qual cada vela pertencia antes de tornar-se a matéria-prima das jaquetas. “O grande diferencial está na exclusividade de cada peça que apresenta cores, marcas e detalhes criados pelo tempo e pelo uso da vela”, comenta Paulo Tavares, diretor da JAB.
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UMA
A UMA, marca consolidada no mercado de moda nacional há mais de 20 anos, lançou em julho de 2020 a UMA X: uma linha sustentável liderada por Vanessa Davidowicz, primogênita de Raquel Davidowicz (fundadora e designer da UMA). A coleção traz peças genderless feitas a partir de tecidos inovadores e ecológicos como o Econyl. A UMA foi a primeira marca brasileira a aplicar essa tecnologia em seus produtos após um processo minucioso que garantiu certificação para o uso.
Todos os produtos da linha trazem algum tipo de informação ou inovação sustentável como economia de água no processo de acabamentos, procedimentos biodegradáveis e diminuição de matéria-prima virgem e substâncias químicas. Como uma forma de gerar mais transparência, esse conteúdo está nas etiquetas de cada peça, indicando sua origem, fornecedor, certificação e demais elementos sobre os materiais.
Zerezes
Criada em 2012, a Zerezes nasceu com o propósito de criar um projeto com impactos socioambientais positivos, sem abrir mão da importância do design e identidade visual do produto. No início, os óculos eram feitos de madeiras reaproveitadas encontradas nas rua do Rio de Janeiro, depois passaram a ser produzidos a partir de acetato (um tipo de plástico) e serragem reciclados.
Em dezembro de 2019, entretanto, a marca inovou ao lançar uma coleção limitada de óculos na cor de chiclete, tom das típicas listrinhas dos canudos de plásticos, que representavam em 2017 o terceiro item mais encontrado nas praias do Brasil, segundo um levantamento da ONU Meio Ambiente em parceria com o Instituto Ecosurf. Cada par de óculos da linha idealizada em parceria com a designer Juju Lattuca demandou 35 canudos descartados.
Por Laís Campos e Mattheus Goto